Em mais um aniversário da nossa amiga Teresinha que, contou
com a presença de tantos convidados especiais, o jantar, no hotel Paraíso, foi descontraído
e animado, terminando com ritmos quentes na pista de dança. Com um brilho nos
olhos, e visivelmente feliz, a noite foi definitivamente dela.
Wednesday, July 31, 2013
Tuesday, July 30, 2013
O Verão é de azulejo
Deixarei os jardins a brilhar com seus
olhos
detidos: hei-de partir quando as flores chegarem
à sua imagem. Este verão concentrado
em cada espelho. O próprio
movimento o entenebrece. Mas chamejam os lábios
dos animais. Deixarei as constelações panorâmicas destes dias
internos.
Vou morrer assim, arfando
entre o mar fotográfico
e côncavo
e as paredes com as pérolas afundadas. E a lua desencadeia nas grutas
o sangue que se agrava.
Está cheio de candeias, o verão de onde se parte,
ígneo nessa criança
contemplada. Eu abandono estes jardins
ferozes, o génio
que soprou nos estúdios cavados. É a cólera que me leva
aos precipícios de agosto, e a mansidão
traz-me às janelas. São únicas as colinas como o ar
palpitante fechado num espelho. É a estação dos planetas.
Cada dia é um abismo atómico.
E o leite faz-se tenro durante
os eclipses. Bate em mim cada pancada do pedreiro
que talha no calcário a rosa congenital.
A carne, asfixiam-na os astros profundos nos casulos.
O verão é de azulejo.
É em nós que se encurva o nervo do arco
contra a flecha. Deus ataca-me
na candura. Fica, fria,
esta rede de jardins diante dos incêndios. E uma criança
dá a volta à noite, acesa completamente
pelas mãos.
Herberto Helder in Cobra - Poesia Toda
Assírio & Alvim 1979
detidos: hei-de partir quando as flores chegarem
à sua imagem. Este verão concentrado
em cada espelho. O próprio
movimento o entenebrece. Mas chamejam os lábios
dos animais. Deixarei as constelações panorâmicas destes dias
internos.
Vou morrer assim, arfando
entre o mar fotográfico
e côncavo
e as paredes com as pérolas afundadas. E a lua desencadeia nas grutas
o sangue que se agrava.
Está cheio de candeias, o verão de onde se parte,
ígneo nessa criança
contemplada. Eu abandono estes jardins
ferozes, o génio
que soprou nos estúdios cavados. É a cólera que me leva
aos precipícios de agosto, e a mansidão
traz-me às janelas. São únicas as colinas como o ar
palpitante fechado num espelho. É a estação dos planetas.
Cada dia é um abismo atómico.
E o leite faz-se tenro durante
os eclipses. Bate em mim cada pancada do pedreiro
que talha no calcário a rosa congenital.
A carne, asfixiam-na os astros profundos nos casulos.
O verão é de azulejo.
É em nós que se encurva o nervo do arco
contra a flecha. Deus ataca-me
na candura. Fica, fria,
esta rede de jardins diante dos incêndios. E uma criança
dá a volta à noite, acesa completamente
pelas mãos.
Herberto Helder in Cobra - Poesia Toda
Assírio & Alvim 1979
Monday, July 29, 2013
Memórias de instantes
Insinuantes,
e entrecortadas pela luz, dum canto da cozinha, tomam-me conta das emoções, extravasando
a exaltação dos encontros diários com a natureza. Na aceleração dos dias,
guardo cada uma destas flores, recuperando as mais fantásticas paisagens, sempre, na
companhia do Rico. E, como as poderia eu perder?
Sunday, July 28, 2013
Saturday, July 27, 2013
Até morrer
Eu não sei senão amar-te,
Nasci para te querer.
Ó quem me dera beijar-te,
E beijar-te até morrer.
Fernando Pessoa
Nasci para te querer.
Ó quem me dera beijar-te,
E beijar-te até morrer.
Fernando Pessoa
Friday, July 26, 2013
Nós e o gato
Às vezes o gato fitava
com estranheza
o que de nós (um excesso)
se interpunha entre nós e o gato,
a nossa presença.
manuel antónio pina in moradas todas as palavras
poesia reunida assírio & alvim 2012
Thursday, July 25, 2013
Fogo de Verão
A boca,
onde o fogo
de um verão
muito antigo cintila,
a boca espera
(que pode uma boca esperar senão outra boca?)
espera o ardor do vento
para ser ave e cantar.
Levar-te à boca,
beber a água mais funda do teu ser
se a luz é tanta,
como se pode morrer?
Eugénio de Andrade
Wednesday, July 24, 2013
Nas nuvens
o tempo, subitamente solto pelas ruas e pelos dias,
como a onda de uma tempestade a arrastar o mundo,
mostra-me o quanto te amei antes de te conhecer.
eram os teus olhos, labirintos de água, terra, fogo, ar,
que eu amava quando imaginava que amava. era a tua
a tua voz que dizia as palavras da vida. era o teu rosto.
era a tua pele. antes de te conhecer, existias nas árvores
e nos montes e nas nuvens que olhava ao fim da tarde.
muito longe de mim, dentro de mim, eras tu a claridade.
como a onda de uma tempestade a arrastar o mundo,
mostra-me o quanto te amei antes de te conhecer.
eram os teus olhos, labirintos de água, terra, fogo, ar,
que eu amava quando imaginava que amava. era a tua
a tua voz que dizia as palavras da vida. era o teu rosto.
era a tua pele. antes de te conhecer, existias nas árvores
e nos montes e nas nuvens que olhava ao fim da tarde.
muito longe de mim, dentro de mim, eras tu a claridade.
