Thursday, March 31, 2011

O muro


A mão preferida pelo silêncio

evoca sobre o muro

um alfabeto sem vincos

não é mão é uma luz que sobe pela colina

um atalho entre as estevas

um incêndio na mata

a rapariga louca, grita contra a noite

na enseada


A mão preferida pelo silêncio

folheia o livro dos incêndios torna-se irremediavelmente suja

sobre o muro traça os vincos

os primeiros versos


A mão preferida pelo silêncio

não conhece repouso

quando atravessa a noite da enseada

é a mão trémula

pobre

assinalada pela escassez extrema dos nomes


José Tolentino de Mendonça in de Longe Não Sabia(1997)

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