Saturday, May 31, 2008

Geração de ouro


Papel preponderante - De inesgotável capacidade inventiva, o seu lado idealista conseguiu transpor-nos de um imobilizante vazio, para o esboçar de uma manifestação artística. Rompendo com o «annus horribillis», através de um processo criativo, muito ao jeito dela, ela lançou pontes com uma perna às costas, colocando em marcha um modelo pedagógico inovador, centrado no estudante, que não só fez subir ao palco, como totalmente o transfigurou, com a liberdade da sua escrita e coreografia, transmitindo-lhe uma noção de espectáculo, uma amplitude vocal, e um verdadeiro sentido de intimidade com o público. Confesso que nem sempre foi fácil trabalhar em equipa, com um grupo que de homogéneo nada tinha, mas, a sua avassaladora dinâmica veio certamente acrescentar-nos uma outra dimensão. Em nome do conjunto de jograis, um enorme obrigado à Zizi, que de uma forma tão apaixonada trouxe o sol às nossas vidas.

Friday, May 30, 2008

Wish me luck

De há dias para cá que não tenho feito outra coisa, senão repetir, vezes sem conta, até à exaustão!? No carro, debaixo de água, no jacuzzi, em frente ao espelho do guarda-fato, pachorrentamente saboreando uma chávena de «earl grey», ou um tinto do Douro, de olhos fechados, sentindo na cara o tímido sol, no jardim, em suma, qualquer pausa nos meus atribulados dias, tem servido de cenário de aprendizagem, para o que se poderá converter no Momento da minha vida! Voilà! Pois eis que daqui a umas horas subirei ao palco, numa peça sobre identidades. E nada é mais globalizante hoje em dia do que uma boa identidade, sobretudo quando me calhou em rifa o V Império!? Sim, aquele velho sonho do Padre António Vieira, entre outros, de ajudar Portugal a recuperar a sua antiga grandeza, e glória! Inspirado em profecias bíblicas, ali o palco estaria representado pelo tempo, de ordem espiritual, emergindo como um projecto político-religioso, um pouco retórico até! Exceptuando um receio avassalador, de num qualquer bloqueamento total, ser engolida pelo medo, na presença de algumas centenas de pessoas, sinto-me calma, pois amanhã, ou me transformarei em objecto de escárnio, ou na verdadeira «Star»!

…. «Hoje não nos expandimos sulcando as ondas, olhando os espaços azuis…. Tudo já foi descoberto e conquistado. Temos que desenvolver a cultura, a ciência, o v império!»
Perguntam-me os jograis na retaguarda: - O que é isso do v império? E eu respondo-lhes com firmeza: - O v império não é mais que a expansão pela evolução, pelo desenvolvimento intelectual, é a poesia, as obras literárias, as descobertas científicas, e o desenvolvimento da nossa língua, para além das nossas fronteiras». (Da autoria da encenadora Zizi Magalhães)

Wednesday, May 28, 2008

Foi para ti




Foi para ti que criei as rosas.
Foi para ti que lhes dei perfume.
Para ti rasguei ribeiros
e dei ás romãs a cor do lume.

Tuesday, May 27, 2008

Sem palavras

Escuto o silêncio das palavras. O seu silêncio
suspenso dos gestos com que elas desenham
cada objecto, cada pessoa, ou as próprias ideias
que delas dependem. Por vezes, porém, as
palavras são o seu próprio silêncio. Nascem
de uma espera, de um instante de atenção, da
súbita fixidez dos olhos amados, como se
também houvesse coisas que não precisam de
palavras para existir. É o caso deste sentimento
que nasce entre um e outro ser, que apenas
se advinha enquanto todos falam, em volta,
e que de súbito se confessa, traduzindo em
breves palavras a sua silenciosa verdade.

