Wednesday, October 31, 2012

Tuesday, October 30, 2012

Folhagens


Fito-a, repetidamente e com lentidão, em função do tempo. O efeito da luz vem acentuar o contraste das cores das folhas que, me cobrem o jardim. Por detrás da janela, recolho uma imagem reconfortante ao som do vento que, num murmúrio assobia.

Monday, October 29, 2012

Zona de lazer


A sincronia de movimentos causa-me bem-estar, enquanto a leveza do embalo, me convida à reflexão. À luz do tempo, identifico evocações e memórias, e estados de espírito ainda por decifrar. A tragédia da vida, o mal calculado, e o que nos baralhou as contas, silencia-me o espaço abstracto. Somente o rumor da brisa me ajuda a entender o quão se tem sofrido em conjunto. E, para o ano, o declínio prevê-se pior. Perturbante é a falta de opções, o negar de evidências e as expectativas logradas. No encandear de acontecimentos nada encarreira e tudo se esfuma. 

Sunday, October 28, 2012

Quando me lembro


se envelhecesses a meu lado, cedo perceberias
que nunca fui digno do teu rosto ou da tua ternura.
é isto que penso quando me lembro que partiste.

José Luís Peixoto in A Casa, a Escuridão

Saturday, October 27, 2012

A contagem dos tempos


Friday, October 26, 2012

Pedaços do mundo


À medida que avanço, entregue a errâncias, descubro-a. O local é mágico, pulsante de vida, e decido por a abraçar. Abraço uma árvore inteira e real. O seu porte é esguio, e as imperfeições acentuam-lhe o carácter. Capto-lhe os desabafos, sentimentos e posturas. E, busco-lhe a expressão poética sem excluir a transcendência.

Thursday, October 25, 2012

Os sinais de desânimo


Nem uma palavra. Reduzida a escombros, inanimada e frágil, a esperança nem sequer nos espreita e, simplesmente desapareceu. Não nos convida a viver sonhos, perdeu por completo o sentido de futuro, em suma, remeteu-se à sombra e, definitivamente, sem qualquer tipo de rasgo, desvaneceu. O que nos sustenta, sem direito às pequenas coisas? Desejamos que se apresse. Com uma nova vida. Recuperando o paraíso perdido, ou pelo menos, algumas vantagens. E, já que o tempo se esgota é urgente inspiração.

Wednesday, October 24, 2012

O perfeito equilíbrio


Tuesday, October 23, 2012

A cada gesto


Somos folhas breves onde dormem
aves de silêncio e solidão.
Somos só folhas e o seu rumor.
Inseguros, incapazes de ser flor,
até a brisa nos perturba e faz tremer.
Por isso a cada gesto que fazemos
cada ave se transforma noutro ser.

Eugénio de Andrade

Monday, October 22, 2012

Os dias a fio


Portadora de uma dinâmica, acedo a gestos recorrentes, retirando folhas e galhos, secos e pardos. Este processo é complementado com a poda. Num momento, quando tudo mais parece esvaziar-se, aqui me extasio. No meu jardim, a esperança persiste, e a presença das cores ainda detém o protagonismo. 

Sunday, October 21, 2012

Percursos




Um olhar mais atento, descobre cores inimagináveis. Sou daquelas pessoas que, se delicia, principalmente com a folhagem. Nesta altura do ano, é difícil idealizar melhor. Ao andar a pé uma série de quilómetros, ora debaixo de um sol abrasador, ou de chuva e lama, acompanhada do Rico, e de quem mais decide juntar-se-nos, as subidas inclinadas transformam-se, por vezes, numa verdadeira aventura física, quando a curiosidade se torna absolutamente relevante. É um infinito espaço aberto que se renova a si mesmo ganhando uma notória mudança de tonalidades.

Saturday, October 20, 2012

Ao compasso da vida


As frutas caem maduras pelo chão, e as árvores despem-se das folhas castanho-amareladas durante a brisa do meio da tarde. Sobrepostas, de todos os tamanhos e cores, são elementos integrantes de um novo ciclo vibrante e expansivo, onde tudo se afigura exacto.

Friday, October 19, 2012

Um mundo perfeito


Por estes dias, com o frio mais intenso e a chuva miudinha, começa a saber bem o conforto do lar ao fim do dia, e o aconchego de uma noite de sono tranquila, com um édredon macio ao toque, para espantar a crise.

