até
cada objecto se encher de luz e ser apanhado
por todos os lados hábeis, e ser ímpar,
ser escolhido,
e
lampejando do ar à volta,
na ordem do mundo aquela fracção real dos
dedos juntos
como para escrever cada palavra:
pegar ao alto numa coisa em estado de milagre:
seja:
um copo de água,
tudo pronto para que a luz estremeça:
o
terror da beleza, isso, o terror da beleza delicadíssima
tão súbito e implacável na vida administrativa
Herberto Helder, in «Servidões», Assírio &
Alvim, 2013