Estou um pouco ébria e estou
crescendo numa pedra.
Não tenho a sabedoria do mel
ou a do vinho.
De súbito, ergo-me como uma
torre de sombra fulgurante.
A minha tristeza é a da sede
e a da chama.
Com esta pequena centelha
quero incendiar o silêncio.
O que eu amo não sei. Amo.
Amo em total abandono.
Sinto a minha boca dentro das
árvores e de uma oculta nascente.
Indecisa e ardente, algo
ainda não é flor em mim.
Não estou perdida, estou
entre o vento e o olvido.
Quero conhecer a minha nudez
e ser o azul da presença.
Não sou a destruição cega nem
a esperança impossível.
Sou alguém que espera ser
aberto por uma palavra.
António Ramos Rosa