Tuesday, April 29, 2008

Corpos em acção

Desde os rituais dos povos primitivos, até aos dias que correm, a dança sempre esteve presente na vida do homem, quer em acontecimentos sociais, ou religiosos. Antes mesmo de comunicar com palavras, as pessoas já se expressavam através de movimentos corporais, por isso a dança é considerada a mais antiga das artes. O percurso começa com a ideia de gostarmos de nos mexermos, e o desejo secreto de experimentarmos o espaço de uma forma totalmente corpórea. No fundo torna-se numa maneira diferente de nos olharmos a nós próprios, e aos outros. O universo do bailado é um processo criativo que coloca em palco músicos e bailarinos com corpos de perfeição física, que com a colaboração de um coreógrafo, através de sequências de tempo e espaço estabelecidas a um determinado ritmo, nos proporcionam um conteúdo narrativo, por mais vago que seja. O virtuosismo dos intérpretes depende muito do trabalho do gesto, da coordenação da expressão artística, e dos movimentos mutáveis explorados pelas suas possibilidades motoras, capazes de expressar todos os seus sentimentos, emoções, e alegrias.

Thursday, April 24, 2008

Liberdade





«… Liberdade, essa palavra
Que o sonho humano alimenta
Que não há ninguém que explique
E ninguém que não entenda …»


Cecília Meireles

Educação e leitura

Ontem, dia 23, comemorou-se o Dia Mundial do Livro e do Direito do Autor. Instituído pela Unesco em 1995, a data visa atrair a atenção das pessoas para um dos meios de transmissão de conhecimento mais eficazes. Editores, escolas, centros culturais, organizações de autores, e bibliotecas prepararam-se para celebrar este dia, em todo o mundo. A nossa biblioteca Municipal de Albufeira não foi excepção e organizou um teatrinho, remetendo-nos para Johannes Gutemberg - um joalheiro conhecedor da arte da construção de moldes, e da fundição de ouro e prata, que no século XV cria uma Nova Arte de impressão, com caracteres móveis. Em 1448 regressa de Estrasburgo, onde estivera a aprender a arte gráfica, a Mainz - sua cidade natal, à beira do Reno, com o sonho de compor uma Bíblia - processo que se iniciou em 1450, e que só terá terminado cinco anos mais tarde. Chamaram-lhe a bíblia de 42 linhas, toda ela com letras góticas, assemelhando-se as suas ilustrações, ainda que em miniatura, aos vitrais das imponentes basílicas da cristandade. Até então, os livros eram escritos à mão, por monges, alunos e escribas, demorando cada um deles infindáveis meses a ser preparado, o que tornava o preço elevadíssimo, e inacessível à maioria das pessoas. Na altura, a nova arte de os imprimir terá provocado indignação, pois, para muitos, o livro que não saía da tinta de um monge escriba, transformava-se numa força subversiva, capaz de abalar a fé, e de reduzir a autoridade da igreja. Quem diria!?

Monday, April 21, 2008

À volta dos livros


A 1ª. sessão terá servido para aguçar o apetite. Na seguinte, fui encontrar mais gente ainda. Desta vez fomos contemplados não com um, mas sim dois oradores, que nos falaram um pouco mais, sobre Gonçalo M. Tavares – o escritor do momento, e o que mais prémios arrecada, uns a seguir aos outros. Assim, Ana Isabel Soares deslocou-se de Faro, da Universidade do Algarve, onde lecciona, e na sequência do que teria sido já dito anteriormente, veio dar-nos a sua opinião das pequenas histórias «dos senhores», associando-as a outras obras literárias, que o autor terá decidido reescrever, com o intuito de lhes encontrar um seguimento diferente, ou um outro epílogo. Segundo a mesma, não passariam de esboços, dos quais as ilustrações são aliás disso exemplo. Analisando novamente o Sr. Valéry, de quem quase me sinto já íntima, afinal ele não passa do resultado de um exercício mental, construído debaixo de um raciocínio lógico, que deambulará entre o romance e o conto, e a imagem e a narrativa.
Outra perspectiva veio dar-nos o Sandro, que nos chegou com um entusiasmo contagiante, do grupo de teatro Gaveta, de Portimão, onde terá encenado duas peças deste autor, com quem julgo ter tido já o privilégio de travar conhecimento. Volta a falar-nos no seu rigor, na disciplina e no método, nas infindáveis horas dedicadas à leitura, e na sua enorme capacidade de trabalho. E como se isto por si só não bastasse, ideias nunca lhe faltam, e a partir do inconsciente, foge aos moldes tradicionais, acabando por nos surpreender, com estas deliciosas personagens de contornos surrealistas, que mais não passam de ensaios, num bairro tão imaginário, como inexistente.
Para casa trouxemos Água, cão, cavalo, cabeça, dos livros pretos, de violência evidente, e que lhe terá valido o grande prémio de Conto Camilo Castelo Branco em 2006. No próximo dia 16 de Maio, às 21,30h, voltarei a estar presente na Biblioteca Municipal de Albufeira, para o derradeiro encontro, anterior à presença do autor, e aprender um pouco mais. Mal posso esperar!

