Thursday, June 30, 2011

Recriar memórias








Distante do urbanismo difuso, há um tempo em cada dia que, ao sabor de impulsos, uma a uma, vou colhendo arbitrariamente as flores dos campos que percorro. Já em casa, coloco-as em diferentes jarras, que reflectem o perfume campestre e a exaltação poética da dança das borboletas que estendo até ao infinito.

Monday, June 27, 2011

Cumplicidades


Às vezes vêm de muito longe:
de fatigadas viagens,
de mortes prematuras,
de excessivas solidões.
Mas vêm.
E trazem a inicial pureza das fontes.
E a lâmina do silêncio.
E a desordem da noite.
E a luz extenuada do olhar.
Tão cúmplices, as palavras.

Graça Pires

Friday, June 24, 2011

Festas e santos


Santo António é o primeiro
A trazer a gente à rua,
Santinho casamenteiro,
Juntou o Sol e a Lua.

S. João é o segundo,
Que o Cristo baptizou,
Seus feitos correram mundo,
Mesmo onde não passou.

São Pedro é o terceiro,
Que também é pescador,
Vela pelo mundo inteiro,
É do Céu o guardador.

quadras populares

Thursday, June 23, 2011

Um relance de olhar

A areia é branca e fina, e a praia pequena e calma recebe o sol. Rodeada de arribas, salpicadas de arbustos e pinhal, as suas rochas ganham formas misteriosas que lhe acrescentam magia, e as águas azuis e límpidas convidam-nos a um mergulho neste maravilhoso troço da costa algarvia.

Saturday, June 18, 2011

Sonhar


Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
depois abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar.

Cecília Meireles

Friday, June 17, 2011

Sinais externos

No mundo conturbado de hoje, ou nos deixamos arrastar pelo alarmismo, ou aprendemos a nos salvaguardar. A maior parte dos indícios que nos chegam do exterior influencia-nos ao ponto de nos deixarmos contagiar através de medos, doenças, dificuldades financeiras e todo o tipo de problemas do quotidiano. Activando uma consciência mais elevada, gradualmente diminuímos a velocidade dos pensamentos, focando-nos no aqui e no agora, que nos ajuda a recuperar a qualidade original. Olhar para dentro tentando desenvolver as virtudes do ser, não só nos proporciona boas energias, como beneficia tudo à nossa volta. E, ao investir na espiritualidade, não só me aproximo da verdadeira essência, como canalizo os outros para a sua natureza virtuosa.

Thursday, June 16, 2011

Destaque




Deus não lhe merece maiúsculas, e perante o sofrimento humano causa-lhe toda a revolta. Neste romance satírico o divino provoca-lhe até uma visão irónica da criação. Saramago volta a fazer em «Caim» uma crítica leitura da Bíblia, cujos textos têm suscitado ao longo dos tempos as mais variadas interpretações. Com a finalidade de procurar um sentido para a sua escrita a partir desta história da humanidade, a Biblioteca Municipal Lídia Jorge convidou a Dra. Carina Infante do Carmo - Professora Doutora da Faculdade das Ciências Humanas e Sociais da Universidade do Algarve, no âmbito do seu 6º ciclo de leituras, a dois dias de se comemorar o 1º aniversário da morte de José Saramago. E, como é sua prática, uma vez mais encontramos aqui como que uma reorganização de episódios que, o autor transfere dos textos bíblicos para a contemporaneidade, ao serviço da narrativa que dinamiza o discurso e interpela o leitor. A visibilidade e a projecção da obra de Saramago, tal como a sua importância como humanista, são inequívocas e vão muito para além da sua qualidade literária.

