Wednesday, May 21, 2014

A estranheza do ser

Nós somos imprevisíveis. Às vezes olhamo-nos ao espelho e, mesmo sem dizer, recuperamos aquele verso de Rimbaud, "eu sou um outro". Quem é este que me olha ao espelho? Olhamos para nós e há uma estranheza de ser que nunca se cura: mas sou assim? que caminho é este? que tempos são estes que me habitam? Somos também um segredo para nós mesmos e temos de aceitar-nos assim. Somos um enigma, uma pergunta e temos de aceitar isso. Caso contrário nunca teremos paz. Habitaremos sempre a divisão e o conflito. Há, portanto, um momento em que é preciso dizer: "está bem, é assim; eu não explico, eu não concebo, eu não programo, mas é assim, e vou fazer alguma coisa com isso.


José Tolentino Mendonça in Nenhum caminho será longo