Wednesday, December 31, 2008

O fim da linha

Na contagem decrescente para o final do ano, vou ser ousada trajando o meu vestido mais sexy. E, por uns instantes tentarei distanciar-me da crise, do conflito em Gaza, de tantas promessas sem concretização, do colapso económico, do sacrifício colectivo que aí vem para nos salvar, ou dos aumentos anunciados para o pão, ou a electricidade. E a cada badalada, e trago de um espumante Chardonnay, de boa estrutura e suave tonalidade, irei imperturbavelmente desdramatizar, concentrando esforços, para que em tempos de depressão, de oportunidade em oportunidade, novos projectos sejam abraçados, e passos alternativos me conduzam a uma outra vitalidade, que possa resultar em plena renovação.
Eu brindo a 2009!



Tuesday, December 30, 2008

Uma questão transparente

Quase no final do ano, e quando a crise é real, e demonstra o quão frágil somos,ganha-se uma certa desconfiança. Apesar das limitações, é urgente engendrar outro desfecho, agora que a nova verdade nos bate à porta. Ao percepcionarmos os outros, e a falta de afectividade, que cada vez menos existe entre nós, que esta tomada de consciência nos desperte a sensibilidade, para que a um outro ritmo, e de uma outra forma, seja possível transformar, reinterpretando o mundo.

Monday, December 29, 2008

Poesia de inverno

Meu coração busca as palavras de estio
Busca o estio prometido nas palavras


Sophia de Mello Breyner Andresen

Saturday, December 27, 2008

Narrativa heróica

Ela é Nicole Kidman, e ele Hugh Jackman, considerado pela revista «People», o actor mais sexy do mundo! Tanto, que irá ser o anfitrião da cerimónia dos Óscares, já em Fevereiro. Eles protagonizam o par romântico de Austrália - um épico que pela sua dimensão faz lembrar os grandes clássicos de outra era, com quase três horas de duração! O filme decorre no período que antecede a segunda guerra mundial, em lugares perdidos do vasto continente australiano, onde não falta romance, drama e aventura, falando-nos do relacionamento dos colonos ingleses com os aborígenes, e da magia da sua fábula mitológica. Eu já fui ver, e recomendo.

Thursday, December 25, 2008

Testemunho da luz

No refazer de experiências, que representam a vida, acolhemos neste dia um novo estímulo, e uma outra alegria. Quando tantas vezes, somos enganados, pelas luzes do mundo, eis que a chama viva nos traz proximidade, e nos abre caminhos de esperança, correspondendo às expectativas das nossas aspirações.
A todos os seus leitores, o Capricho deseja um feliz Natal.

Wednesday, December 24, 2008

Tuesday, December 23, 2008

Chama acesa

Num exercício de memória tentei recuperar outros Natais. O primeiro fora do país teve lugar em Londres nos anos 70, e ainda por cima a trabalhar, mas nessa altura a cidade era um verdadeiro fascínio, e uma porta que se abria para o mundo inteiro. O mais frio aconteceu em Illinois. Tão frio que fazia congelar os canos, sem se conseguir obter uma gota sequer de água corrente! No entanto, recordo-me da beleza dos dias a seguir a nevar, e sobretudo das árvores, que ao sol brilhavam como se fossem de cristal. No estado do Texas também apanhei neve em 76, e em 78 já noutra cidade, passei talvez o Natal mais quente de toda a minha vida!? Houve ainda um outro já na época de 90 na Ilha de Wight repleto de tradições britânicas. Mais recentemente, com os meus filhos crescidos, também celebrámos a maior festa do mundo na Georgia, sob amenas temperaturas. Mas, o que mais me traz à lembrança nesta época do ano, são os familiares mais chegados, que tendo já partido evocamos, e as vozes que ainda guardamos, além dos cheiros e receitas, que ano após ano tento reproduzir, inspirada nos incomparáveis sabores de infância.

