Tuesday, November 30, 2010

A lua toda

Para ser grande, sê inteiro: nada
teu exagera ou exclui.

Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
no mínimo que fazes.

Assim em cada lago a lua toda
brilha, porque alta vive.


Ricardo Reis

Monday, November 29, 2010

Proximidade real

Uma vez mais o pôr-do-sol domina-me as atenções. Observo-o de longe em plena e decrescente transformação. A sequência de imagens projectadas do sol promove a contemplação, ao mesmo tempo que, vai ganhando tons cada vez mais alaranjados, anunciando-me o final do dia.

Saturday, November 27, 2010

Um olhar

Perdemos repentinamente
a profundidade dos campos
os enigmas singulares
a claridade que juramos
conservar

mas levamos anos
a esquecer alguém
que apenas nos olhou


José Tolentino de Mendonça

Thursday, November 25, 2010

Ao sabor da noite

Enquanto o momento não chega, criamos um primeiro esboço nos vastos horizontes do pensamento. Tudo se concentra na paisagem de colinas pouco elevadas, onde a linguagem é secreta, e de grande beleza natural. Clara e visível, a lua parece querer vibrar com a luz do sol. A aceleração do tempo valoriza a sua plenitude e esplendor, na hora mais silenciosa da noite. Guardo a distância para ininterruptamente a olhar, atenta aos sinais do universo com todo o vagar que ele merece.

Tuesday, November 23, 2010

Luta por um sonho

Este é já o seu terceiro livro romanceado de carácter jornalístico. Longe do meu coração, é uma história verdadeira, baseada em relatos de milhares de portugueses que, nos anos 60, emigraram para França nas piores condições com o objectivo de melhorar as suas vidas. Júlio Magalhães apresentou-o em Paris há cerca de três semanas, e depois do Porto, de onde é natural, agraciou-nos com a sua agradável presença, esta noite, no salão nobre da Câmara Municipal de Albufeira.

Sunday, November 21, 2010

Fios de pérolas

Fios de pérolas e seda
E algas transparentes
Não são senão os teus cabelos.


Maria Alexandre Dáskalos

Thursday, November 18, 2010

Uma nova atitude

Vem a caminho, e não tarda está aí. Para uma renovação da política que, a humanidade precisa. A cada passo, prevê-se uma agenda intensa, e o seu papel é fundamental no plano global de segurança. Trouxe um novo fôlego, e reconciliou os Estados Unidos com o mundo, tentando transformá-lo com esforços de pacificação. À sua passagem, não seremos indiferentes, para que se revitalizem parcerias e surja um novo clima.

Tuesday, November 16, 2010

Debruçada sobre o rio


Separa Portugal de Espanha, entre meandros e zonas protegidas de grande beleza. Sucessivamente ocupado por povos navegadores, às suas margens acorreram desde fenícios, a gregos, cartagineses, romanos e árabes, que o utilizaram como acesso à península ibérica encorajados pelo comércio fluvial. Actualmente, percorrem este curso de água embarcações de recreio que, desfrutando da paisagem perfeita do Guadiana lhe reafirmam a serenidade da contemplação.

Monday, November 15, 2010

Tonalidades

A manhã está luminosa, e custa-me olhar tanto brilho. Incapaz de o resistir, espreito o dia, entre o sol e os aguaceiros, testemunhando o arco-íris e as suas cores reflectidas. Cada uma possui uma diferente energia, emergindo de um céu exaltante de vida.

Friday, November 12, 2010

A incerteza

A incerteza cai com a tarde
no limite da praia. Um pássaro
apanhou-a, como se fosse
um peixe, e sobrevoa as dunas
levando-a no bico. O
seu desenho é nítido, sem
as sombras da dúvida ou
as manchas indecisas da
angústia. Termina com a
interrogação, os traços do fim,
o recorte branco das ondas
na maré baixa. Subo a estrofe
até apanhar esse pássaro
com o verso, prendo-o à frase,
para que as suas asas deixem
de bater e o bico se abra. Então,
a incerteza cai-me na página, e
arrasta-se pelo poema, até
me escorrer pelos dedos para
dentro da própria alma.

Nuno Júdice

Thursday, November 11, 2010

Ao ar livre

O verde é a cor dominante da paisagem. A ela mistura-se os grandes rochedos, as árvores seculares, o som das fontes de águas límpidas, e o canto das aves. Em Monchique, o ar é puro, e respira-se uma absoluta tranquilidade. Avanço para Fóia – o ponto mais elevado do Algarve, e à distância, descubro o mundo que me cerca, saboreando-o com todo o vagar. De um vasto horizonte de mar e serra, é sempre possível ver mais longe, e beijar o céu.

Wednesday, November 10, 2010

Ideia de espaço

Voam à descoberta, concentrando a atenção nos traçados rectos e sinuosos em todo o seu redor. Os limites são-lhes indefinidos, e as nuvens espessas oferecem-lhes refúgio e evasão onde tudo é grande. Sobem colinas, viajam por campos de terra ressequida donde já nada brota, e deslizam pelos rios acima no mais fugaz dos instantes. Por fim, empoleiram-se no topo onde a vertigem é maior. E, quedos e silenciosos, suspensos no tempo em estado de perfeito equilíbrio, vão dando conta da poesia para além de si.

