O inferno dos vivos não é uma coisa que virá a
existir; se houver um, é o que já está aqui, o inferno que habitamos todos os
dias, que nós formamos ao estarmos juntos. Há dois modos para não o sofrermos.
O primeiro torna-se fácil para muita gente: aceitar o inferno e fazer parte
dele a ponto de já não o vermos. O segundo é arriscado e exige uma tenção e uma
aprendizagem contínuas: tentar e saber reconhecer, no meio do inferno, quem e o
que não é inferno, e fazê-lo viver, e dar-lhe lugar.
Italo Calvino in As Cidades Invisíveis
trad. José Colaço
Barreiros -Editorial Teorema, 2002