Saturday, February 5, 2011

A cidade

A cidade é um chão de palavras pisadas
a palavra criança a palavra segredo.
A cidade é um céu de palavras paradas
a palavra distância e a palavra medo.

A cidade é um saco um pulmão que respira
pela palavra água pela palavra brisa
A cidade é um poro um corpo que transpira
pela palavra sangue pela palavra ira.

A cidade tem praças de palavras abertas
como estátuas mandadas apear.
A cidade tem ruas de palavras desertas
como jardins mandados arrancar.

A palavra sarcasmo é uma rosa rubra.
A palavra silêncio é uma rosa chá.
Não há céu de palavras que a cidade não cubra
não há rua de sons que a palavra não corra
à procura da sombra de uma luz que não há.

José Carlos Ary dos Santos

Friday, February 4, 2011

A alma do sorriso

Faz parte de cada um de nós, e é uma outra forma de dar. Sorrir para quem passa, ou com quem nos cruzamos, é importante e, não só promove ânimo, como ilumina o mundo inteiro. Não exige esforço, e uns breves movimentos musculares são suficientes para nos aproximar dos outros. Se hoje ainda não manifestou simpatia por alguém, esboce um sorriso, distribuindo alegria à sua volta.

Monday, January 24, 2011

Companheiros dedicados

Sem sinais de malícia ou falsidade, e de temperamento dócil, são dotados de excelente olfacto. Grandes parceiros, a sua fidelidade é absoluta, e o carácter carinhoso e a inteligência notável resumem os seus principais traços. Os olhos expressam doçura, as orelhas são sedosas, e valentes e corajosos, facilmente, se afeiçoam aos donos. O simples prazer de uma caminhada dá-lhes toda a felicidade do mundo, e confesso que, já não concebo a minha vida sem um cão!
O Projecto de Ajuda Alimentar Animal aceita todo o tipo de doações desde rações, medicamentos, abrigos, cobertores, coleiras, escovas e materiais de limpeza. Se quiser contribuir contacte através dos seguintes números de telefone: 91-8597018 – 91-4061201 – 96-8528680 ou 96-3500557 ou do e-mail: paaa.algarve@gmail.com

Sunday, January 23, 2011

Dentro do sonho

Neste dia de mar e nevoeiro
É tão próximo o teu rosto

São os longos horizontes
Os ritmos soltos dos ventos
E aquelas aves
Que desde o princípio das estações
Fizeram ninhos e emigraram
Para que num dia inverso tu as visses

Aquelas aves que tinham
uma memória eterna do teu rosto
E voam sempre dentro do teu sonho
Como se o teu olhar as sustentasse

Sophia de Mello Breyner Andresen

Thursday, January 20, 2011

Em movimento

No decurso dos dias e semanas as diferenças na cor são perceptíveis. Aromatizados pelas flores, os campos irradiam de alegria! Em cada passeio, entre a luz e a sombra, é possível captar momentos de improviso proporcionados por um cenário de evasão, num errático jogo de sedução e magia. Da terra molhada brotam agora cachos de flores miudinhas de um colorido suave que, silenciosamente, desabrocham no tempo.

Saturday, January 15, 2011

Lisboa

Digo:
"Lisboa"
Quando atravesso - vinda do sul - o rio
E a cidade a que chego abre-se como se do meu nome nascesse
Abre-se e ergue-se em sua extensão nocturna
Em seu longo luzir de azul e rio
Em seu corpo amontoado de colinas -
Vejo-a melhor porque a digo
Tudo se mostra melhor porque digo
Tudo mostra melhor o seu estar e a sua carência
Porque digo
Lisboa com seu nome de ser e de não-ser
Com seus meandros de espanto insónia e lata
E seu secreto rebrilhar de coisa de teatro
Seu conivente sorrir de intriga e máscara
Enquanto o largo mar a Ocidente se dilata
Lisboa oscilando como uma grande barca
Lisboa cruelmente construída ao longo da sua própria ausência
Digo o nome da cidade
- Digo para ver

Sophia de Mello Breyner Andresen

Tuesday, January 11, 2011

Interagindo

O «Capricho» faz hoje três anos de vida, embalando-me os dias em cumplicidade com muita gente desconhecida. Entre o real e o virtual está a vontade de afirmação neste exercício de liberdade plena. Obrigada por ser nosso leitor/a, e continue desse lado na nossa companhia.