Monday, November 8, 2010

Retrato

Sempre que penso em ti estás a dançar levemente num clima de canela despenteada, ó aroma vagaroso, desordem aérea, mas a memória tem pressa, o sangue tem pressa interna, e antes de pensar tremo, e depois tremo, pelo meio desenvolve-se o pavor de uma beleza maiúscula, o coração corre entre iluminuras rápidas, é uma criança sucessiva nas pautas da música, assim escrevo uma nação simultânea, desapareces na respiração do teu vestido, entretanto a revelação anuncia-se pelo medo, curvas-te como as aldeias devoradas pela lua, mais tarde sempre que penso em ti estás com um lenço escrito nas duas mãos, e a tua velocidade abranda junto aos espelhos, expandes-te assim lentamente gravada, és uma floresta de silêncios visíveis, sempre que penso penso sempre ao contrário do fim, estás cada vez mais no princípio de ti mesma, então vejo que nesse lugar é o meu começo eterno, quando danças é um corpo rodeando a brancura rodeada ou de novo qualquer coisa criminal entre o cuidado e o espaço, nas linhas puras da solidão arde a cabeça, arde o vento, atrás de ti as imagens assassinas da noite - estrelas: subversão da noite, sempre que penso em ti danço até à ressurreição do tempo.

Herberto Helder, "Retrato em Movimento"/"Poesia Toda"

Sunday, November 7, 2010

Mudança de estações

Com os dias cada vez mais curtos, e a escurecer mais cedo, há uma tendência para se passar mais tempo em casa, após uma fase em que as actividades ao ar livre nos impeliam para o exterior. E, apesar da minha relação com o frio não ser de um total desconforto, nada, agora, me sabe melhor do que, me estender no sofá, debaixo de uma leve e suave manta de mohair, que me garante todo o bem-estar de que necessito.

Saturday, November 6, 2010

De rosa em rosa

Rosa em verso, rosa em prosa:
rosa rosa.
Verdadeira, recortada,
sempre votiva é a rosa.
Quem a dá, quem a ostenta,
quem a colhe, quem a inventa,
quem dela - a rosa - se lembra
faz o voto de quebrar
a pessoal solidão.
Se não troco o pão por rosas,
não troco a rosa por pão.
Rosa.
Rosa em verso, rosa em prosa:
rosa rosa.
Rosa nome, rosa coisa,
rosa flor, rosa rosa,
rosa traço de união.
Rosa fugaz, recolhida
noutra rosa já nascida.
De rosa em rosa é a vida.
Ó rosa breve fulgor,
lampejo na escuridão.
Se não troco o pão por rosas,
não troco a rosa por pão.

Alexandre O' Neill

Friday, November 5, 2010

A bela-luísa


Acabada de colher, o seu agradável sabor cítrico, serviu para nos reunirmos, sob o pretexto de um chá bela-luísa. Quando abre as portas de sua casa, ela aprimora, e é como se uma lufada de ar fresco nos invadisse as vidas. Da janela da cozinha, por onde tudo passa e acontece, avista-se um marmeleiro, a uma curta distância. Está carregado de frutos amarelados. Antecipo-lhes o perfume intenso quando maduros, deixando-me seduzir.
Na véspera, depois de os lavar, e cuidadosamente pôr a escorrer, um a um a Fátima descaroçou todos os marmelos, confeccionando uma geleia caseira, ao atingir o ponto desejado para a sua conservação. Um frasco foi-me logo reservado, e, por isso, eu aí estou de novo. Aquele lugar é o seu refúgio, e transmite o quanto ela é ali feliz. Com os dentes a romper, e uma ligeira infecção viral, o Pedro não abdicou de chorar, alertando-nos para a sua notoriedade na vida diária doméstica. Só o tempo liga tantas coisas valorizando cada momento.

Thursday, November 4, 2010

Visões

À primeira vista, dá-me a sentir, o quão longe pode ir o meu olhar. A transformação da paisagem, ganha significado à medida que o sol se põe, quando me aproprio de momentos que em vão tento adiar. Sucessivos movimentos, subtilmente esboçados no horizonte, ganham destaque na intensidade de um sonho.

Wednesday, November 3, 2010

Ao som do jazz

Vamos abrir a noite
Com música de Jazz
Vamos abrir a noite
Percorrê-la depois
num barco de borracha
Enforcar a memória
Celebrar o segredo
Descobrir de repente
Uma ilha que nasce dentro
do teu vestido
Chamar-lhe Madrugada
Adormecer contigo.

David Mourão-Ferreira

Monday, November 1, 2010

A supertaça




Eles posicionaram-se, saltaram, roubaram a bola, e fizeram passes e dribles. Ao encestarem, marcaram pontos, e ganharam! Atentos, os árbitros asseguraram as regras do jogo, e verificaram os descontos de tempo, já que uma vez interrompido, paralisa imediatamente. No encontro desta tarde, no pavilhão desportivo de Albufeira, o Benfica, que mais parecia estar a jogar em casa, levou a melhor, conquistando ao Porto o troféu da Supertaça.