Monday, December 22, 2008

Natividade

Aproveitei o fim-de-semana, para num rasgo criativo, por de pé a nossa árvore de Natal. Numa das caixas, que fui buscar ao alto duma prateleira, contendo alguns elementos decorativos, encontrei na tampa, com a minha caligrafia a data de 1984! Nessa altura tinham os meus filhos 5 e 3 anos respectivamente, e a vida era completamente diferente. Aos poucos, fui retirando algumas das decorações de então, que juntei às que adquiri este ano, e noutros ainda, entre a época de 80 e a presente. Para criar um espírito festivo, pus a tocar um cd de Natal, e entre uma bola cor de laranja, um sino em vidro, ou uma meia-lua dourada, que ia pendurando aqui e ali, quase sem dar por isso, fui também cantarolando ao som do Bing Crosby, e das Andrew Sisters. Mantendo a chama da inspiração acesa, em baixo coloquei o presépio, transformando-se num pequeno oratório, que ano após ano me sublima a fé e os sentidos, e me prepara interiormente para receber a luz.

Saturday, December 20, 2008

White Christmas

Friday, December 19, 2008

Despertar

É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.


Eugénio de Andrade

Thursday, December 18, 2008

No princípio

Primeiro que tudo houve o Caos e depois
a Terra de peito ingente, suporte inabalável de tudo quanto existe,
e Eros, o mais belo entre os deuses imortais,
que amolece os membros e, no peito de todos os homens e deuses,
domina o espírito e a vontade esclarecida.
Do Caos nasceram o Érebo e a negra Noite e da Noite,
por sua vez, o Éter e o Dia.
A Terra gerou primeiro o Céu constelado,
com o seu tamanho, para que a cobrisse por todo
e fosse para sempre a mansão segura dos deuses bem-aventurados.
Gerou ainda as altas Montanhas, morada aprazível
das deusas Ninfas, que habitam os montes cercados de vales.

Teogonia 116-130 de Hesíodo – Tradução de M.H. da Rochas Pereira, in Hélade 52

Wednesday, December 17, 2008

Livros habitados

Pela celebração do 4º aniversário da Biblioteca Municipal de Albufeira, assisti, ou melhor dizendo, participei com o resto dos espectadores, num espectáculo de entretenimento, de interacção com os actores. Num universo de livros, inventou-se um mundo de bichos, onde sons e palavras se murmuraram, improvisando-se em tom de humor subtil, e de grande dimensão expressiva. Estas criaturas que nos surgem das estantes, e praticamente de todo o redor, na escuridão e silêncio da noite, aos bocadinhos vão devorando tudo quanto é papel, causando total destruição. Esta interpretação do Bicho Papa-Livros, com produção do Teatro Pim, remeteu-me imediatamente para o museu do Instituto Central da Patologia do Livro, que há dois anos visitei em Roma.
A deterioração dos livros através do passar de anos, é muitas vezes acelerada por toda a espécie de factores químicos, quando estes se encontram demasiado expostos à humidade, luz, ou poluição, ou por agentes biológicos como o bolor, ou a infestação de insectos, como no caso. Porém, através dum notável processo de conservação e restauro, estes livros são literalmente salvos, sem prejuízo para a informação que contêm, e com a sua qualidade restabelecida. Uma acção que apesar de morosa se traduz em resultados absolutamente fantásticos. Se for a Itália não deixe de o ir ver, se não puder clique em
http://www.patologialibro.beniculturali.it/

