Tuesday, November 18, 2008

Blindness

Há alguns anos li o livro, e ontem fui ver o filme, adaptado do romance de José Saramago. Ambos representam a metáfora sobre a realidade dos nossos dias, atraindo-nos para o centro da história, quando o distanciamento, e a incapacidade de ver o outro, e o que se passa à nossa volta, acaba por nos fragilizar. Um homem começa por perder a visão, alastrando-se a epidemia a toda uma cidade. Depois, à mercê de uma série de condicionantes em que tudo parece desabar, e os piores sentimentos sobem à tona de água, apenas nessa altura nos reconhecemos iguais, propondo-nos reorganizar como sociedade. Somente uma mulher vê, sendo a única a deparar-se com o terror a que a civilização humana está sujeita. Como testemunha, ela obriga-nos a reflectir sobre o que sentimos sobre a nossa própria cultura, ou a forma como a sociedade se encontra estruturada, alertando-nos as consciências para a falta de dignidade humana. Projecto amplo, e drama psicológico, que nos sugere uma alegoria política e filosófica, quando o medo toma conta de cada um de nós.

Não se orientavam, caminhavam rente aos prédios com os braços estendidos para a frente, continuamente esbarravam uns nos outros como as formigas que vão no carreiro, mas quando tal sucedia não se ouviam protestos, nem precisavam falar, uma das famílias despegava-se da parede, avançava ao comprido da que vinha em direcção contrária, e assim seguiam e continuavam até ao próximo encontro… Cegos que, vendo, não vêem.

José Saramago