O Natal
sobressai-lhes a curiosidade do olhar. Só as crianças lhe conhecem a magia e o
segredo entre recordações e o presente. Mas, o mínimo que dele podemos esperar
é a contenção de despesas valendo-nos da redução do desperdício, e reutilização
de objectos e materiais decorativos de outros anos. Reconhecer-lhe a dimensão
aprendendo a dar outro sentido às nossas vidas, torna-se uma realidade à qual
não conseguimos escapar. Quando o dinheiro falta, apenas nos resta um pouco de
esperança.
Friday, November 30, 2012
Thursday, November 29, 2012
Que nome é o teu?
Tu, meu amor, que nome é o teu? Dize onde vives, dize onde
moras, dize se vives ou se já nasceste.
Almada Negreiros in Frisos - Revista Orpheu nº1
Wednesday, November 28, 2012
Relação afectiva
Ninguém o questiona. Ele é talvez uma
das nossas primeiras referências, do qual julgamos depender. Intenso e
dramático, começa por se tornar nosso confidente, escondendo segredos, e amenizando
alguns momentos ora de maior tensão, ora de incontroláveis temores de infância.
Com um ursinho não há definitivamente ausência, há apenas a alegria da
presença.
Tuesday, November 27, 2012
Enfeites e contornos
Não falta nunca um toque de
brilho. Valoriza qualquer projecto de Natal mais arrojado que incorpore estrelas,
bolas, velas, grinaldas, fitas acetinadas ou cristais, ou outros elementos
decorativos que atraem as massas e nos nutrem ilusões. Mas, se nos centrarmos em
reformular a verdadeira dimensão do Natal, esta prende-se, sem dúvidas, em humanizá-lo.
Monday, November 26, 2012
Uma noite azul
do esquecimento. Para quem sai,
ainda louco de sono, do meio
de silêncio. Uma noite
ingénua para quem canta.
Deslocada e abandonada noite onde o fogo se instalou
que varre as pedras da cabeça.
Que mexe na língua a cinza desprendida.
E alguém me pede: canta.
Alguém diz, tocando-me com seu livre delírio:
canta até te mudares em azul,
ou estrela electrocutada, ou em homem
nocturno. Eu penso
também que cantaria para além das portas até
raízes de chuva onde peixes
cor de vinho se alimentam
de raios, raios límpidos.
Até à manhã orçando
pendúnculos e gotas ou teias que balançam
contra o hálito.
Até à noite que retumba sobre as pedreiras.
Canta - dizem em mim - até ficares
como um dia órfão contornado
por todos os estremecimentos.
E eu cantarei transformando-me em campo
de cinzas transformada.
Em dedicatória sangrenta
Há em cada instante uma noite sacrificada
ao pavor e à alegria.
Embatente com suas morosas trevas.
Desde o princípio, uma onda que se abre
no corpo, degraus e degraus de uma onda.
E alaga as mãos que brilham e brilham.
Digo que amaria o interior da minha canção,
seus tubos de som quente e soturno.
Há uma roda de dedos quentes no ar.
A língua flamejante.
Noite, uma inextingível
inexprimível
noite. Uma noite máxima pelo pensamento.
Pela voz entre as águas tão verdes no sono.
Antiguidade que se transfigura, ladeada
por gestos ocupados no lume.
Pedem
tanto a quem ama: pedem
o amor. Ainda pedem
a solidão e a loucura.
Dizem: dá-nos a tua canção que sai da sombra fria.
E eles querem dizer: tu darás a tua existência
ardida, a pura mortalidade.
Às mulheres amadas darei as pedras voantes,
uma a uma, os pára-
-raios altíssimos da voz.
As raízes afogadas no nascimento. Darei o sono
onde um corpo fala
fusiforme
batido pelos dedos. Pedem tudo aquilo que respiro.
Dá-nos a tua ardente e sombria transformação.
E eu darei cada uma das minhas semanas transparentes,
lentamente uma sobre a outra.
Quando se esclarecem as portas que rodam
para o lugar da noite. Noite
de uma voz
humana. De uma acumulação
atrasada e sufocante.
o amor. Ainda pedem
a solidão e a loucura.
Dizem: dá-nos a tua canção que sai da sombra fria.
E eles querem dizer: tu darás a tua existência
ardida, a pura mortalidade.