Sunday, December 14, 2008

Reclamando um outro rumo

Quando o peso energético é cada vez mais carregado, e a aceleração do planeta evolutiva, causando muitas das actuais epidemias, convém fazermos algo com as informações que pouco a pouco adquirimos. As ondas magnéticas, as irradiações, a poluição orgânica, e as antenas que proliferam por todo o lado, constituem parte do problema. Se continuarmos a insistir neste processo de destruição, a Natureza continuará a reagir, e na pior das hipóteses a sua ira conduzir-nos-á à explosão final, dando início a uma nova era de sobrevivência, como reacção às nossas irresponsáveis atitudes. Segundo a Nicole, em mais uma das suas conversas, o poder divino só se alcança sem mentira, sem medos, em clima de total desapego, vivendo apenas com o essencial, e em pleno conhecimento.
Trabalhando, observando, sentindo e compreendendo, com a finalidade de evitar estragos, e consequentes futuras catástrofes, é o maior exemplo que podemos dar quer aos inconscientes, como a todos aqueles demasiado amarrados a determinadas filosofias de vida, que os condicionam. Tanto as crianças índigo, como as cristais são seres maravilhosos, muito mais evoluídos, cuja missão (nem sempre bem sucedida) é exactamente auxiliar-nos a descobrir uma nova verdade neste processo de crescimento. O reiki é outra das vias para nos curarmos a nós próprios, limpando-nos das acumulações que ao longo do passado semeámos. Através dele desenvolvemos as nossas capacidades, recebendo outros esclarecimentos, que nos permitem chegar aos outros em equilíbrio.
O poder divino, e o amor incondicional deste novo mundo, onde a energia irá fluir entre todos, só será alcançado quando o crescimento nos levar a outros níveis de consciência, traduzindo-se na harmonia plena.

Saturday, December 13, 2008

A abelha-mestra

Dona do seu próprio estilo, e de um enorme fôlego, ela salta obstáculos, e desenvolve como ninguém uma dinâmica de grupo. O seu espaço alterna entre o tertúliano, e o registo teatral. Em qualquer deles a Zizi congrega energias, e retira e dá prazer, pela sua ousadia e determinação, arriscando até final. Na longa travessia do deserto, onde a ausência de estímulos salta à vista, ela é voz discordante, e colocando as causas acima das tricas, acrescenta, belisca, e sobressaíndo-se exibe todo o seu criativo talento. Esta tarde, num encontro de vontades, em que ela me convidou a estar presente, e eu com o maior prazer acedi ao seu pedido, assisti aos dois teatros, o do «sol e da lua» e suas estrelinhas, e ao da «dança da vida», sem lugar para inocentes, cujos actores entram e saem das personagens criando jogos, em animado folhetim de traições, dum mundo que se reparte entre o imaginário e o real.

Ding dão ding dão dão
Ding dão ding dão dão
Estamos a festejar
ding dão ding dão dão…

Friday, December 12, 2008

Nostalgia da alma

Era meio-dia, e passava a ferro. Subitamente a tarefa é interrompida, para responder ao apelo, que me chegava do outro lado do mundo. Do interior da sua sala, ela desejava mostrar-me a neve, que às 6 da manhã inesperadamente precipitava. Com ambas as web câmaras ligadas emprestou-me o olhar, e da sua janela assistimos juntas à queda leve e singela de pequeninos flocos, que de forma intensa, se foram acumulando, como que por magia. Ainda há dois dias estavam 20 graus, e usava um vestido de alças, continuava ela, e desde a última ocorrência que há notícia, vinte anos passaram!? Porém, logo pela manhã, um manto branco cobria-lhe o horizonte, e servia de pretexto para encurtarmos distâncias, e nos voltarmos a unir. Na apatia dos dias, da estação mais fria do ano, o Natal chegou mais cedo para ambas, num exercício de contemplação conjunta, em genuíno sentimento de partilha entre mãe e filha.

Thursday, December 11, 2008

Harmonia interna


Quando a vida urbana se torna demasiado agitada, é lá que me refugio para libertar emoções, retemperar forças, e aproveitar o momento ao máximo. Agradeço à Célia (aqui retratada na fotografia), e a todo o staff das Piscinas Municipais de Albufeira, os agradáveis instantes, que me reduzem o stress, proporcionando-me uma inimaginável energia ao longo de todo o ano.