Wednesday, April 16, 2008

A voz

A voz vive da arte dos sons, da colocação das sílabas, da combinação de fonemas, e dos sentidos de cada um. A linguagem é o território ao qual pertencemos, e dela pode depender a eficácia de um discurso, dum compromisso de honra, dum grito de protesto, ou do eco que permanece, após declarações mais polémicas. Cada voz tem a sua estrutura rítmica, a sua cadência, e tom próprio, que nos distingue uns dos outros. Sendo ela um dos veículos de transmissão de mensagens, considera-se o dia mundial da voz, um dos acontecimentos internacionais mais importantes, da área da otorrinolaringologia. A ideia desta ocasião é exactamente dar-lhe visibilidade, e sensibilizar, para que as pessoas cuidem melhor das suas vozes, através de cuidados simples, como prevenção de saúde. Além de implicar dinâmica, por parte de quem escuta, também é dela de que frequentemente nos fazemos valer, quando muitas vozes juntas acabam por, por vezes, fazer toda a diferença.

Sunday, April 13, 2008

Coroada de êxito


A última tertúlia deste ano lectivo, acabou de ter lugar, na nossa universidade sénior. Sempre esfusiante, a Zizi conseguiu trazer uma nova vitalidade, e sob um impulso isolado, soube aliciar-nos, através da sua aula de jograis, mobilizando-nos para uma outra dimensão lúdica. O convidado desta sessão foi o notável Dr. Manuel dos Santos Serra, que amavelmente se disponibilizou a conversar sobre a realidade dos seus livros. Médico, e amante de poesia, falou de forma incansável, saltando de tema em tema, ao mesmo tempo que percorria cada meandro, da teia da sua vida. Afinal, não somos senão aquilo que nos lembramos.
Após a pausa de férias, a viagem continua, com outros protagonistas, mas sempre sob o estilo próprio da Zizi, que na dianteira, assim vai tomando conta, e bem, dos dias de cada um de nós.


Wednesday, April 9, 2008

À margem


Uma das minhas memórias de infância tem a ver com banda desenhada. O meu pai que era poliglota mandava vir de fora livros aos quadradinhos, da Amazon daqueles tempos, e quando chegavam sentava-nos ao colo, todos empoleirados uns nos outros, traduzindo-nos do inglês aquelas pequenas histórias absolutamente originais, que na altura ainda não tinham chegado a Portugal, e faziam as nossas delícias. Devo confessar que o Bolinha, a Luluzinha, o Careca, a Aninha, o Alvinho e todo aquele pequeno grupo de crianças ali retratadas, que em nada tinham a ver com a nossa cultura, ou quotidiano, nos despertavam sorrisos, e por vezes as maiores gargalhadas. Tudo isto para demonstrar que o humor tem um só idioma, mas não só. Um dos episódios, que se repetia nas mesmas aventuras infantis com uma certa frequência, ao qual o meu pai achava particular graça, tinha a ver com o clube do Bolinha, no qual menina não entrava, de qualquer forma, ou jeito. E dali se desenrolava uma série de peripécias lideradas por aquela personagem única, trajando sempre o mesmo vestidinho encarnado, e cabelo aos canudos, de seu nome Luluzinha! Isto passou-se ficcionalmente há cerca de 50 anos atrás, e ainda hoje no Reino Unido a tradição se mantém com clubes de acesso exclusivo a homens! Transpondo para a nossa sociedade, e para a vida do dia a dia, decorridas todas estas décadas, também aqui, por vezes, sobretudo nos meios mais pequenos, distantes das grandes urbes, ou naqueles que crescendo depressa demais, não conseguiram que as mentes acompanhassem o ritmo do progresso, o ambiente será hostil, ou intimidativo. Ocasionalmente as mulheres ainda são postas de parte, ou as próprias se auto-excluem por falta de hábito, ou confiança nelas mesmas. Olhando para trás, e analisando a genialidade do criador da Luluzinha, reconheço que através da sua inteligência, e perspicácia em demonstrar que uma menina podia ser tão, ou mais esperta que qualquer rapaz, o autor fez dela uma figura ficcional, absolutamente pioneira do sexo feminino, na questão da igualdade de direitos!

