Nós
somos imprevisíveis. Às vezes olhamo-nos ao espelho e, mesmo sem dizer,
recuperamos aquele verso de Rimbaud, "eu sou um outro". Quem é este
que me olha ao espelho? Olhamos para nós e há uma estranheza de ser que nunca
se cura: mas sou assim? que caminho é este? que tempos são estes que me
habitam? Somos também um segredo para nós mesmos e temos de aceitar-nos assim.
Somos um enigma, uma pergunta e temos de aceitar isso. Caso contrário nunca
teremos paz. Habitaremos sempre a divisão e o conflito. Há, portanto, um
momento em que é preciso dizer: "está bem, é assim; eu não explico, eu não
concebo, eu não programo, mas é assim, e vou fazer alguma coisa com isso.
José Tolentino Mendonça in Nenhum caminho será
longo