Monday, October 1, 2012

Cobrir o buraco


Na política tal como na vida há estragos irreversíveis. E, o que fica dos dias é a ânsia de alcançar um objectivo matematicamente inatingível, quando sem moeda própria a única coisa a fazer é rever o memorando. Mesmo antes das medidas de austeridade serem aplicadas já se sabia que não iriam resultar. Seria importante juntar esforços e num exercício conjunto, agora mais do que nunca, procurar caminhos alternativos, uma vez que a capacidade de tolerância terminou. A questão que se coloca é se a confiança perdida ainda será recuperável!?

Sunday, September 30, 2012

Outra realidade


Os dias são mais curtos, e as temperaturas baixam quando as folhas das árvores amarelecem, e os frutos amadurecem acabando por cair, a um ritmo sequencial, em que tudo encaixa. Anda-se ao sol e à chuva, debaixo de vento e, por vezes, no meio da neblina da manhã. As cores no Outono tornam-se tão intensas quanto subtis. Passo a passo, vamos dando conta das metamorfoses da natureza, até que chega o tempo de vindimas e colheitas, e as belas paisagens se estendem pelo nosso olhar.

Saturday, September 29, 2012

Do outro lado


Eu amo a Lua do lado que eu nunca vi.

Almada Negreiros in Frisos

Friday, September 28, 2012

Chaminés do sul





Esguias, mais simples ou elaboradas, rendilhadas ou com filigranas, eis que espreitam dos telhados mouriscos de casinhas caiadas simbolizando todo o prestígio do sul de Portugal. Observá-las, apreciando as suas linhas, perspectivas, vértices, e cada um dos pormenores que reclamam imponência, sem lhes tocar, é um fascínio único que evoca as memórias do passado da região.

Thursday, September 27, 2012

O barco escondido


A meu favor
Tenho o verde secreto dos teus olhos
Algumas palavras de ódio algumas palavras de amor
O tapete que vai partir para o infinito
Esta noite ou uma noite qualquer

A meu favor
As paredes que insultam devagar
Certo refúgio acima do murmúrio
Que da vida corrente teime em vir
O barco escondido pela folhagem
O jardim onde a aventura recomeça.

A meu favor tenho uma rua em transe
Um alto incêndio em nome de nós todos

Alexandre O'Neill

Wednesday, September 26, 2012

Os instantes do tempo


Por estes dias, o Outono traz-nos uma nova linguagem impregnada de contemplativa poesia. Em permanente reformulação, convida-nos a viver um universo de cores profundas que, nos prendem o olhar. Perante a iminência de chuva, pequenos passos levam-me longe na paisagem que se transforma, sob uma luz dourada, após a sombra cair.

Tuesday, September 25, 2012

Fenómenos do fogo


 A faca não corta o fogo,
 não me corta o sangue escrito,
 não corta a água,
 e quem não queria uma língua dentro da própria língua?
 eu sim queria,
 jogando linho com dedos, conjugando
 onde os verbos não conjugam,
 no mundo há poucos fenómenos do fogo,
 água há pouca,
 mas a língua, fia-se a gente dela por não ser como se queria,
 mais brotada, inerente, incalculável,
 e se a mão fia a estriga e a retoma do nada,
 e a abre e fecha,
 é que sim que eu a amava como bárbara maravilha,
 porque no mundo há pouco fogo a cortar
 e a água cortada é pouca,
 ¡que língua,
 que húmida, muda, miúda, relativa, absoluta,
 e que pouca, incrível, muita,
 e la poésie, c'est quand le quotidien devient extraordinaire, e que música,
 que despropósito, que língua língua,
 disse Maurice Lefèvre, e como rebenta com a boca!
 queria-a toda

 Herberto Helder in Ofício Cantante (1930)

Monday, September 24, 2012

Improvisações


Sunday, September 23, 2012

Saudade

(...) O que é que eu digo à saudade
sem teus olhos para me olhar
o que é que eu digo à saudade
sem teus lábios para beijar

O que é que eu digo à saudade
sem teu corpo para amar
o que é que eu digo à saudade
se não me vens abraçar

O que é que eu digo à saudade
sem teu cheiro respirar
o que é que eu digo à saudade
com tanto amor para dar (...)