Sunday, June 12, 2011

Nesta data querida

O encontro foi combinado para o final do dia no local escolhido - o Restaurante Fuji, e a ementa era simplesmente divinal. Passo-a-passo, mesmo ali à nossa frente, tudo foi cuidadosamente preparado com os produtos mais frescos servidos de imediato. Uma gastronomia que não cessa de me seduzir pelos seus aromas, cores e sabores. Na véspera de mais um aniversário, não quero deixar de agradecer às amigas presentes o jantar tão especial, que acaba sempre por se converter numa autêntica descoberta.

Saturday, June 11, 2011

Imprevisto


Dum momento para o outro pode entrar
um pássaro que levante o céu
e sustente o olhar.

Alexandre O'Neill
No Reino da Dinamarca

Monday, June 6, 2011

O amanhecer



À luz da alvorada
é o teu nome
que evoco
lentamente.
O que nos distancia
tem a mesma origem
num suave murmurar
onde as imagens e os sons
me entram nos sentidos
onde o teu sorriso
desfaz equívocos
e se estende
ao verde que extasia.

Sunday, June 5, 2011

Movimento verde


Fechar a torneira enquanto lavamos os dentes, ou nos ensaboamos no duche, evitar abrir constantemente o frigorífico, separar as embalagens pelos ecopontos, e dar preferência às lâmpadas económicas, são pequenos gestos do dia-a-dia com efeito à nossa volta. Este é, verdadeiramente, o nosso papel na protecção do planeta. E, porque tudo o que se fizer será pouco, ao adoptarmos tecnologias limpas e agirmos em conjunto utilizamos os recursos de uma forma muito mais sensata, preservando a natureza e respeitando a Terra viva.

Saturday, June 4, 2011

Sentir na pele


Os dedos com que me tocaste
persistem sob a pele,
onde a memória os move.



Luís Miguel Nava

Friday, June 3, 2011

Um olhar de fora



E, porque dizer a verdade é perigoso, foge-se da chuva e fica-se pela aproximação. Neste combate à liderança houve menos cartazes e menos conteúdo. Com alguma energia que resta mobilizável, mas sem interiorização da realidade, apenas a batalha verbal e questões secundárias vieram ao de cima. A solução que vai ser construída perdeu-se numa campanha igual a todas as outras.

… Oh! Se eu soubesse que o Inferno
não era como os padres mo diziam:
uma fornalha de nunca se morrer...
mas sim um Jardim da Europa
à beira-mar plantado...

A Cena do Ódio de Almada Negreiros

Wednesday, June 1, 2011

Durante a Primavera


Não sei como dizer-te que a minha voz te procura
e a atenção começa a florir, quando sucede a noite
esplêndida e casta.
Não sei o que dizer, especialmente quando os teus pulsos
se enchem de um brilho precioso
e tu estremeces como um pensamento chegado. Quando
iniciado o campo, o centeio imaturo ondula tocado
pelo pressentir de um tempo distante,
e na terra crescida os homens entoam a vindima,
– eu não sei como dizer-te que cem ideias,
dentro de mim, te procuram.

Quando as folhas da melancolia arrefecem com astros
ao lado do espaço
o coração é uma semente inventada
em seu ascético escuro e em seu turbilhão de um dia,
tu arrebatas os caminhos da minha solidão
como se toda a minha casa ardesse pousada na noite.
– E então não sei o que dizer
junto à taça de pedra do teu tão jovem silêncio.
Quando as crianças acordam nas luas espantadas
que às vezes caem no meio do tempo,
– não sei como dizer-te que a pureza,
dentro de mim, te procura.

Durante a primavera inteira aprendo
os trevos, a água sobrenatural, o leve e abstracto
correr do espaço –
e penso que vou dizer algo cheio de razão,
mas quando a sombra vai cair da curva sôfrega
dos meus lábios, sinto que me falta
um girassol, uma pedra, uma ave – qualquer
coisa extraordinária.
Porque não sei como dizer-te sem milagres
que dentro de mim é o sol, o fruto,
a criança, a água, o deus, o leite, a mãe,
o amor,

que te procuram.

Não sei como dizer de Herberto Helder