Friday, February 6, 2009

À espreita

Na semana passada o Jornal de Letras celebrou a sua milésima edição, e como bónus oferecia uma colectânea de poemas, de alguns dos mais importantes nomes, da nossa poesia contemporânea. Por ser um livro fininho guardei-o na carteira, e só hoje, enquanto esperava pela minha vez, numa fila, dum irrelevante local, como são a maioria, tive a oportunidade de o folhear. Não sei quanto tempo aguardei, nem se fazia frio, ou calor, porque totalmente alheia ao que me rodeava, me deixei embevecer por aquelas pequenas pérolas. «Que/ serviria/ meu amor/ oferecer-te/ a rosa/ se dura/ a rosa/ pouco mais/ que o tempo/ em que te/ digo rosa» pergunta-me Rita Taborda Duarte no seu poema «Dedicatória». Para logo achar a sequência nas palavras de Maria Teresa Horta: «Deixo que venha/se aproxime ao de leve/ pé ante pé até ao meu ouvido/ Enquanto no peito o coração/ estremece/ e se apressa no sangue enfebrecido». Umas páginas adiante é Afonso de Melo quem se me dirige: «Abraças-me/ como se quisesses ver-te livre de mim». E logo a seguir é Pedro Mexia quem me deixa a pensar, quando diz: «O mundo talvez esteja fora do mundo, aí nos encontramos». Indecisa, volto ao início. «Há um mar imaginário aberto em cada página/ não me venham dizer que nunca mais/ as rotas nascem do desejo/e eu quero o cruzeiro do sul das tuas mãos/ quero o teu nome escrito nas marés/ nesta cidade onde no sítio mais absurdo/num sentido proibido ou num semáforo/todos os poentes me dizem quem tu és» desperta-me Manuel Alegre, com a sua voz de trovão. Quando com um safanão nas costas, oiço dizer: - Avança, é a tua vez!