Abraça-me. Quero ouvir o vento que vem da tua pele, e ver o
sol nascer do intenso calor dos nossos corpos. Quando me perfumo assim, em ti,
nada existe a não ser este relâmpago feliz, esta maçã azul que foi colhida na
palidez de todos os caminhos, e que ambos mordemos para provar o sabor que tem
a carne incandescente das estrelas. Abraça-me. Veste o meu corpo de ti, para
que em ti eu possa buscar o sentido dos sentidos, o sentido da vida. Procura-me
com os teus antigos braços de criança, para desamarrar em mim a eternidade,
essa soma formidável de todos os momentos livres que a um e a outro
pertenceram. Abraça-me. Quero morrer de ti em mim, espantado de amor. Dá-me a
beber, antes, a água dos teus beijos, para que possa levá-la comigo e
oferecê-la aos astros pequeninos. Só essa água fará reconhecer o mais profundo,
o mais intenso amor do universo, e eu quero que dele fiquem a saber até as
estrelas mais antigas e brilhantes.
Abraça-me. Uma vez só.
Uma vez mais.
Uma vez que nem sei se
tu existes.
Joaquim Pessoa