Quando era pequeno, rodava sobre mim próprio com as pontas
dos pés. Rodar-rodar-rodar: as formas a saírem dos contornos, as cores a
misturarem-se demasiado rápidas e, depois, ao parar de repente, o chão como um
barco debaixo da tempestade, a paisagem inteira a oscilar desgovernada, eu a
tentar equilibrar-me e, ao mesmo tempo, criança, a apreciar esse caos. A
seguir, a pouco e pouco, o horizonte abrandava e voltava a fixar-se.
Eu tenho um lugar. Por isso, nunca me perco no mundo imenso.
José Luís Peixoto in O meu lugar - Visão, Agosto 2013