Monday, May 26, 2008

Rasando os céus



Segundo o Antigo Testamento, no episódio da torre de Babel (Gênesis 11, 1-9) - jóia literária em menos de dez versículos, após o Dilúvio "todos se serviam da mesma língua e das mesmas palavras". Não havia diversidade de opiniões, e o ponto de vista de um, era o de todos, ao mesmo tempo que a actividade agro-pecuária igualava as pessoas.
O advento das cidades-estado provoca um movimento migratório do campo para a urbe, representada no relato bíblico, onde o povo decide construir uma cidade - a Babilónia (capital da Mesopotâmia, actual Iraque) que significaria "porta do deus".
A ideia era edificar nela uma torre tão alta que alcançasse os céus, com a intenção de eternizar os seus nomes, quebrando assim o limite entre o humano e o divino, ou o profano e o sagrado. Já não é a divindade que desce à Terra, é o ser humano que invade o Céu, e tudo graças à obra de suas mãos. Aquela cidade recebeu então o nome de Babel, que significa "confusão", pois provocando a ira de Deus, este castiga-os criando diferentes idiomas, confundindo-os por completo, e obrigando-os a dispersar-se pela face da Terra, até hoje, explicando-se, alegoricamente, a origem das muitas línguas faladas em todo o mundo!

Saturday, May 24, 2008

Uma nova consciência


Ao longo de 3 encontros a academia Brahma Kumaris proporcionou-nos um breve curso de meditação raja yoga, com entrada livre, na Biblioteca Municipal. Para quem desconhece o conceito, não se trata efectivamente de uma religião, mas de um outro conhecimento, ou uma nova filosofia de vida, que não só tem a intenção de nos ajudar a redescobrir o eu, como potenciá-lo. Afinal, a forma como cada um de nós pensa, reflecte-se no relacionamento com os outros, tendo ainda um impacto tremendo sobre o nosso próprio corpo. Depois continuámos a focar-nos naquilo que somos, ou seja seres de luz, cuja luminosidade se projecta no centro das nossas testas, e nos dá qualidades natas, pacíficas, de valores eternos, e onde a negatividade não tem lugar. O silêncio torna-se então na consciência da alma, e a perfeição a nossa meta, e ao ligarmo-nos à fonte suprema, purificadora, benevolente, e repleta de paz e amor, somos como que transportados para uma outra dimensão, para além dos planetas, e do sol, convertendo-se esta numa experiência de eternidade, e autêntico júbilo espiritual. Tudo o que até aí nos poderia incomodar, e se teria instalado de prejudicial a nível da consciência, é destruído, e imediatamente substituído por virtudes, que nos convertem em almas elevadas, ou estrelas divinas, num universo de quietude, onde existimos para além do tempo. Foi um momento de procura, que nos fez olhar para dentro, e desenvolver uma postura mental diferente, alertando cada um dos presentes para o despertar de uma nova consciência. Om Shanti.

Inês

Dos olhos corre a água do Mondego
os cabelos parecem os choupais
Inês! Inês! Rainha sem sossego
dum rei que por amor não pode mais.

Amor imenso que também é cego
amor que torna os homens imortais.
Inês! Inês! Distância a que não chego
morta tão cedo por viver demais.

Os teus gestos são verdes os teus braços
são gaivotas poisadas no regaço
dum mar azul turquesa intemporal

As andorinhas seguem os teus passos
e tu morrendo com os olhos baços
Inês! Inês! Inês de Portugal.

Friday, May 23, 2008

Ver o invisível


És tu a Primavera que eu esperava,
a vida multiplicada e brilhante,
em que é pleno e perfeito cada instante.

Thursday, May 22, 2008

Outro



«…… Escrever é sempre outra versão
de um texto que nunca se chegou a compor
Mas é igualmente a diversão
que nos faz vacilar entre o eu e um outro
sem necessitar de ser um ou outro…»

Wednesday, May 21, 2008

Côr e abundância











Anunciando a chegada do verão os jacarandás florescem nos parques, e avenidas que têm o privilégio dos albergar. As suas flores encantam-nos o olhar, com a sua beleza lilás, em densos cachos piramidais, e delicadeza das folhas, emanando um perfume tropical que nos chega através da brisa da primavera. Com origem na Argentina, e nas longínquas florestas do Brasil, sem dúvida que são uma das mais belas árvores ornamentais urbanas.

Quem o olhava bebia
Quem o olhava escutava
O jacarandá florido
Que o silêncio cantava..

Matilde Rosa Araújo

Monday, May 19, 2008

Batôn

Ela ali estava, turistando seu corpo pela avenida. Sorriu: era quase tímida, timíuda. Baixou o rosto, ao peso da vergonha. Ela sabia que, a meus olhos continuava Tininha. A minha lembrança lavava-lhe a excessiva maquilhagem. E o rosto dela, despintado, indefeso, era sua maior nudez. Ficámo-nos olhando, trocando silêncio triste. Magoava-me a menina que nela teimava sob a máscara. Magoava-a a ela também. Talvez por isso tenha passado a mão sobre os lábios naturais. Afinal, não era ela que usava batôn. Era o batôn que a usava a ela.