Thursday, October 18, 2012

O apelo do palco


Wednesday, October 17, 2012

Em curso




Numa altura em que tanto sentimos a falta de esperança e previsibilidade, para alguns, torna-se mais fácil negar a realidade, traindo-a e diminuindo a consciência. O paradoxo que nos distingue os dias, tendo como característica o irracionalismo, converte-nos a vida em algo tanto mais aceitável quanto eficaz. Do abstracto ao sonho, passando pelo fruto da imaginação, tudo serve de formas de expressão para valorizar um horizonte de possibilidades absurdas e soluções cénicas, muito mais tranquilas que o momento presente.


Na verdade o mundo é imaginação. É Deus lembrando-se de si em concordância com a sua realidade essencial.

Ibn al Arabi, Fusus al –Hikam in Os engastes da sabedoria 

Tuesday, October 16, 2012

Luz outonal


Da janela entreaberta observo a incomparável luz da nova estação. A luminosidade das manhãs, tal como ao fim da tarde, ganha, nesta altura, uma outra intensidade, alargando-me horizontes entre expectativas e decepções.

Monday, October 15, 2012

Correndo pela noite como éguas


Mulheres correndo, correndo pela noite. 
O som de mulheres correndo, lembradas, correndo
como éguas abertas, como sonoras
corredoras magnólias.
Mulheres pela noite dentro levando nas patas
grandiosos lenços brancos.
Correndo com lenços muito vivos nas patas
pela noite dentro.
Lenços vivos com suas patas abertas
como magnólias
correndo, lembradas, patas pela noite
viva. Levando, lembrando, correndo.

É o som delas batendo como estrelas
nas portas. O céu por cima, as crinas negras
batendo: é o som delas. Lembradas,
correndo. Estrelas. Eu ouço: passam, lembrando.
As grandiosas patas brancas abertas no som,
à porta, com o céu lembrando.
Crinas correndo pela noite, lenços vivos
batendo como magnólias levadas pela noite,
abertas, correndo, lembrando.

De repente, as letras. O rosto sufocado como
se fosse abril num canto da noite.
O rosto no meio das letras, sufocado a um canto,
de repente.
Mulheres correndo, de porta em porta, com lenços
sufocados, lembrando letras, levando
lenços, letras - nas patas
negras, grandiosamente abertas.
Como se fosse abril, sufocadas no meio.
Era o som delas, como se fosse abril a um canto
da noite, lembrando.

Ouço: são elas que partem. E levam
o sangue cheio de letras, as patas floridas
sobre a cabeça, correndo, pensando.
Atiram-se para a noite com o sonho terrível
de um lenço vivo.
E vão batendo com as estrelas nas portas. E sobre
a cabeça branca, as patas lembrando
pela noite dentro.
O rosto sufocado, o som abrindo, muito
lembrado. E a cabeça correndo, e eu ouço:
são elas que partem, pensando.

Então acordo de dentro e, lembrando, fico
de lado. E ouço correr, levando
grandiosos lenços contra a noite com estrelas
batendo nas patas
como magnólias pensando, abertas, correndo.
Ouço de lado: é o som. São elas, lembrando
de lado, com as patas
no meio das letras, o rosto sufocado
correndo pelas portas grandiosas, as crinas
brancas batendo. E eu ouço: é o som delas
com as patas negras, com as magnólias negras
contra a noite.

Correndo, lembrando, batendo.

Herberto Helder

Sunday, October 14, 2012

Interlúdio


Saturday, October 13, 2012

Um dia de anos especial





Juntas, marcámos presença no Hotel Paraíso, em mais um aniversário da nossa amiga Teresinha. Uma noite bem passada, num espaço fantástico, muito animado ao jantar, numa data na qual não quisemos deixar de nos associar.

Friday, October 12, 2012

A escuridão inteira


Três fósforos acesos um a um durante a noite
O primeiro para ver o teu rosto inteiro
O segundo para ver os teus olhos
O último para ver a tua boca
E a escuridão inteira para recordar isso tudo
Enquando te aperto nos meus braços.


