Sunday, October 20, 2013

O barco que a aurora leva


Caminhei sempre para ti sobre o mar encrespado

na constelação onde os tremoceiros estendem
rondas de aço e charcos
no seu extremo azulado

Ferrugens cintilam no mundo,
atravessei a corrente
unicamente às escuras
construí minha casa na duração
de obscuras línguas de fogo, de lianas, de líquenes

A aurora para a qual todos se voltam
leva meu barco da porta entreaberta

o amor é uma noite a que se chega só

José Tolentino Mendonça in A noite abre meus olhos - poesia reunida, Assírio & Alvim