Do fado O que é que eu digo à saudade de Mário Raínho e José Luís Gordo

Saturday, September 22, 2012

Espaço central





Florescem em abundância e sem limites, um pouco, por todo o meu jardim. Crescem, principalmente, no alpendre, apoiadas em postes ao longo de vigas transversais num trajecto de enquadramento artístico. Emaranhadas em cachos de cores exuberantes, terminam nalguns ramos pendentes que, por vezes, nos impedem a passagem. 

Friday, September 21, 2012

A cor do calor


Thursday, September 20, 2012

O tempo

Eu quero apenas amar-te lentamente
Como se todo o tempo fosse nosso
Como se todo o tempo fosse pouco
Como se nem sequer houvesse tempo



Joaquim Pessoa in O Pouco é Para Ontem - Litexa Editora, 2008

Wednesday, September 19, 2012

Plena de luz








Sem pressas, recupero o caminho, furtando-me aos melodramas, pelo final da tarde. No lugar certo, em contraste com a tensão dos dias, a passagem do tempo não tem fim à vista. É lá que me desengano ofuscada por um sol que se perpetua.

Tuesday, September 18, 2012

Um passeio de automóvel


O verão é feito de coisas
que não precisam de nome
um passeio de automóvel pela costa
o tempo incalculável de uma presença
o sofrimento que nos faz contar
um por um os peixes do tanque
e abandoná-los depressa
às suas voltas escuras



José Tolentino de Mendonça in De Igual para Igual - Assírio & Alvim -
 Lisboa, 2001.

Monday, September 17, 2012

Duo artístico


Sunday, September 16, 2012

Não há poente

Depois de te viver não há poente nem o enfim de um fim.

Mia Couto in Já não há domingos


Saturday, September 15, 2012

Protestos


E, quando o desânimo nos retira a esperança, e nos diminui a expectativa de futuro, eis que a sociedade civil se renova ao decidir manifestar-se, acreditando que ainda haverá uma causa e uma nova resposta que leve os agentes políticos a corrigir posições, em nome duma moralidade perdida.

Friday, September 14, 2012

Um pouco de esperança


O que peço ao dia é simplesmente
um pouco de esperança, essa forma modesta
de felicidade.

Vicente Gallego

Thursday, September 13, 2012

Ao lusco fusco


Hoje não trago nada que dizer.
Sossega o teu rosto no meu peito
Repousa em mim a tua tristeza
Ouve os segredos que te não digo
E a canção de forte esperança
Que germina e rompe devagarinho
Por todos os caminhos da vida.

Na pureza desta tarde,
Ao lusco fusco,
Abre comigo os olhos para os belos horizontes

Cada poente mistifica sempre
Uma nova madrugada.
Repousa em mim a tua tristeza
Abre comigo os olhos para a vida.

Hoje a minha voz é de búzio
Fala baixo e em segredo
Numa canção que enche o mar, o mundo,
e germina e rompe devagarinho
Por sobre os escombros de luz
Deste poente que cai sobre o mar
Numa angústia de eternidade.

TOMÁS JORGE - POETAS ANGOLANOS (1959) IN ANTOLOGIAS DE POESIA DOS ESTUDANTES DO IMPÉRIO 1951-1963, Vol. I (ACEI, 1994)
Repousa em mim a tua tristeza
Abre comigo os olhos para a vida.

Hoje a minha voz é de búzio
Fala baixo e em segredo
Numa canção que enche o mar, o mundo,
e germina e rompe devagarinho
Por sobre os escombros de luz
Deste poente que cai sobre o mar
Numa angústia de eternidade.

Wednesday, September 12, 2012