Nos
seus longos versos, existe um constante descer e subir de degraus que se
reflecte num movimento de corpos. A paisagem é inclinada com luas que, nascem
de fecundos campos, onde a sombra canta baixo, o mosto é aberto e o encanto
liga a ave ao trevo. Há picos e crateras entre o começo e o fim do mundo que, nos
seduzem a entrar na leitura em estado de pura assombração. A mãe que, perde aos
7 anos de idade, é uma referência permanente e representa o feminino em alusões
absolutamente magistrais. De imaginação fértil e atormentada, a poesia de
Herberto Helder que, nos deixou esta semana, é intensa, exuberante, vertiginosa
e eterna.
E as aves morrem para nós, os luminosos cálices
das núvens florescem, a resina tinge
a estrela, o aroma distancia o barro vermelho da manhã.
E estás em mim como a flor na ideia
e o livro no espaço triste.
[...]
Herberto Helder in O Amor em Visita - Lisboa: Contraponto,
1958