Saturday, August 31, 2013

Tristes geografias


 Dei-te o meu corpo como quem estende
 um mapa antes de viagem, para que nele
 descobrisses ilhas e paraísos e aí pousasses
 os dedos devagar, como fazem as aves
 quando encontram o verão. Se me tivesses

 tocado, ter-me-ia desmanchado nos teus braços
 como uma escarpa pronta a desabar, ou
 uma cidade do litoral a definhar nas ondas.

 Mas, afinal, foste tu que desenhaste mapas
 nas minhas mãos - tristes geografias,
 labirintos de razões improváveis, tão curtas
 linhas que a minha vida não teve tempo
 senão para pressentir-se. Por isso, guardo

 dos teus gestos apenas conjecturas, sombras,
 muros e regressos - nem sequer feridas
 ou ruínas. E, ainda assim, sem eu saber  porquê,
 as ondas ameaçam o lago dos meus olhos.

 Maria do Rosário Pedreira