Esta manhã, voltei á escola, e com 2 turmas do 8º e 9º, mergulhei num estado de encantamento ao ouvir a justeza das palavras ao som da guitarra de Afonso Dias. Poemas e fragmentos declamados, rodeados de canções essenciais à vida, e que nos dão a capacidade de sonhar.
Tuesday, March 6, 2012
Sunday, March 4, 2012
Friday, March 2, 2012
Thursday, March 1, 2012
O regresso
Wednesday, February 29, 2012
Em trânsito
Monday, February 27, 2012
Sem tempo

Casas e almas
Entranha-se na escrita e molha-me
As palavras
Que nascem da manhã num trabalho de parto
Suave e melancólico.
Sinto nas vértebras a indecisão
Da vida,
A memória encoberta,
Todo o meu corpo se dissolve
Numa cinza líquida.
Morrer assim, seria a despedida do meu signo,
Água na água,
Assim como era no princípio.
Sinto o passado fluir
Por entre sombras que o presente
Não quer interpretar.
Fluidos são também os prédios que me deixam
Num mar de leite aéreo,
Droga feliz, sem álcool, sem química,
Sem ressaca.
Futuro? Que futuro?
São as próprias palavras que já nascem
Sem tempo.
Agora nada me devora.
Se eu próprio erguesse os braços como um espectro,
Quem me apontaria o caminho,
Aqui,
Neste país submerso?
Armando Silva Carvalho
Sunday, February 26, 2012
Êxito e lucro
Saturday, February 25, 2012
Trago nas mãos
Friday, February 24, 2012
Destaque

Decorreu neste fim de tarde, na Biblioteca Lídia Jorge, mais uma sessão integrada no ciclo de literatura de língua inglesa, pelo professor António Lopes da Universidade do Algarve. Invocando palavras e imagens, homenageou-se Oscar Wilde, dos êxitos à polémica da homossexualidade, que o terá levado à queda. Segundo este autor de linguagem acessível, humor refinado, exibicionista, e vaidade sem paralelo, a arte deveria transformar-nos o olhar e guiar as nossas vidas. Difícil seria mesmo imaginar melhor.
«A certeza é fatal. O que me encanta é a incerteza. A neblina torna as coisas maravilhosas.»
Oscar Wilde
Tuesday, February 21, 2012
Retratos vivos
Sunday, February 19, 2012
Procura-se futuro

Primeiro abatem-nos o sistema produtivo. Destruído o consumo, com o andar da carruagem, o empobrecimento torna-se de igual modo enigmático, generalizado. Crescemos pouco, sem que um novo caminho nos seja apontado, e com uma economia tão pequena e sem protecção, tudo o mais parece resvalar. A crise não pode resultar duma culpa moral, e a preocupação com o amanhã, infelizmente, não depende apenas da nossa vontade. As hesitações numa solução, e uma moeda demasiado forte mergulharam-nos no início do fim da Europa.
Saturday, February 18, 2012
Outras há
Wednesday, February 15, 2012
Interlocuções
Tuesday, February 14, 2012
Quando fecho os olhos
Sunday, February 12, 2012
Saturday, February 11, 2012
Abismo interior
Friday, February 10, 2012
A esperança

(...) Estava para lá da desilusão. Era cada vez menos a mãe dele. Sentia-se condenada e não abençoada. A maternidade abençoava. Aquilo não. O rapaz limpou-se às mangas, tentou talvez abraçá-la, mas ela fugiu-lhe, e ele pensou que estava obrigado a conquistar tudo de novo. Tudo o que seria seu por natureza, e que a natureza se esforçara por lhe levar, ele teria de reconquistar. Era como encontrar modo de regressar a uma máe. Voltar ao interior que tudo imagina e renascer perdoado, um filho perfeito. Os filhos perdoados são outra vez perfeitos. Ficou com essa esperança.
Valter Hugo Mãe in O filho de mil homens - Alfaguara 2011
Wednesday, February 8, 2012
Expansão de horizontes
Tudo está lá. Nas imagens perfeitas, que nos esvaziam, e fazem perder o sentido da distância. Advinha-se muito mais do que se vê, dando lugar ao espaço abstracto atrás do qual se esconde no decurso dos dias.
Sunday, February 5, 2012
O lugar de silêncio

Amo devagar os amigos que são tristes com cinco dedos de cada lado.
Os amigos que enlouquecem e estão sentados, fechando os olhos,
com os livros atrás a arder para toda a eternidade.
Não os chamo, e eles voltam-se profundamente
dentro do fogo.
— Temos um talento doloroso e obscuro.
Construímos um lugar de silêncio.
De paixão.
Herberto Helder
Os amigos que enlouquecem e estão sentados, fechando os olhos,
com os livros atrás a arder para toda a eternidade.
Não os chamo, e eles voltam-se profundamente
dentro do fogo.
— Temos um talento doloroso e obscuro.
Construímos um lugar de silêncio.
De paixão.
Herberto Helder
Friday, February 3, 2012
Uma manhã
Thursday, February 2, 2012
Monday, January 30, 2012
Lugar surpreendente
Sunday, January 29, 2012
Ao domingo