Espírito de equipa


Saturday, May 17, 2008

A arte do conto


Em mais um ciclo de leitura, organizado pela Biblioteca Municipal, discutiu-se «água, cão, cavalo, cabeça», antes do derradeiro encontro com o autor – Gonçalo M. Tavares.
A oradora chegou-nos da Universidade de Faro, e embora a literatura não seja a sua área, a Adriana Nogueira é uma classicista, que tal como a própria diz se entusiasma com muitos outros saberes, contagiando-nos com um outro olhar sobre a obra. Indo por partes, continuámos a destacar uma escrita que não é tradicional, e que sai da coerência dos livros anteriores, continuando a surpreender-nos. Este é sem dúvida um livro de sentimentos muito fortes, e até violentos, que nos obriga a profundas reflexões sobre a realidade e a ficção, que por vezes tendem a confundir-se. No conjunto são curtas histórias, que quase se aproximam da poesia, pelo sentido conciso, e da capacidade de dizer muito em poucas palavras de Gonçalo M. Tavares, que para a próxima irá lá estar. A não perder.

Thursday, May 15, 2008

Rotação

É nos teus olhos que o mundo inteiro cabe,
mesmo quando as suas voltas me levam para longe de ti;
e se outras voltas me fazem ver nos teus
os meus olhos, não é porque o mundo parou, mas
porque esse breve olhar nos fez imaginar que
só nós é que o fazemos andar

Wednesday, May 14, 2008

Círculo calcinado

Não o espero. Não chegarei jamais, nem estarei aqui, ele não falará. Desejaria dizer o seu infortúnio inominável, o seu silêncio impossível. Desejaria acolhê-lo na sua nudez, no seu silêncio. Espera-me decerto, na sua pobreza incomensurável, pobre deus mudo, sem abrigo, de uma infinita miséria. O que escrevo, o que escreverei será a oferenda para o encontro dele. Mas não haverá encontro se ele não respirar na inesperada transparência de uma linguagem branca. Nada poderei oferecer se as palavras não constituírem essa íntima aliança que é o mistério mesmo da linguagem.
Estou só e continuarei a estar só, na árida e ávida deambulação destas palavras sem caminho. Lancinante, a suspensão interminável. Aqui agora é nunca. Julguei que poderia estabelecer uma relação serena e confiante mas não ouvi ainda nenhum apelo. Estou dentro de um círculo calcinado.

Tuesday, May 13, 2008

Pátrias



Tróia morreu com Heitor e as suas mãos nunca mais se ergueram contra os invasores filhos de Dânaos. Também Péla morreu com Alexandre.
As pátrias é que são honradas pelos homens, não os homens pelas pátrias.


Anónimo

Sunday, May 11, 2008

Cancioneiro popular


A vontade, e a preocupação de preservar a memória terá levado José Ruivinho Brazão, e Nelson Conceição a editar o livro «Cancioneiro Tradicional Português», da Casa das Letras, cujo lançamento teve lugar ontem à noite, na Biblioteca Municipal. Recuperar uma parte de todos nós, foi a intenção deste documento, que pretende reconstituir a tradição oral das comunidades do meio rural, de toda uma época. E como cantar é um fenómeno comunicativo, o evento do lançamento deste livro contou ainda com a actuação do grupo de Paderne «As Moças Nagragadas» - vozes portadoras do saber de uma tradição mais antiga, tão importantes na defesa da nossa identidade.

