Ao aguardar pela minha vez, pela consulta de especialidade, fui folheando aquelas revistas habituais que se encontram em qualquer consultório que se preze. Neste caso no hospital. Foi então que dei de caras com uma crónica de António Lobo Antunes que a dado momento rezava assim:
«Em criança, quando me davam a sopa, fixava-me no prato à espera da rã que saltava um muro, impressa no fundo. A partir de não sei quantas colheres ia surgindo a pouco e pouco, colorida, feliz, de suspensórios e calções
- Não quero mais, já se vê a rã e insistiam
- Só esta
a mentirem-me porque o esta eram várias. Até rapavam a loiça
- É a última, a sério
e ao deslaçarem o babete da nuca magoavam-me sempre. Sopa de couves, sopa de feijão, sopa de ervilhas, a quantidade de sopas que me obrigaram a empanzinar, meu Deus. E bife raspado. E puré. E xarope no fim, de frascos de rótulo peganhento, tanto xarope que cá canta também.»
Esta passagem trouxe-me à memória alguns episódios da minha própria infância. Afinal também eu me lembro de usar babete, das mesmas sopas, e bifinhos raspados, e até do peganhento óleo de fígado de bacalhau, recomendado pelo pediatra. Contudo no meu prato, que por acaso tinha a cor amarela, não havia espaço para qualquer rã, e nunca foi necessário o uso de quaisquer estratagemas para me convencerem a comer tudo. Porém, o mesmo não se passou com alguns dos meus 5 irmãos. Foi então que me veio à mente uns versinhos que o meu pai recitava em jeito de lengalenga, numa dessas pontuais situações de birra, que por sua vez já teria ouvido de uma sua avó, e que eu nunca mais esqueci.
«Em criança, quando me davam a sopa, fixava-me no prato à espera da rã que saltava um muro, impressa no fundo. A partir de não sei quantas colheres ia surgindo a pouco e pouco, colorida, feliz, de suspensórios e calções
- Não quero mais, já se vê a rã e insistiam
- Só esta
a mentirem-me porque o esta eram várias. Até rapavam a loiça
- É a última, a sério
e ao deslaçarem o babete da nuca magoavam-me sempre. Sopa de couves, sopa de feijão, sopa de ervilhas, a quantidade de sopas que me obrigaram a empanzinar, meu Deus. E bife raspado. E puré. E xarope no fim, de frascos de rótulo peganhento, tanto xarope que cá canta também.»
Esta passagem trouxe-me à memória alguns episódios da minha própria infância. Afinal também eu me lembro de usar babete, das mesmas sopas, e bifinhos raspados, e até do peganhento óleo de fígado de bacalhau, recomendado pelo pediatra. Contudo no meu prato, que por acaso tinha a cor amarela, não havia espaço para qualquer rã, e nunca foi necessário o uso de quaisquer estratagemas para me convencerem a comer tudo. Porém, o mesmo não se passou com alguns dos meus 5 irmãos. Foi então que me veio à mente uns versinhos que o meu pai recitava em jeito de lengalenga, numa dessas pontuais situações de birra, que por sua vez já teria ouvido de uma sua avó, e que eu nunca mais esqueci.
- Ó Papim papa a papinha
Papinha papa de pão
Papa-a ao pé do papá
Se o Papim não papa a papa
O papão papa o Papim
E o Papim já papa a papa
Para que o não pape o papão
Papa-a ao pé do papá
Se o Papim não papa a papa
O papão papa o Papim
E o Papim já papa a papa
Para que o não pape o papão
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