Hoje, passada a madrugada, continuei
o dia com a minha parte mais sombria; soltaram-se-me as minhas recordações,
presentes, passadas e futuras, e não encontrava caminho linear entre elas.
Não só importa escrever
sucessivamente, mas saber quem me sucederá numa constelação de sentidos.
O que é a descendência?
A seiva sobe e desce numa árvore,
estende-se pelos ramos, e é regulada pelas estações; eu e a árvore dispomo-nos
uma para a outra, num lugar por nomear. Este lugar não tem significação de
dicionário, não transmigrou para nenhum livro.
Agora o sol, o solo, a solo,
encadeiam-me nas palavras Esta
madrugada aproximei-me da certeza de que o texto era um ser.
Maria Gabriela Llansol in um falcão
no punho - diário I, Lisboa: Edições Rolim, 1985