Jacques Prévert

Thursday, October 11, 2012

Azul em fundo branco






De origem árabe, deparamos com estes azulejos em palácios, igrejas, jardins e fachadas, repetindo-se numa composição, ou em painéis delimitados por frisos, faixas ou molduras, representando arabescos, flores, frutos, motivos geométricos, e cenas figurativas, idílicas ou bucólicas de enorme valor decorativo no nosso universo artístico. 

Wednesday, October 10, 2012

O nome da tua boca


Com um pedaço de carvão
com meu giz quebrado e meu lápis vermelho
desenhar teu nome
o nome de tua boca
o signo de tuas pernas
na parede de ninguém
Na porta proibida
gravar o nome de teu corpo

até que a lâmina de minha navalha
sangre
e a pedra grite
e o muro respire como um peito

Garatuja de Octavio Paz - (tradução de Luís Pignatelli)

Tuesday, October 9, 2012

Esquecer quem nos olhou


como viveremos no esquecimento
se perdemos repentinamente a profundidade dos campos
os enigmas singulares
a claridade que juramos conservar.
mas levamos anos a esquecer alguém
que apenas nos olhou

José Tolentino de Mendonça

Monday, October 8, 2012

Condicionantes


Quando se tem dúvidas do caminho a seguir, e não sabemos o que nos vai calhar como destino, é sempre inspirador seguir o que nos aponta o coração. Ameniza-nos as grandes decisões da vida, e ajuda-nos a olhar para visões diferentes, embora, por vezes, complementares. Apesar de nada ser evidente à primeira vista, permite-nos chegar ao fim enfrentando a contradição.

Sunday, October 7, 2012

Quem te avisa teu amigo é


Em Outubro sê prudente: guarda pão, guarda semente. 

provérbio 


Saturday, October 6, 2012

Entrada em cena


Friday, October 5, 2012

O outro lado da objectiva


A propósito do episódio da bandeira portuguesa, hasteada ao contrário, por lapso protocolar, diante dos nossos olhos nas comemorações da república, ultrapassado o incidente, podemos conceber a imagem que oscila entre o real e o irreal através de um exercício ficcional. E, ao abandonarmos a realidade na esperança de dar sentido ao vazio, vale a pena rodar a cabeça, e arriscarmos olhar as coisas de uma maneira diferente do que gostaríamos de imaginar. De um modo particularmente revelador podemos sempre criar a ilusão de reflectirmos sobre a construção de alternativas ou deixarmos tudo como está sem pensarmos em coisa alguma.

Thursday, October 4, 2012

Desempenho


Periclitante, procuro encontrar o equilíbrio num exercício arrojado, ao qual às vezes não basta perícia, mas um total controlo de movimentos e acções. Preservar a estabilidade emocional e a capacidade de poder de reacção, torna-se imprescindível, quando se pretende chegar a decisões ajustadas às mais complicadas situações do dia-a-dia. 

Wednesday, October 3, 2012

Até ao fim


Limito-me a seguir o caminho pelo prazer da descoberta. Incomunicante, e sem saber onde vai dar, percorro-o em direcção a um horizonte vasto enquadrado pelo mar límpido, à espera de qualquer coisa, que se me ofereça ao olhar.

Tuesday, October 2, 2012

Ao longo dos tempos


Se há memórias que se arriscam a desaparecer, existem outras que, um simples gesto, palavra ou som, nos despertam, recuperando formas, remetendo-nos para um passado não muito distante. Reconhecer experiências, quer da infância como da adolescência, com maior ou menor densidade dramática, reconduzem-nos para uma leitura do que foi vivido, e não nos terá passado despercebido, restabelecendo uma ligação referencial. Só, com as minhas próprias histórias, de olhar fixo e ausente, um a um, desenterro instantes inesquecíveis, recriando uma viagem interior intensa, para sempre inscrita num passeio pelo tempo.

Monday, October 1, 2012

Cobrir o buraco


Na política tal como na vida há estragos irreversíveis. E, o que fica dos dias é a ânsia de alcançar um objectivo matematicamente inatingível, quando sem moeda própria a única coisa a fazer é rever o memorando. Mesmo antes das medidas de austeridade serem aplicadas já se sabia que não iriam resultar. Seria importante juntar esforços e num exercício conjunto, agora mais do que nunca, procurar caminhos alternativos, uma vez que a capacidade de tolerância terminou. A questão que se coloca é se a confiança perdida ainda será recuperável!?