Saturday, May 10, 2008

Mensagem pacifista

Em 2007, naquela mesma sala polivalente, da Biblioteca Municipal, interrogámo-nos acerca da nossa própria identidade. Quem somos? E qual o objectivo das nossas vidas? Nessa altura o que nos terá sido dito é que cada um de nós não passava de um ponto de luz convertido em energia viva, que se traduzia na nossa própria essência. Assim, para que nos tornássemos seres mais sublimes, deveríamos procurar ligarmo-nos à fonte suprema, para além das estrelas, e do firmamento, preenchendo desta forma os nossos intelectos. Só assim passaríamos a controlar as nossas mentes, tornando-nos donos dos nossos pensamentos, que passariam a determinar as nossas vidas.
Desta vez porém passamos à fase seguinte focando-nos na nossa própria consciência, que nos possibilita toda uma capacidade de percepção, e que passará por dois níveis. O conhecimento do corpo ligado a tudo o que é material, e aquele para além dos parâmetros físicos, correspondendo a um patamar mais elevado, e muito mais abrangente. Enquanto que o corpo não passa dum veículo momentâneo, que mais tarde ou mais cedo encontrará o seu fim, o espírito, pelo contrário é metafísico, indestrutível e eterno! Falsas identificações darão origem a conflitos, que se poderão traduzir por atitudes negativas, e inúteis, na maioria das vezes provocadas por falta de auto-estima. Porém, através da meditação Raja Yoga podemos desenvolver outras posturas mentais, que nos ajudem a converter estas emoções em algo de tão positivo e útil, como puro, tal qual o eu original. No próximo dia 23, no mesmo local, e à mesma hora, debruçar-nos-emos sobre a lei do karma, e a meditação, que nos relançará num oceano de paz, vermelho e dourado, para além do tempo, e nos trará uma outra tranquilidade de espírito que nos levará à felicidade plena. Difícil mesmo vai ser esperar!? Até lá Om Shanti, que é como quem diz «Eu sou Paz»!

Thursday, May 8, 2008

Cumplicidades

Pela manhã deixo-o entrar e num ápice enche-me a cozinha, e o coração. É como se ambos esperássemos por aquele momento, que se tornou num verdadeiro ritual. Ligo a chaleira eléctrica, e em poucos segundos tenho já no balcão uma chávena de chá cheiinha até cá acima. Entretanto escalfo um ovo, ao mesmo tempo que na torradeira coloco duas fatias de pão. Sem perder pitada, segue-me os gestos, e vem deitar-se aos meus pés. Na rádio oiço dos salários em atraso dos jogadores profissionais de futebol, entre um golo de «earl grey», e uma torrada com uma fatia de fiambre. Depois ele já advinha o que se segue, e olha-me como se me interrogasse: - «Do que estás à espera»? Então, pego num pedacinho de ovo, envolvo-o no fiambre da torrada que fica pendurado a mais, e ele vem comê-lo à minha mão. A cena repete-se até lhe dizer: - «Chega, este é o último»! Isto em inglês, porque ao contrário da Daisy, que é bilingue, o Rico apenas fala uma língua só! Por vezes até condescendo, e lhe dou um pouco mais. Ainda oiço a previsão de sol para todo o país, apesar da ligeira descida das temperaturas, acabando por me cansar do noticiário. Mudo de frequência, e parece que estamos com sorte ao apanhar o início do concerto de Mozart, para clarinete e orquestra, em lá maior. Imediatamente trocamos sorrisos. Ah isto sim, é do agrado dos dois. Por esta altura saboreio meia toranja, com uma colherzinha de mel, que trouxe da última visita a Monchique. Terminado o repasto, e toda uma partilha, limpo-lhe os olhos meigos, dou-lhe uma escovadela, e em troca recebo daquela volumosa personagem com mais de 70 quilos toda uma óptima energia, que me irá durar o dia inteiro! O Rico é único, e não o trocaria por nada nesta vida. Aquele agitar de rabinho, o brilho do olhar, e toda a comoção e necessidade de me ter por perto, fazem dele um aliado por excelência.

Saturday, May 3, 2008

Às mães de todo o mundo

Que ao dar a bênção da vida,
Entregou a sua…
Que ao lutar por seus filhos,
Esqueceu-se de si mesma…
Que ao desejar o sucesso deles,
Abandonou seus anseios…
Que no vibrar com suas vitórias,
Esqueceu seu próprio mérito…
Que ao receber injustiças,
Respondeu com seu amor…
E que, ao relembrar o passado,
Só tem um pedido:
Deus proteja meus filhos,
Por toda a vida!

Thursday, May 1, 2008

Maio

Que venha Maio
e traga nos dias a plenitude da terra,
renascer de promessas que Abril plantou!
Que seja então Maio,
cheiro de brisa suave que em si carrega
mil águas caídas no solo que secou!
Floresça Maio agora
nesta hora de bandeiras caídas no chão,
cravos desfraldados no tempo de outrora
e traga de novo
a força que sonhámos ter dentro da mão!

Poema de Ligue