Tuesday, August 30, 2011

O relevo




Erguem-se
debruçadas sobre si
em silêncio absoluto
encadeadas junto ao mar
fixas, imóveis, cheias de irregularidades
transcendentes na procura de formas
que nos adensam o território
ganhando dimensões infinitas
por vezes rochosas
claras e escuras
das cores da terra
como se respirassem
em toda a superfície
que me rodeia
ora renovando-se
ora desfazendo-se
ao menor impacto da ondulação

Sunday, August 28, 2011

Errância


A travessia
traduz-se num deslizar mar adentro
com o leve e ligeiro salpicar a sal
entre rochas escarpadas
de dificil definição
que se confundem
na vastidão de horizontes
De pele queimada e cabelos ao vento
respondo às ondas que me falam
em voz fria
de cores desmaiadas
pulsantes de vida
e ruído esmagador
que vaga após vaga
nada poupam
enquanto a Terra roda
em movimento no infinito
sem se saber o que vem depois

Monday, August 22, 2011

O que traz o Verão






Verdes são os campos,
De cor de limão:
Assim são os olhos
Do meu coração.

Campo, que te estendes
Com verdura bela;
Ovelhas, que nela
Vosso pasto tendes,
De ervas vos mantendes
Que traz o Verão,
E eu das lembranças
Do meu coração.

Gados que pasceis
Com contentamento,
Vosso mantimento
Não no entendereis;
Isso que comeis
Não são ervas, não:
São graças dos olhos
Do meu coração.

Luís de Camões

Sunday, August 21, 2011

Noite luminosa








O mar serviu de enquadramento a mais um concerto sinfónico protagonizado pela Orquestra do Algarve que, a Câmara Municipal de Albufeira patrocina, ano após ano. Luz e sons inundaram a Praia dos Pescadores, percorrendo o espaço, e perdendo-se nos confins do mar em ambiente de festividade. Na edição deste Verão, voltei a deixar-me arrebatar por mais uma noite de encantamento, inspirada pela exuberância e grande forma da Orquestra do Algarve dirigida pelo maestro Cesário Costa.

Sunday, August 14, 2011

Em queda livre





A visão é única e panorâmica. Cerca-me a grandiosidade de penhascos esculpidos pela natureza ao longo dos tempos. A descida vertical, causa-me o maior impacto precipício abaixo, quando a incerteza cresce e o medo domina. Atraída pela beleza do mar com o perigo à espreita, procuro outra percepção do mundo, à descoberta de novos horizontes no abismo infinito.

Monday, August 8, 2011

Raio de sol


Do alto da falésia
tal como duma interminável escadaria
capto de um só olhar
o silêncio que desagua no areal na medida justa
por entre tons e sons do rumor das ondas
que dão cor aos sonhos.
Espeto o garfo no Verão
e saboreio-o devagarinho
acariciada pelo sol
de uma luz maior
deslizando por dias inimitáveis
de sabor a frutas
espraiando a vista
de beleza esfusiante
que marca a conjugação dum tempo
em fracções de segundo.

Wednesday, August 3, 2011

Se



Se houvesse degraus na terra e tivesse anéis o céu,
eu subiria os degraus e aos anéis me prenderia.
No céu podia tecer uma nuvem toda negra.
E que nevasse, e chovesse, e houvesse luz nas montanhas,
e à porta do meu amor o ouro se acumulasse.

Beijei uma boca vermelha e a minha boca tingiu-se,
levei um lenço à boca e o lenço fez-se vermelho.
Fui lavá-lo na ribeira e a água tornou-se rubra,
e a fímbria do mar, e o meio do mar,
e vermelhas se volveram as asas da águia
que desceu para beber,
e metade do sol e a lua inteira se tornaram vermelhas.

Maldito seja quem atirou uma maçã para o outro mundo.
Uma maçã, uma mantilha de ouro e uma espada de prata.
Correram os rapazes à procura da espada,
e as raparigas correram à procura da mantilha,
e correram, correram as crianças à procura da maçã.

Herberto Helder

Tuesday, August 2, 2011

O meu beiral





É com uma ponta de tristeza que, ano após ano, as vejo partir. Desaparecem, assim como vieram, atravessando os céus e sobrevivendo a ventos e marés. As suas moradas nunca são definitivas. Lado a lado, é com fluidez que enveredam por caminhos que dominam o espaço, sem qualquer horror ao vazio, num trajecto que a memória retém, e eu sou privilegiada em testemunhar. Até para o ano.

Monday, August 1, 2011

Chuva de Verão


Como que se infiltra
ressoante
indissociável
restituindo o equilíbrio
e transformando
tudo o que na terra depositamos
Coexistimos
eu e ela
em perfeita união
exaltantes de vida
e sem ceder às chuvas
Correndo atrás de um refúgio
a perder de vista
onde as flores desabrocham
no fim do caminho
e me oferecem o néctar da vida