Sunday, January 13, 2008
Sonho alucinante
Separa-nos a imensidão do Atlântico, e nada mais. A tudo o resto estamos ligadas. Quando me levanto, ela ainda dorme, e quando adormeço, ela gira em roda-viva. Ainda que desencontradas há sempre algo que nos une, e que nos afasta também. Fecho os olhos e a sua imagem esbatida ganha contornos, quando a vida adquire novo sentido. É como se o mundo estivesse perto e longe, em simultâneo, e em permanente mutação. Visiono-a parada no tempo, correndo contra o mesmo, quebrando barreiras. Tacteio, e quase lhe alcanço os cabelos de oiro. Respiro fundo, e sinto-lhe a fragrância, como se fosse uma flor. Mas, varrida pelo vento, acabo por a perder entre os dedos. Resta-me o vazio da ausência, num universo findo de se esboroar. De um só fôlego, desperto do meu sono, perdendo toda a profundeza. Enfrentada a veracidade, torno-me incapaz de ultrapassar distâncias, sem que por um segundo o amor se esgote.
No outro dia, na praia, uma criança loira chamava pela mãe, e por escassos segundos, penso que é por mim que implora. Não, não pode ser. Os seus olhos não são claros, nem da cor do céu como os dela, e entretanto ela cresceu.
Espero sempre por ti o dia inteiro,
Quando na praia sobe, de cinza e oiro,
O nevoeiro
E há em todas as coisas o agoiro
De uma fantástica vinda.
Sophia de Mello Breyner Andresen
No outro dia, na praia, uma criança loira chamava pela mãe, e por escassos segundos, penso que é por mim que implora. Não, não pode ser. Os seus olhos não são claros, nem da cor do céu como os dela, e entretanto ela cresceu.
Espero sempre por ti o dia inteiro,
Quando na praia sobe, de cinza e oiro,
O nevoeiro
E há em todas as coisas o agoiro
De uma fantástica vinda.
Sophia de Mello Breyner Andresen
Subscribe to:
Posts (Atom)