Sunday, April 6, 2008

Charlton Heston 1924 – 2008



Aos 84 anos desapareceu a lenda de Hollywood Charlton Heston, que nos anos 50 e 60 se tornou famoso, em superproduções como Moisés, Miguel Ângelo, El Cid, ou Ben-Hur, que lhe valeu o Óscar de melhor actor em 1959. Com porte atlético, traços marcantes, e um timbre de voz ressonante notabilizou-se principalmente em papéis heróicos.
Na década de 1960 utilizou a sua fama para defender causas relacionadas com os direitos humanos, tendo acompanhado mesmo Martin Luther King durante a Marcha pelos Direitos Civis a Washington, em 1963, usando uma faixa onde se lia "Todos os homens nascem iguais".

Friday, April 4, 2008

Martin Luther King 15.01.1929 - 04.04.1968


Legado de esperança – A sua missão, como a de tantos outros, foi espinhosa. A religião para ele não foi senão uma outra forma de política, e a partir de determinada altura, o seu martírio parecia anunciado. De ampliadas qualidades, e dimensão espiritual transcendente, sonhou em mudar o mundo, com um discurso que não chegou a esgotar. Construindo ilusões, através de uma linguagem realista, uma a uma foi alcançando as pessoas, com um efeito absolutamente demolidor. A utopia marcou-lhe o destino, e faz agora 40 anos que nos deixou, com uma réstia de ânimo entre mãos.

«O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons."

« ... Aprendemos a voar como pássaros e a nadar como peixes, mas não aprendemos a conviver como irmãos ... »

«Eu tenho um sonho. O sonho de ver os meus filhos julgados pela sua personalidade, não pela cor de sua pele.»

«Se eu soubesse que o mundo acabaria amanhã, ainda hoje plantaria uma árvore.»

Martin Luther King Jr

Wednesday, April 2, 2008

Na estante

Duzentos anos depois da sua 1ª edição, os livros de Hans Christian Andersen continuam a fascinar, e a fazer parte do imaginário das crianças de todo o mundo. Autor de contos e fábulas, inspirados no mundo de fadas e duendes, e na tradição popular da Dinamarca, são disso exemplo O Patinho Feio, O Soldadinho de Chumbo, A Pequena Sereia, além de outros clássicos. Neste dia do seu aniversário que se institucionalizou de Dia Mundial do Livro Infantil pretende-se ajudar as crianças a descobrir o prazer da leitura, e a destacar a importância do livro como aprendizagem para a vida, contribuindo para o seu desenvolvimento intelectual.
A busca de conhecimento através da leitura deveria tornar-se uma prioridade, a ser incrementada logo na infância. Uma boa altura para introduzir livros que mostrem outras realidades sociais e culturais, que incluam temas polémicos, que contenham ensinamentos geográficos, ou históricos, e que até abordem assuntos complexos. Ler é também um óptimo exercício para os pais, ou avós, que no papel de contadores de histórias podem estimular o hábito da leitura, ao mesmo tempo que criam laços afectivos mais estreitos.

Tuesday, April 1, 2008

Suster a esperança

Tal como há seis meses, hoje tivemos que lá voltar. Num instante, tirámos a radiografia, logo pela manhã. Depois inscrevemo-nos para a consulta, almoçámos com a Maria e a Vanda (nossas amigas de outras aventuras), que é sempre um prazer rever, e esperámos pela nossa vez. Enquanto aguardávamos, página a página fui consumindo todo o Senhor Valéry, ou o que dele restava. Apesar de franzino, e meio despistado, deixei-me cativar pela sua originalidade, e brilhante mente! Até as suas crises de fígado, o tornam divertido e um verdadeiro sobrevivente! Tal como nós, outros aguardavam também pela vez. Uma meia dúzia deles, para ser mais precisa, entre os quais uma estrangeira loira, que reconhecemos doutras sessões, que apenas vinha buscar um medicamento, com muita urgência. O marido, que desta vez não a acompanhava, esperava em Sta. Bárbara de Nexe, por algo que lhe minimizasse as suas 2, ou quando muito 3 últimas semanas de vida.
Felizmente que a sorte nos continua a bafejar, e se tudo correr bem até lá, só em Outubro regressaremos! A determinação, sem dúvida que nos ajudou a criar a autoconfiança necessária, para fazer face às situações mais complicadas, sem nunca perder contacto com a paz.