Nunca te esqueci - é este um amor
maior
que atravessa a vida e resiste à cicatriz
do tempo. O que ontem me disseste agora
o ouço, como se nada tivesse interrompido
a magia do instante em que as nossas bocas
se aguardavam na distância de um beijo e
o olhar tocava o corpo antes da mão. Se
hoje vieres por esse livro que deixaste (e
cuja
lombada acariciei todos os dias que durou a
tua
ausência como uma nesga de sol acaricia um
rosto no inverno), encontrarás a sopa a
fumegar
na mesa, e a camisa engomada no cabide, e os
lençóis da cama imaculados, e um corpo pronto
para qualquer aventura - e ainda o cão deitado
à porta, à tua espera, como na véspera de
partires.
Porque os anos não contam para quem assim ama.
Maria do Rosário Pedreira