Friday, May 13, 2011

Saudade


Poesia, saudade da prosa;
escrevia «tu», escrevia «rosa»;
mas nada me pertencia,
nem o mundo lá fora
nem a memória,
o que ignorava ou o que sabia.

E se regressava
pelo mesmo caminho
não encontrava

senão palavras
e lugares vazios:
símbolos, metáforas,


o rio não era o rio
nem corria e a própria morte
era um problema de estilo.


Onde é que eu já lera
o que sentia, até a
minha alheia melancolia?

Manuel António Pina - Saudade da Prosa