Friday, March 8, 2013

Os teus olhos



Enquanto as cidades costeiras
o coro trágico da posteridade
aspira o ar
como funcionário que se prepara
para as tarefas do dia
avisto os teus olhos

Os teus olhos deveriam ter nascido em épocas diferentes

em mundos diferentes
não neste lugar panorâmico e incurável
onde os sentidos são
repetidamente censurados
nestes barrancos áridos
para que o tempo passe
com todas as armas da culpa

No salva-vidas enquanto o meu navio se afunda

os teus olhos
dos quais nunca me poderia defender
erguem-se num louvor
capaz de ensurdecer para sempre
os que duvidam


José Tolentino de Mendonça in Estação Central, Assírio & Alvim