Dizem os ventos que as marés não
dormem esta noite.
Estou assustada à espera que
regresses. As ondas já
engoliram a praia mais pequena e
entornaram algas
nos vasos da varanda. E, na cidade,
conta-se que
as praças açoitaram à tarde dezenas
de gaivotas
que perseguiram os pombos e os
morderam.
A lareira crepita lentamente. O pão
ainda está morno
à tua mesa. Mas a água já ferveu três
vezes
para o caldo. E em casa a luz
fraqueja, não tarda
que se apague. E tu não tardes, que
eu fiz um bolo
de ervas com canela; e há compota de
ameixas
e suspiros e um cobertor de lã na
cama e eu
Estou assustada. A lua está apenas
por metade,
a terra treme. E eu tremo, com medo,
que não voltes.
Maria do Rosário Pedreira