Há pessoas assim cuja existência, cuja carne é
matéria literária. Não falo já de qualidade. Falo, sim, da quantidade de poema
que há num corpo. Da combustão que é feita de palavras em lugar de oxigénio.
Falo daquele que, se não escreve, mata alguém. Daquele que não aceita um
aparelho de cognição capaz de o proteger com o vulgar conforto do real. Que se
educou para a alucinação. O que descreve o brilho intenso que há na noite e é,
no entanto, a fonte do fulgor, dessa fosforescência com que os mortos que o tocam,
de visita, o contaminam.