Às mulheres amadas darei as pedras voantes,
uma a uma, os pára-
-raios altíssimos da voz.
As raízes afogadas no nascimento. Darei o sono
onde um corpo fala
fusiforme
batido pelos dedos. Pedem tudo aquilo que respiro.
Dá-nos a tua ardente e sombria transformação.
E eu darei cada uma das minhas semanas transparentes,
lentamente uma sobre a outra.
Quando se esclarecem as portas que rodam
para o lugar da noite. Noite
de uma voz
humana. De uma acumulação
atrasada e sufocante.
Há
sempre uma ilusão abismada
numa noite, numa vida. Uma ilusão sobre o sono debaixo
do cruzamento do fogo.
Prodígio para as vozes de uma vida repentina.
E se aquele que ama dorme, as mulheres que ele ama
sentam-se e dizem:
ama-nos. E ele ama-as.
Desaperta uma veia, começa a delirar, vê
dentro de água os grandes pássaros e o céu habitado
pela vida quimérica das pedras.
Vê que os jasmins gritam nos galhos das chamas.
Ele arranca os dedos armados pelo fogo
e oferece-os à noite fabulosa.
Ilumina de tantos dedos
a cândida variedade das mulheres amadas.
E se ele acorda, então dizem-lhe
que durma e sonhe.
E ele morre e passa de um dia para outro.
Inspira os dias, leva os dias
para o meio da eternidade, e Deus ajuda
a amarga beleza desses dias.
Até que Deus é destruído pelo extremo exercício
da beleza.
numa noite, numa vida. Uma ilusão sobre o sono debaixo
do cruzamento do fogo.
Prodígio para as vozes de uma vida repentina.
E se aquele que ama dorme, as mulheres que ele ama
sentam-se e dizem:
ama-nos. E ele ama-as.
Desaperta uma veia, começa a delirar, vê
dentro de água os grandes pássaros e o céu habitado
pela vida quimérica das pedras.
Vê que os jasmins gritam nos galhos das chamas.
Ele arranca os dedos armados pelo fogo
e oferece-os à noite fabulosa.
Ilumina de tantos dedos
a cândida variedade das mulheres amadas.
E se ele acorda, então dizem-lhe
que durma e sonhe.
E ele morre e passa de um dia para outro.
Inspira os dias, leva os dias
para o meio da eternidade, e Deus ajuda
a amarga beleza desses dias.
Até que Deus é destruído pelo extremo exercício
da beleza.
Porque
não haverá paz para aquele que ama.
Seu ofício é invadir povoações, roubar
e matar,
e alegrar o mundo, e aterrorizar,
e queimar os lugares reticentes deste mundo.
Deve apagar todas as luzes da terra e, no meio
da noite aparecente,
votar a vida à interna fonte dos povos.
Deve instaurar o corpo e subi-lo,
lanço a lanço,
cantando leve e profundo.
Com as feridas.
Com todas as flores hipnotizadas.
Seu ofício é invadir povoações, roubar
e matar,
e alegrar o mundo, e aterrorizar,
e queimar os lugares reticentes deste mundo.
Deve apagar todas as luzes da terra e, no meio
da noite aparecente,
votar a vida à interna fonte dos povos.
Deve instaurar o corpo e subi-lo,
lanço a lanço,
cantando leve e profundo.
Com as feridas.
Com todas as flores hipnotizadas.
Deve
ser aéreo e implacável.
Sobre o sono envolvido pelas gotas
abaladas, no meio de espinhos, arrastando as primitivas
pedras. Sobre o interior
da respiração com sua massa
de apagadas estrelas. Noite alargada
e terrível terrível noite para uma voz
se libertar. Para uma voz dura,
uma voz somente. Uma vida expansiva e refluída.
Sobre o sono envolvido pelas gotas
abaladas, no meio de espinhos, arrastando as primitivas
pedras. Sobre o interior
da respiração com sua massa
de apagadas estrelas. Noite alargada
e terrível terrível noite para uma voz
se libertar. Para uma voz dura,
uma voz somente. Uma vida expansiva e refluída.
Se
pedem: canta, ele deve transformar-se no som.
E se as mulheres colocam os dedos sobre
a sua boca e dizem que seja como um violino penetrante
ele não deve ser como o maior violino.