Para aconchegar o final das manhãs de domingo, nada melhor do que uma versão light de brunch, à sombra das buganvílias. À mesa, não falta o sumo de laranja natural, os ovos escalfados ou mexidos com cebolinho, o cesto com vários tipos de pão, e o mel da minha cunhada Patrícia, para degustar sem pressas.
Saturday, January 28, 2012
A incerteza dos dias
Num momento em que a austeridade tem um efeito devastador, e o presente compromete o futuro, falta criatividade a um país que, de dia para dia, parece diminuir. Porque a reestruturação da economia não se faz afundando-a, e sem qualquer visão de crescimento, dificilmente ultrapassaremos a crise. O que se esvaziou ao longo dos tempos, e poderia agora servir-nos para ao menos nos sustentar, esfumou-se num projecto europeu falhado sem soluções colectivas à vista.
Friday, January 27, 2012
O outro lado do tempo
As nuvens sobrevoaram os poemas. Os poemas desapareceram. Submersos no limbo. Ou ocultados por uma folha amarelecida, quase ao rés da terra, na floresta nocturna de repente incognoscível. Os poemas foram deslizando para o outro lado do tempo. Quem os escreveu deu-os por perdidos, dolorosamente ignorante da viagem secreta.
Os poemas desapareceram.
Contradizendo o abismo irremediável, os poemas emergiram na manhã seguinte. Cobertos de orvalho.
Alberto de Lacerda in O Pajem Formidável dos Indícios (Assírio Alvim)
Contradizendo o abismo irremediável, os poemas emergiram na manhã seguinte. Cobertos de orvalho.
Alberto de Lacerda in O Pajem Formidável dos Indícios (Assírio Alvim)
Thursday, January 26, 2012
Na solidão da noite

(…) E ele atravessa a rua, passando pelo tempo, de pedra em pedra, com um cigarro na mão para pedir lume ao cigarro alheio, que brilha no outro lado, ao cimo dos três degraus.
Vai ser assim: dá-me lume, por favor?, e o cigarro encostar-se-á ao seu, o lume passará de um para outro, de uma pessoa para outra pessoa, e então, no meio da eternidade deserta, será sim o dia de hoje.
Mas a noite é imensa, quer dizer: a noite do lugar e do tempo, a noite da nossa solidão — é imensa, e apenas um pequeno órgão vivo palpita algures, vibra rapidamente, e amortece-se, e desaparece.
Então, uma vez mais a noite se levanta de nós, e o que estremece é a carne, a nossa, cega e desamparada — mas fremente na sua cegueira e desamparo.
Sabes que estás só? — pergunta a carne à carne —, sabes que a noite se ergueu de ti, como se fosses o seu próprio e único talento, e que esse talento te cerca como uma atmosfera, o morto clima que transportas em ti, de um lado para outro, ao longo das pedras, ao longo de todos os lugares do homem?
Ela sabe, ou pelo menos sabe que sabe.
E é demasiado.
Por isso, olha e espera.
E vê de novo a brasa que estremece na escuridão como uma planta que crescesse e florescesse na terra negra, ou um animal cujo calor abrisse uma brecha no tempo frio.
A carne embriaga-se com imprecisas metáforas de salvação — que salvação?! — com um movimento subterrâneo de analogias, e ele diz: vou pedir-lhe lume.
Herberto Helder in Apresentação do Rosto - editora ulisseia 1968
Monday, January 23, 2012
Despertar
Aquela de saber vasto e profundo,
Aos pés de quem a Terra anda curvada!
E quando mais no céu eu vou sonhando,
E quando mais no alto ando voando,
Acordo do meu sonho ... E não sou nada!
Florbela Espanca in Vaidade
Saturday, January 21, 2012
Estado puro
A terra em Monchique é pedregosa, os arbustos enormes, e toda a demais vegetação é densa e exuberante. Particularmente notória é a transparência da água, e o misterioso contorno das rochas que, lhe imprimem uma infinita grandeza. A chegada a Fóia permite-me um outro fôlego, que elimina quaisquer palavras. Suspensa do topo, acima de qualquer compreensão, reflicto sobre o que realmente me é indispensável, ou terá utilidade futura, no final dum tempo, que ascende à redescoberta de outros horizontes.
Wednesday, January 18, 2012
Apelo
Sunday, January 15, 2012
A debandada
Neste espaço sem espaço
a incógnita dos dias
de tons frios e sombrios
e luta contra o infortúnio
há quem transponha fronteiras
atravessando o tempo
lado a lado
sem deixar rasto
Thursday, January 12, 2012
Tuesday, January 10, 2012
Monday, January 9, 2012
Sunday, January 8, 2012
O minúsculo sol

Longe de mim querer corromper a juventude,
É um trabalho que sobreleva as
Minhas capacidades.
Antes cicuta.
Mas tenho que explicar o sentido
Da palavra “desesperança”.
É uma esperança negativa.
A gente senta-se num cais
E deixa o sol trabalhar.
O sol minúsculo, isto é, o calor na pele.
Chamo a isto a experiência mínima.
Feito isto:
Venha de lá então
Essa catástrofe.
Manuel Resende, O mundo clamoroso, ainda (2004)
É um trabalho que sobreleva as
Minhas capacidades.
Antes cicuta.
Mas tenho que explicar o sentido
Da palavra “desesperança”.
É uma esperança negativa.
A gente senta-se num cais
E deixa o sol trabalhar.
O sol minúsculo, isto é, o calor na pele.
Chamo a isto a experiência mínima.
Feito isto:
Venha de lá então
Essa catástrofe.
Manuel Resende, O mundo clamoroso, ainda (2004)
Subscribe to:
Posts (Atom)