Thursday, January 6, 2011

Valores tradicionais


No dia em que se comemora a visita dos Reis Magos, a época de Natal chega ao seu termo. O vaso com terra, a árvore iluminada e as bolas coloridas, utilizadas para decorar as nossas casas, são cuidadosamente retiradas, até que daqui a um ano voltem a ser reutilizadas com grande expectativa. Encerra-se assim um ciclo de momentos solenes, em que as tradições estão associadas à união das famílias, e à promoção da paz em todo o mundo.

Wednesday, January 5, 2011

Uma árvore

Há uma árvore de gotas em todos os paraísos.
Com o rosto molhado,
eu posso ficar com o rosto molhado,
com os olhos grandes.
Neste lugar absoluto pelo sopro,
fervem as víboras de ouro aos nós
sobre as pedras enterradas. Leopardos
lambem-nos as mãos giratórias.
E eu abro a pedra para ver a água estremecendo.
A água embebeda-me.
Como nos corredores de uma casa brilha o ar,
brilha como entre os dedos.
- A minha vida é incalculável.

Herberto Helder

Monday, January 3, 2011

Nova etapa

A chuva traz-nos o despertar de um novo ciclo, quando a natureza abandona o estado de sonolência, e volta a entrar em acção. Os campos encontram-se, agora, coloridos entre o amarelo e o verde-limão. É o alecrim que lhes dá fragrância, e, a floração abundante resulta num surpreendente efeito de espontaneidade. Ao longo da muralha, mergulho na paisagem de uma verdade maior.

Sunday, January 2, 2011

Hábitos e sabores

Durante quatro dias, a freguesia de Paderne recuou no tempo, recriando acontecimentos que, sem dúvida marcaram a história da Idade Média. Em clima de encenação, as expectativas dos visitantes não saíram logradas, quando se tratou das vestes, e dos mais variados produtos e manjares, da dieta alimentar daquela época.

Saturday, January 1, 2011

Ao novo ano

Deixei-o a marinar de véspera. Hoje, só tive que o colocar no tabuleiro de ir ao forno, devidamente pré-aquecido, até que o pato ganhasse uma aparência dourada e estaladiça. De vez em quando espreitava, regando-o com o molho denso e adocicado do sumo de laranja. Às batatas assadas com casca, acrescentei-lhes um raminho de alecrim, colhido nas minhas incursões pelo campo. As couves-de-bruxelas foram salteadas em manteiga.
E, quanto ao vinho, a escolha recaiu num tinto do Douro (de entre todos o meu preferido), de final longo e intenso - a combinação perfeita para acompanhar o pato.
Que 2011 nos abra as melhores perspectivas!

Friday, December 31, 2010

Novo fôlego

Prevê-se difícil, mas não impossível. O novo ano apenas exige que congreguemos esforços. Num momento em que toda a estrutura está a ser abalada, que tenhamos a capacidade de nos modificarmos a nós próprios, para uma outra interpretação da realidade. Assim, não ignoremos a crise, mas não nos deixemos sucumbir, sem mais nem menos, por ela. E, porque as escolhas comportam renúncias, enfrentemos 2011 com alegria e sensibilidade, num percurso de inspiração para além de quaisquer dificuldades.

Thursday, December 30, 2010

Cores variadas

A aventura continua conduzida pelo Rico que, nos guia por entre caminhos de casas em ruínas, cercadas de verde a perder de vista. Ao longo de atalhos mais rectos, ou sinuosos, é sempre possível reparar nos arbustos com bagas coloridas que, nos alegram os dias apesar dos espinhos, ou no desalinho da vegetação descobrir, num canto esquecido, uma solitária flor amarela, ou uma rosa pendente, exalando um perfume em harmonia com o entardecer.

Tuesday, December 28, 2010

O nevoeiro

Toda a poesia é luminosa, até
a mais obscura.
O leitor é que tem às vezes,
em lugar de sol, nevoeiro dentro de si.
E o nevoeiro nunca deixa ver claro.
Se regressar
outra vez e outra vez
e outra vez
a essas sílabas acesas
ficará cego de tanta claridade.
Abençoado seja se lá chegar.

Eugénio de Andrade - Os Sulcos da Sede

Monday, December 27, 2010

Magia indescritível

A série de passeios iniciados no Outono parece não ter fim. Agora, que tomei o gosto, sonho em conhecer todas as redondezas. E, sem dúvida que, a forma como recebemos as surpresas de cada instante, é o que mais encanto dá aos nossos dias. Repleta de cores, a beleza inédita da natureza, apresenta-me soluções de enorme profundidade e poesia.