(…) «Nome de rua quieta onde à noite ninguém passa. Onde a sombra de um poeta de repente nos abraça. Nome de rua secreta onde à noite ninguém passa. Onde o ciúme é uma seta, onde o amor é uma taça.»
Esta névoa sobre a cidade, o rio, as gaivotas de outros dias, barcos, gente apressada ou com o tempo todo para perder, esta névoa onde começa a luz de Lisboa, rosa e limão sobre o Tejo, esta luz de água, nada mais quero de degrau em degrau
Quem me dera ter raízes, que me prendessem ao chão. Que não me deixassem dar um passo que fosse em vão. Que me deixassem crescer silencioso e erecto, como um pinheiro de riga, uma faia ou um abeto. Quem me dera ter raízes, raízes em vez de pés. Como o lodão, o aloendro, o ácer e o aloés. Sentir a copa vergar, quando passasse um tufão. E ficar bem agarrado, pelas raízes, ao chão.
A viagem é curta, e de barco depressa se chega do leste de Londres a Greenwich, na margem sul do Tamisa, quando o vento cessa de soprar. Greenwich, uma absoluta referência ao afirmar-se entre as datas de todo o mundo!
Por entre a vegetação, perco-me nas cores mais profundas das folhas que, o vento sopra e faz rodopiar. Sigo-lhes o rasto, lá, onde o Outono me desestabiliza infinitamente.
estende a tua mão contra a minha boca e respira, e sente como respiro contra ela, e sem que eu nada diga, sente a trémula, tocada coluna de ar a sorvo e sopro, ó táctil, ininterrupta, e a tua mão sinta contra mim quanto aumenta o mundo
Herberto Helder in a faca não corta o fogo - assírio & alvim - 2008
Marcados pela austeridade, e expostos ao cenário internacional, os dias vão passando sem ninguém imune a sacrifícios. O lucro definitivamente faliu e o grau de desequilíbrio é tão grande que nos leva inevitavelmente a olhar sobre nós mesmos e a pensar no que se esvaziou ao longo dos tempos. É importante reflectir sobre a nova realidade e trazer propostas diferenciadas, recuperando ideais e revitalizando recursos, tentando obter vantagens pelos caminhos por onde poucos passam. Só outras dinâmicas e novos valores nos poderão sustentar, marcando o fim do jogo, sem pôr em causa compromissos.
No seguimento da obra anterior, Nelson Moniz reflecte sobre as incertezas do quotidiano e toda a ambiguidade da existência, oscilando entre o passado e o presente, com a paisagem marítima como cenário. Na apresentação de Diário de Bruma, este poeta que é professor, contou com a participação de alguns dos seus alunos que segundo o próprio são estrelinhas de uma constelação maior!
A Orquestra do Algarve dirigida por Pedro Neves, regressou ao Auditório Municipal de Albufeira para apresentar obras de Haydn. Músico da corte começou a compor ainda muito jovem óperas, sinfonias, quartetos para cordas e música de câmara, encontrando-se entre os maiores nomes da música erudita da sua época.
Nesta luz quase louca que se prende aos telhados às árvores aos cabelos das mulheres aos olhos mais sombrios falamos de ti do teu alto exemplo e é com intimidade que o fazemos falamos de ti como se fosses a árvore mais luminosa ou a mulher mais bela mais humana que passasse por nós com os olhos da vertigem arrastando toda a luz consigo
Afastada do mar, o que a distingue é o charme e a tradição de outros tempos. Loulé é um dos maiores centros urbanos do Algarve, no sul de Portugal, com o castelo e as muralhas do século XIII, as ruas calcetadas, prédios residenciais antigos, o Mercado Municipal de inspiração árabe, e bem servida de opções a nível de restauração
De crise em crise, e expostos ao cenário internacional, cada vez mais visível, é preciso pensar global e respirar novas ideias. O mundo tal como o conhecíamos deu lugar a uma outra realidade, sem que ninguém assuma uma verdadeira solução política, e o que serviu no passado passou a entrar em conflito com os interesses de hoje em dia. Numa altura em que o ideal europeu parece ter-se diluído, exige-se um esforço conjunto que não ponha em causa o bem comum ou a solidariedade.
Há dias habitados de sombras e dispersos na cor quando o sol me faz falta e o procuro projectar no desenrolar de horizontes, esfuziante, compondo cenários à espera de ver mais para além da imaginação até ao anoitecer
Do ponto mais alto, espraio a vista por entre recortes de árvores de cores profundas até à água, projectada para o regadio que, dá vida à terra fértil.
na hora de pôr a mesa, éramos cinco: o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs e eu. depois, a minha irmã mais velha casou-se. depois, a minha irmã mais nova casou-se. depois, o meu pai morreu. hoje, na hora de pôr a mesa, somos cinco, menos a minha irmã mais velha que está na casa dela, menos a minha irmã mais nova que está na casa dela, menos o meu pai, menos a minha mãe viuva. cada um deles é um lugar vazio nesta mesa onde como sozinho. mas irão estar sempre aqui.
na hora de pôr a mesa, seremos sempre cinco. enquanto um de nós estiver vivo, seremos sempre cinco.