Levanto as mãos e o vento levanta-se
nelas.
Rosas ascendem do coração trançado
das madeiras.
As caudas dos pavões como uma obra astronómica.
E o quarto alagado pelos espelhos
dentro. Ou um espaço cereal que se exalta.
Escondo a cara. A voz fica cheia de
artérias.
E eu levanto as mãos defendendo a leveza
do talento
contra o terror que o arrebata. Os olhos
contra
as artes do fogo.
Defendendo a minha morte contra o êxtase
das imagens.
Herberto Helder in Ofício Cantante –
Lisboa, Assírio & Alvim 2009