Sunday, June 30, 2013

Saudade


 
O amor nos condena:
 demoras
 mesmo quando chegas antes.
 Porque não é no tempo que eu te espero.

 Espero-te antes de haver vida
 e és tu quem faz nascer os dias.

 Quando chegas
 já não sou senão saudade
e as flores
tombam-me dos braços
para dar cor ao chão em que te ergues.

Perdido o lugar
em que te aguardo,
só me resta água no lábio
para aplacar a tua sede.

 Envelhecida a palavra,
tomo a lua por minha boca
e a noite, já sem voz
se vai despindo em ti.

O teu vestido tomba
e é uma nuvem.
O teu corpo se deita no meu,
um rio se vai aguando até ser mar.

Mia Couto, in idades cidades divindades