Wednesday, December 10, 2008

O deleite da água

Após o interregno dos feriados, e do campeonato mundial de natação de síndrome de down, reiniciei a rotina. Ao chegar, fui surpreendida pela majestosa árvore de natal à entrada, e pela farda dos funcionários, que num ápice, de laranja passou a azul!? O mergulhar na piscina, subitamente alivia-me das tensões, e faz esquecer-me um pouco dos problemas do dia-a-dia. Ao entrar no jacuzzi, alguém que me diz chamar-se Paula cumprimenta-me, e revela-me que uma dor insuportável lhe prende a perna, e que enquanto aguarda pela aula de hidroginástica tem esperança que «aquilo» lhe faça bem. Uma vez só, semi-cerro os olhos deliciada com o movimento e a temperatura da água, e deixo-me deslumbrar pela vista panorâmica, através do envidraçado que vai duma ponta à outra, de toda aquela enorme extensão. Do local onde me encontro vislumbro o topo das bancadas do campo da bola, e junto ao cantinho direito, as hastes superiores das bandeiras, que ao sabor do vento desfraldam. No centro, o meu olhar incide no avançar do casario, que em desenfreada e feroz corrida contra o tempo, engole o verde da paisagem, como se o amanhã não chegasse a existir. Dali entro no turco, onde o ambiente de penumbra e humidade tantas vezes me trouxe inspiração, além da amizade da Marta, que me é tão especial. Ao entrar na sauna, inverto a ampulheta num gesto ritual, que me impede perder-me no tempo. Já nos balneários, uma criancinha sem sotaque, cuja mãe é brasileira, faz uma birra infernal. Mas, após esta revigorante sessão, não há stress, nem nada que me perturbe. Daqui a dois dias estou lá caída outra vez.

Monday, December 8, 2008

Cedências

Oito da noite, numa avenida movimentada. O casal já está atrasado para jantar em casa de amigos. O endereço é novo, bem como o caminho que ela consultou no mapa antes de sair. Ele conduz o carro. Ela orienta e pede para que vire, na próxima rua, à esquerda. Ele tem a certeza de que é à direita. Discutem. Percebendo que além de atrasados, poderão ficar mal-humorados, ela deixa que ele decida. Ele vira à direita e realiza, então, que estava enganado. Embora com dificuldade, admite que insistiu no caminho errado, enquanto faz marcha-atrás. Ela sorri e diz que não há problema se chegarem alguns minutos atrasados. Mas ele ainda quer saber: - Se tinhas tanta certeza de que eu não estava a ir pela rua certa, devias ter insistido um pouco mais... E ela diz: - Entre ter razão e ser feliz, prefiro ser feliz. Estávamos à beira de uma discussão, se eu insistisse mais, teríamos estragado a noite!
MORAL DA HISTÓRIA: Inspirei-me neste facto, que recebi por e-mail, que por sua vez terá sido contado por uma empresária, no Brasil, durante uma palestra sobre simplicidade no mundo do trabalho. Aparentemente, ela terá usado este incidente do dia a dia, para ilustrar quanta energia nós gastamos, apenas para demonstrar que temos razão, independentemente de a termos ou não. Desde que ouvi este episódio, tenho-me questionado com mais frequência: «Quero ser feliz ou ter razão?»

Sunday, December 7, 2008

Ampliar visões

Qual a causa do permanente mau estar, nos dias que correm? Porque há sempre uma saída, e para tudo há solução, fomos ouvi-la em mais uma intervenção, para desvendarmos mistérios, e recolhermos testemunhos, de outro entendimento para o mundo. Viver experiências aprendendo com elas, e reconhecendo-as, passar a agir em plena consciência. E porque nada acontece por acaso, ao criarmos a nossa realidade individual convém acautelarmo-nos com as negatividades e toxinas, que por aí andam, que indesejavelmente nos poderão invadir as células. Se até aqui acreditava na existência do bem e do mal, enganou-se redondamente. Nesta perspectiva o que conta é tão-somente as energias. Neste caso a positiva denominada yin, e em oposição a negativa, à qual chamamos yang, representativas do princípio da dualidade. Ambas são os extremos da mesma energia. E porque estas fluem e até têm cores, fazem-nos vibrar os chacras, verdadeiros espirais de luz. No momento em que o planeta Terra se encontra em acelerada progressão, é preciso ouvir a voz interior, e seguir a nossa própria consciência, em vez de nos deixarmos influenciar pela dos outros. Segundo a Nicole, a aceitação faz parte da prática do crescimento, e a sua expressão máxima traduz-se no ser perfeito, que todos aspiramos um dia abraçar.

