Enquanto o deixo em infusão por alguns minutos, abraço a paisagem do lado de lá da vidraça. Emergindo do verde, a cultura alinhada do chá dá expressão ao declive numa sinfonia de cores. Bela-luisa, poejo, tília, camomila, príncipe, todos lá estão.
As nuvens cobrem o sol, mas o ar é lavado, e a lindíssima vista é para longe que me leva. Contudo, é na partilha da amizade que me reencontro, ao mesmo tempo que a subtileza das palavras me distancia do mundo real. Prevalece tão-somente o momento dos versos populares e dos poemas que falam, e retêm o amor absoluto e sem fim. Eis que o adoço com mel, vagarosamente saboreando o agradável trago e o suave aroma, que quente e reconfortante me anima por dentro e me restaura os níveis de energia. Enfeitada de flores, dos jardins de cada convidada, a mesa ganha nova tonalidade até que chegam os scones e compota, e para as mais gulosas o bolo de chocolate e os doces tradicionais! De colo em colo chora o Pedrinho, cuja mãe irradia para além de si. Em contraluz, filtrado pelos vidros do terraço, um raio de sol reflecte o horizonte já quase impossível de identificar.
O poema habitará
O espaço mais concreto e mais atento
Sophia de Mello Breyner Andresen
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