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«Em criança, quando me davam a sopa, fixava-me no prato à espera da rã que saltava um muro, impressa no fundo. A partir de não sei quantas colheres ia surgindo a pouco e pouco, colorida, feliz, de suspensórios e calções
- Não quero mais, já se vê a rã e insistiam
- Só esta
a mentirem-me porque o esta eram várias. Até rapavam a loiça
- É a última, a sério
e ao deslaçarem o babete da nuca magoavam-me sempre. Sopa de couves, sopa de feijão, sopa de ervilhas, a quantidade de sopas que me obrigaram a empanzinar, meu Deus. E bife raspado. E puré. E xarope no fim, de frascos de rótulo peganhento, tanto xarope que cá canta também.»
Esta passagem trouxe-me à memória alguns episódios da minha própria infância. Afinal também eu me lembro de usar babete, das mesmas sopas, e bifinhos raspados, e até do peganhento óleo de fígado de bacalhau, recomendado pelo pediatra. Contudo no meu prato, que por acaso tinha a cor amarela, não havia espaço para qualquer rã, e nunca foi necessário o uso de quaisquer estratagemas para me convencerem a comer tudo. Porém, o mesmo não se passou com alguns dos meus 5 irmãos. Foi então que me veio à mente uns versinhos que o meu pai recitava em jeito de lengalenga, numa dessas pontuais situações de birra, que por sua vez já teria ouvido de uma sua avó, e que eu nunca mais esqueci.
- Ó Papim papa a papinha
Papinha papa de pão
Papa-a ao pé do papá
Se o Papim não papa a papa
O papão papa o Papim
E o Papim já papa a papa
Para que o não pape o papão
Papa-a ao pé do papá
Se o Papim não papa a papa
O papão papa o Papim
E o Papim já papa a papa
Para que o não pape o papão