Ele deve ser o único único violino
Porque nele começará a música dos violinos gerais
E acabará a inovação cantada.
Porque aquele que ama nasce e morre.
Vive nele o fim espalhado da terra.
E se as mulheres colocam os dedos sobre
a sua boca e dizem que seja como um violino penetrante
ele não deve ser como o maior violino.
Ele deve ser o único único violino
Porque nele começará a música dos violinos gerais
E acabará a inovação cantada.
Porque aquele que ama nasce e morre.
Vive nele o fim espalhado da terra.
Herberto
Helder, Lugar (poema II) - in POESIA TODA - ASSÍRIO&ALVIM - NOVEMBRO 1981
Sunday, November 25, 2012
Saturday, November 24, 2012
A inversão
Está aí não tarda. Num mundo liderado por
princípios económicos que movem as sociedades, por trás da aparência das coisas,
o convívio próximo com a realidade dos dias obriga-nos, este ano, a uma
história diferente. Empenhados em desfazer modelos, redefinir pontos de vista, recuperar
técnicas, ou simplesmente reflectir sobre o mundo actual, a crise que nos
percorre as veias, condiciona-nos na luta pela subsistência, e desperta-nos o
desejo de reinterpretar. Resistir a um consumo desenfreado, na época que se
aproxima, é não só um desafio, mas uma decisão ponderada a reescrever este
Natal.
Friday, November 23, 2012
Lá ao fundo das coisas
Do outro lado de mim, lá para
trás de onde jazo, o silêncio da casa toca no infinito. Oiço cair o tempo, gota
a gota, e nenhuma gota que cai se ouve cair. Oprime-me fisicamente o coração
físico a memória, reduzida a nada, de tudo quanto foi ou fui. Sinto a cabeça
materialmente colocada na almofada em que a tenho fazendo vale. A pele da
fronha tem com a minha pele um contacto de gente na sombra. A própria orelha,
sobre a qual me encosto, grava-se-me matematicamente contra o cérebro.
Pestanejo de cansaço, e as minhas pestanas fazem um som pequeníssimo,
inaudível, na brancura sensível da almofada erguida. Respiro, suspirando, e a
minha respiração acontece - não é minha. Sofro sem sentir nem pensar. O relógio
da casa, lugar certo lá ao fundo das coisas, soa a meia hora seca e nula. Tudo
é tanto, tudo é tão fundo, tudo é tão negro e tão frio!
Bernardo Soares in livro do
desassossego
Thursday, November 22, 2012
Agradecimento
Neste dia de Acção de Graças, reconheçamos tudo aquilo que,
por vezes, não nos damos conta, e tomamos por adquirido. Exprimir gratidão, e
identificar tantos instantes felizes nas nossas vidas, pode não ser traduzível,
mas certamente se manifesta por aquele salto quântico num universo por
decifrar.
Wednesday, November 21, 2012
Tuesday, November 20, 2012
Monday, November 19, 2012
Mundo de névoa
Há uma vida atrás da vida, uma irrealidade presente à
realidade, mundo das formas de névoa, mundo incoercível e fugidio, mundo da
surpresa e do aviso. Assim o próprio presente pode ter a voz do passado, vibrar
como ele à obscuridade de nós. A minha retórica vem do desejo de prender o que
me foge, de contar aos outros o que ainda não tem nome e onde as palavras se
dissipam com a névoa dos que narram.
Vergílio Ferreira in Aparição
Sunday, November 18, 2012
Testemunho de uma relação
Entre a
noite e o dia, depois de nascido o sol, dialogam-se palavras e gestos, mais os
segredos que o espaço encerra. Em território comum, os sinais de cumplicidade
são claros no convívio do dia-a-dia. Ela representa a gente anónima que chora e
ri, e será sempre dor, que com o animal de estimação tem um entendimento, em
risco de sucumbir em conjunto.
Saturday, November 17, 2012
A sombra do caminho
Em ti o meu olhar fez-se alvorada
E a minha voz
fez-se gorgeio de ninho...
E a minha rubra
boca apaixonada
Teve a frescura
pálida do linho...
Embriagou-me o teu beijo como um vinho
Fulvo de
Espanha, em taça cinzelada...
E a minha
cabeleireira desatada
Pôs a teus pés
a sombra dum caminho...
Minhas pálpebras são cor de verbena,
Eu tenho os
olhos garços, sou morena,
E para te
encontrar foi que eu nasci...
