Quem me lá levou foi uma amiga em comum. Surpreendi-a no seu recôndito recanto, entre o colorido de mil flores, e alguns dos seus animais de estimação. A saber as cadelas Diana, e Carlota, o coelho Nini, e a galinha Nandinha. Com isto espero não estar a cometer nenhuma inconfidência, pois afinal foi há pouco tempo que me aproximei da Mécia, a propósito do seu fantástico quadro «Outono no Canal». Fui em busca de mais obras-primas, mas surpreendentemente constatei, que apenas pinta há 2 anos, e é na salinha da máquina de costura que me deparo com os arcos de Faro, Lagoa, e Albufeira, executados a lápis de aguarela, quando se inicia. Por cima da lareira encontra-se o seu quadro das «Papoilas» em pastel seco, enquanto que a «Rosa» tem lugar de destaque no quarto, ambos de 2006. O ponto de cruz é também o seu forte, e já em 1998 o jeito lhe é reconhecido através duma menção honrosa, num concurso a que terá participado em Vila Nova de Gaia. Mas os seus talentos não ficam por aqui, e apesar de lhe notar uma certa reserva, inesperadamente prolonga-nos a tarde partilhando connosco um momento poético. Os sons, e as cadências despertam um passado adormecido amargurado, que em nada se parece já com o seu presente. Actualmente, os dias para a Mécia decorrem na tranquilidade da sua casa térrea, na companhia dos que lhe são mais fiéis, reproduzindo da sua marquise repleta de luz, uma a uma, as maravilhosas flores que a rodeiam.
No poema ficou o fogo mais secreto
O intenso fogo devorador das coisas
Que esteve sempre muito longe e muito perto
No poema ficou o fogo mais secreto
O intenso fogo devorador das coisas
Que esteve sempre muito longe e muito perto
Sophia de Mello Breyner Andresen
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