Friday, December 5, 2008

Céu de palavras


Era irreverente, poeta e letrista. O seu universo era de esquerda, e com a determinação de protestar, trouxe-nos na época de 70, uma visão anticonvencional da realidade. A palavra sarcasmo é uma rosa rubra/A palavra silêncio é uma rosa chá/Não há céu de palavras que a cidade não cubra/não há rua de sons que a palavra não corra/à procura da sombra de uma luz que não há. Com Nuno Nazareth Fernandes, Fernando Tordo e Paulo de Carvalho realizou parcerias famosas para canções não menos populares na boca de toda a gente, como os temas «Desfolhada» e «Tourada», vencedores dos concursos da canção da RTP. Em 1971, foi atribuído a «Meu Amor, Meu Amor», também da sua autoria, o grande prémio da Canção Discográfica. Meu amor meu amor/meu nó e sofrimento/minha mó de ternura/minha nau de tormento. Este mar não tem cura este céu não tem ar/nós parámos o vento não sabemos nadar/e morremos morremos/devagar devagar. O seu nome foi dado a um largo do Bairro de Alfama, descerrando-se uma lápide evocativa na casa da Rua da Saudade, onde viveu praticamente toda a sua vida. Deixou cerca de 600 textos destinados a canções, e inúmeros poemas que ainda nos dias que correm encontram um longo eco. Pela voz de Afonso Dias, animada de sentimentos humanos, aos quais já nos habituou, mergulhámos no íntimo de Ary dos Santos (1937 – 1984) num caloroso serão, de uma noite fria, na biblioteca municipal. Por mim ainda me sinto a cantarolar: - Parecem bandos de pardais à solta/Os putos, os putos/São como índios, capitães da malta/Os putos, os putos…

Wednesday, December 3, 2008

A janela da Rosinha

Sempre que comunicávamos ela dizia-me fazê-lo da cozinha. Quando o voltava a fazer, insistia novamente, para que não restassem dúvidas. Aliás, toda a sua existência parece girar em cerca dela. Contudo, apenas ontem compreendi porquê. Do ponto elevado onde esta se encontra, há uma rasgada janela debruçada para o mundo, donde dia a dia ela abraça todo o infinito. Dali, observamos a imensidão ofuscada pelo brilho do sol, e perdemos por completo a noção do tempo, que se desenrola lentamente, com variações melancólicas e serenas, de acordo com cada uma das estações. Distante do espartilho da cidade, e de tantas monstruosidades arquitectónicas, a serra de Monchique domina a paisagem, e reserva-nos espaço a sonhar. Mais além, formas abstractas saem da sombra salpicadas de luz, como se nos apontassem caminhos, e nos dissipassem incertezas. Ao lusco-fusco, quando a tarde se desfaz, parto ao som da cantilena dos pássaros, conseguindo imaginar o dia virando noite, e o manto escuro que em breve tudo cobrirá. Da próxima vez que lá for, atenta aos pormenores sem paralelo, na suspensão do tempo tentarei de novo ouvir o sussurrar da natureza, e sem nunca desviar o olhar partir em busca de outros horizontes.

Monday, December 1, 2008

Estilo de interpretação

A encenação da mulher das castanhas tem o seu interesse. Trabalha como num palco, agita o tacho; às vezes sacode-o para que as castanhas saltem, retira algumas com as mãos, queimando os dedos, chamuscando-os. Se alguém o solicita, vende as castanhas: as mãos tornam-se hábeis, esvoaçam para arrancar algumas folhas da lista telefónica, agitam-se para transformá-las num cone e nele embrulha as castanhas, meia-dúzia, uma dúzia, vinte. Quentinhas! Importa que, uma vez ou outra grite
- Quentinhas!
Com a sua voz quente de trovão, que o repita ainda, que sorria e pareça que fala sozinha.


Manuel Jorge Marmelo