Tens sido vida fora o meu desejo
E agora, que te
falo, que te vejo,
Não sei se te
encontrei... se te perdi...
Florbela Espanca
Florbela Espanca
Friday, November 16, 2012
Em marcha
Com uma viagem em
perspectiva perco a noção do tempo, e ganho um outro fôlego. Continuar a descobrir
lugares diferentes, desperta-me emoções e exige-me um novo olhar para além do
pequeno mundo do meu quotidiano.
Thursday, November 15, 2012
Dilema
Alice encontrava-se no jardim, quando vê passar um coelho branco com um
relógio de bolso. Fascinada, segue-o e entra num buraco duma árvore. Cai
lentamente pela toca abaixo que, se alonga como um túnel desembocando num
corredor cheio de portas. Uma chave sobre a mesa abre uma porta minúscula com
acesso a um jardim. Alice quer ir até lá, mas a porta é muito pequena. Pouco
depois, encontra uma garrafa cheia de um líquido com um rótulo que lhe indica
que o deve beber, e um bolo com uma etiqueta onde se lê para o comer. Alice
prova os dois, e descobre que um deles faz com que diminua de tamanho, e que o
outro a faz crescer. Ou ela fica grande demais para passar pela porta, ou demasiado
pequena para alcançar a chave.
Wednesday, November 14, 2012
Tuesday, November 13, 2012
Uma questão de incerteza
de repente
todos os caminhos parecem de regresso
a vida por si
mesma não se pode escutar demasiado
a vida é uma
questão de tempo
um sopro ainda
mais frágil
a rapariga
desce à pequena praça,
compra uma flor
para ter na mão
uma forma intemporal
de conservar
a perfeição ou
a incerteza
José Tolentino Mendonça
Monday, November 12, 2012
A visita
Com vigilância máxima, a sua passagem durou apenas 6
horas, criando empatia nuns, e marcando apreensão e repúdio noutros.
Reconhecendo o esforço do país, a Chanceler Angela Merkel elogiou o nosso
desempenho, embora reconhecesse que o futuro fosse permanecer difícil. Preocupada
com a sua própria imagem, e ciente do peso económico que representa na cena
internacional, a política de austeridade é para continuar.
Em tempos de tragédia é sempre mais fácil ter alguém a quem culpar.
Em tempos de tragédia é sempre mais fácil ter alguém a quem culpar.
Sunday, November 11, 2012
Saturday, November 10, 2012
A paz permanente
E, porque a falta de paz nos causa
inquietação, procurar encontrar respostas mais profundas, e posturas mentais que
nos salvaguardem, sem sucumbir à negatividade, foi o que nos propôs a Brahma
Kumaris, em mais uma palestra, na Biblioteca Lídia Jorge. Aceitar as situações
quotidianas sem oferecer resistência interna, não só acautela a nossa própria
protecção, como nos ajuda a seguir na direcção certa através da consciência e
conhecimento. Cultivando o silêncio, a introversão, e a meditação, alimentamos
um padrão de sentimentos elevados que, só nos trazem benefícios. Só assim
experimentamos a harmonia e bem-estar em verdadeira plenitude.
Friday, November 9, 2012
Vagueando
Esta época do ano convida-nos a caminhar por jardins e
parques cobertos de folhas, quando a descoberta ganha uma força maior. Despidas
de folhagens, as árvores tornam-se personagens centrais dum cenário
absolutamente fulgurante, e tudo parece sussurrado pela suave brisa, ao sabor
do sonho do Outono.
Thursday, November 8, 2012
Antes do sol
...(Vem de antes do sol
A luz que em tua pupila me desenha.
Aceito amar-me assim
Refletida no olhar com que me vês.)
Adélia Prado in Balé - Divinópolis 1998
Wednesday, November 7, 2012
Longe em qualquer parte
Mais uma vez a perdi. Em cada minuto
a perco. Longe revolteiam suas palavras
e seus dedos depositam-se
em qualquer parte.
Se a busco? Esfaimadamente a busco.
Tacteando com a memória a forma com que era
nas noites de amor.
Reconstruindo sua espécie de enorme sorriso.
Busco-a sim, inventando subtilmente
o impudor de cada entrega,
a dádiva sobrenatural da sua carne aberta.
