Wednesday, April 21, 2010

Um pouco maiores

Numa manhã inteiramente dedicada à poesia, uma vez mais, deixamo-nos guiar pela voz de Afonso Dias, que a cobriu de melodia, simplesmente para nos seduzir! Através dos versos dos poetas que nos imortalizam a língua, fomos desde logo apresentados à prosa poética de Mia Couto, cujas palavras inventadas, evocam imagens fantásticas dum universo vivo em histórias, dos quais os seus «Contos do Nascer da Terra» são um bom exemplo. Também os poemas com sotaque marcaram presença, e foi um prazer voltar a ouvir a bailarina de Cecília Meireles, a tal que «Roda, roda, roda, com os bracinhos no ar/ e não fica tonta nem sai do lugar/Põe no cabelo uma estrela e um véu/ e diz que caíu do céu.», ou o trem de ferro de Manuel Bandeira: «Agora sim/Café com pão/Agora sim»! Prosseguindo a viagem, também Fernando Pessoa, num poema destinado à Lili, diz que «No comboio descendente/Vinha tudo à gargalhada/Uns por verem rir os outros/E os outros sem ser por nada». Alexandre O’Neill, antecipa-nos por sua vez, o significado da palavra amigo quando fala que «Amigo é um sorriso de boca em boca» ou mais adiante «Amigo vai ser,/é já uma grande festa!». Luís de Camões não escapa igualmente ao rol. E, se os Lusíadas davam para um ou mais guiões de filmes, todo o perfume do amor habita na sua poesia, quando escreve que «amor é fogo que arde sem se ver/É ferida que dói e não se sente/ É um contentamento descontente/É dor que desatina sem doer» num verdadeiro jogo de opostos. Já para António Gedeão através da «Pedra Filosofal», a poesia alimenta-nos os sonhos e, é da opinião que «Eles não sabem, nem sonham,/que o sonho comanda a vida,/que sempre que um homem sonha/o mundo pula e avança/como bola colorida/entre as mãos de uma criança.». E, porque a musicalidade é uma faceta da poesia, as canções de Zeca Afonso também não podiam ficar esquecidas, lembrando «Venham mais cinco», ou a «Balada do Sino», cantarolada mais baixo, para melhor se ouvir o silêncio! Dali navegámos com Cabral do Nascimento: «Fui ao mar buscar sardinha/E encontrei uma sereia./Agora, pensei, é minha./Virei mais logo à tardinha./Quando, nos longes da areia,/ A negra sombra caminha./Mas rompeu a lua cheia/ E todos viram que eu vinha…/Adeus, disse eu./E larguei-a.» À poesia é que confesso ter sido difícil largar, porque em momentos mais nobres, nos elevou a um patamar mais alto, dando-nos a oportunidade de ver mais longe, e com muito mais minúcia.

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