Mais uma vez foi destruída pela vida feroz,
a minha boca não suporta sem palavras
essa coisa mortal.
Sangrentas são as palavras e deixam vestígios
através do tempo.
Longe, naquilo que o acaso teceu,
elaboram-se os gestos. No casulo remoto
forma-se a distância
entre a sua fonte e a minha fonte.
- Com que ser se entende agora seu ser oculto?
E as voltas obscuras e difíceis
dos instintos.
Ela semeia-se. E alguma coisa misteriosamente
a fecunda.
- Ela é colhida por um vento e eu estou bêbedo
de coisas inextricáveis.
Sei que ela acontece. Um círculo de seda
forma-se prementemente,
e ela acontece.
A minha fonte não me dá ironia,
nem um fogo,
uma estrela violenta.
- Fico a saber que ela longe cresce
como outra folha de erva.
Nada em mim suporta. A memória
desimpede-lhe os pés, e beija-os.
Minhas pálpebras exaltam-na.
E a fonte, essa, recusa-a arduamente.
Recebo humildemente esta desordem
da carne, das palavras,
dos dedos bruscos do tempo.
- Recebo tudo, e canto como quem deixa um sinal
maravilhoso.
Herberto Helder in A Colher na Boca - 1961
a perco. Longe revolteiam suas palavras
e seus dedos depositam-se
em qualquer parte.
Se a busco? Esfaimadamente a busco.
Tacteando com a memória a forma com que era
nas noites de amor.
Reconstruindo sua espécie de enorme sorriso.
Busco-a sim, inventando subtilmente
o impudor de cada entrega,
a dádiva sobrenatural da sua carne aberta.
Mais uma vez foi destruída pela vida feroz,
a minha boca não suporta sem palavras
essa coisa mortal.
Sangrentas são as palavras e deixam vestígios
através do tempo.
Longe, naquilo que o acaso teceu,
elaboram-se os gestos. No casulo remoto
forma-se a distância
entre a sua fonte e a minha fonte.
- Com que ser se entende agora seu ser oculto?
E as voltas obscuras e difíceis
dos instintos.
Ela semeia-se. E alguma coisa misteriosamente
a fecunda.
- Ela é colhida por um vento e eu estou bêbedo
de coisas inextricáveis.
Sei que ela acontece. Um círculo de seda
forma-se prementemente,
e ela acontece.
A minha fonte não me dá ironia,
nem um fogo,
uma estrela violenta.
- Fico a saber que ela longe cresce
como outra folha de erva.
Nada em mim suporta. A memória
desimpede-lhe os pés, e beija-os.
Minhas pálpebras exaltam-na.
E a fonte, essa, recusa-a arduamente.
Recebo humildemente esta desordem
da carne, das palavras,
dos dedos bruscos do tempo.
- Recebo tudo, e canto como quem deixa um sinal
maravilhoso.
Herberto Helder in A Colher na Boca - 1961
Tuesday, November 6, 2012
Máquinas de campanha
O mundo está de olhos postos na América com os
spots publicitários mais caros de sempre. Com um sistema eleitoral sofisticado,
um guião, e uma coreografia ao milímetro, todos os esforços estão concentrados
na melhor forma de chegar aos eleitores, porta a porta, ou de outro modo
qualquer. O dinheiro corre em abundância, e as questões em causa prendem-se
principalmente com a economia, o resgate da indústria automóvel, o efeito do furacão
Sandy, os swing states, ou até a força do ex-presidente Bill Clinton. O melhor
estratega vencerá.
Monday, November 5, 2012
Encontro afectivo
Referência concreta quando crianças, um ursinho
extraído da irrealidade dos dias, torna-se indispensável em qualquer infância. Em
torno dele gira toda uma capacidade de invenção que, serve de delicioso
contraponto às angústias da idade.
Sunday, November 4, 2012
Saturday, November 3, 2012
Friday, November 2, 2012
A folhagem e o espaço
Algo nos cria e nos liberta dos absurdos cercos.
Despertámos para tocar a boca esquecida pela noite.
Somos a folhagem e o espaço, somos uma garganta fresca.
As sombras aquecem-nos e as estrelas visitam-nos.
O meu corpo é de argila estou vivo e aceito o dia.
António Ramos Rosa in corpo de argila de volante verde, 1986
Thursday, November 1, 2012
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