José Luís Peixoto in A Criança Em Ruínas, Edições Quasi, 6.ª Edição, 2007
Tuesday, July 23, 2013
Superfícies reais
A partir do momento que,
avistamos os campos de tomilho, avançamos, atraídos pela fragrância
intensa. Colho-o em qualquer ocasião, mas é no Verão que as suas flores miudinhas desabrocham num contínuo fluir da paisagem. Apanho um raminho aqui, e
mais outro ali, para em casa, aromatizar o azeite, e em qualquer altura do ano, dar
um sabor especial aos meus temperos na cozinha!
Monday, July 22, 2013
Crise criativa
Enquanto, com
toda a calma do mundo, se aguardava por revelações, veio-me à ideia aqueles
intermináveis momentos duma época em que, cúmplices, numa metodologia de
movimentos frenéticos, abríamos e fechávamos aquele pedacinho de papel, quando
uma série de partes funcionando como elementos de ligação contribuíam para um
todo. Em rigor, o resultado era sempre inconsequente, e nesta prática
repetitiva havia sempre a possibilidade de refazer as escolhas dos números ou
cores, cujos resultados poderiam gerar diversas leituras e interpretações, reais
ou inventadas, conhecendo o autor ou autora, o seu princípio e o seu fim. Condenados
a que assim se perpetue, a encenação do exercício, nos dias que correm,
demonstra quanta falta nos faz a capacidade de reinvenção na incerteza deste
jogo pouco convincente.
Sunday, July 21, 2013
Saturday, July 20, 2013
Os sons de Cuba
A alegria e sensualidade das
danças latino-americanas distinguem-se por atrair todos que, de uma forma
apaixonada e espírito de grupo, se rendem aos ritmos e sons estimulantes de
tirar o fôlego.
Friday, July 19, 2013
O Bruno
no
início o bruno era o
verbo, depois, veio do fundo
da paisagem e depositou-se em
movimento por toda a parte, apenas
a seguir se criaram os animais e
as plantas e toda a evolução das
espécies aconteceu
Valter Hugo Mãe in Contabilidade
Poesia 1996-2010 - Alfaguara (2010)
verbo, depois, veio do fundo
da paisagem e depositou-se em
movimento por toda a parte, apenas
a seguir se criaram os animais e
as plantas e toda a evolução das
espécies aconteceu
Valter Hugo Mãe in Contabilidade
Poesia 1996-2010 - Alfaguara (2010)
Thursday, July 18, 2013
Wednesday, July 17, 2013
Um inexplicável anseio
É o risco a barreira entre o
certo e o errado? O que nos leva a pisá-lo? O facto que, nesta vida, tudo é
passageiro, precário e frágil, e nos faz pensar que amanhã ninguém se vai
lembrar, quando ou se formos apanhados? Por vezes, é preciso coragem. Um certo
descaramento, até. Admitir, implicitamente, que o pisámos, mesmo vacilando entre hesitações assumidas. Sim,
fui clara, tem tudo a ver com a resistência humana, e aquele instante de desejo
que necessitamos, desesperadamente, de satisfazer.
Tuesday, July 16, 2013
Monday, July 15, 2013
O lado do inconsciente
De há duas semanas para cá,
continuamos a vê-los a toda a hora, por todo o lado, dando asas à sua
imaginação. Desprovidos de racionalidade, e sem que ninguém os compreenda,
exigem o impossível só para nos confundir e provocar. Os seus conceitos são,
por vezes, abstractos, utilizando artifícios desconcertantes, em total ruptura
com a realidade. A forte instabilidade e as suas faltas de autenticidade
tornaram-se uma nova forma de humor que, tudo extravasa sem atingir os
objectivos pretendidos. Insistir na mesma lógica ou optar por novos rumos que
augurem outros resultados, eis a questão.
Sunday, July 14, 2013
A preto e branco
Há dias menos
conseguidos, em que tudo corre mal, e tanta coisa não abona em nosso favor.
Cinzenta e opaca, a vida parece deixar de nos seduzir, ao sentirmos a escuridão
de uma forma mais intensa. O efeito desta história desperdiçada e difícil de
encaixar, com tanta gente infeliz, pode ser de asfixia. Pela frente temos que
tentar adivinhar o que se segue, à espera que caminhos paralelos se toquem,
numa bonita manhã de sol.
Saturday, July 13, 2013
A fuga
Ao perceber que a porta estava apenas encostada, resolveu
entrar.
À primeira vista, a menina, reparou que sobre a mesa havia três
tigelinhas de papa de aveia. Como estava com muita fome, resolveu provar.
Provou, então, a papa da tigela maior, que
pertencia ao pai urso, mas achou-a muito quente.
Provou da tigela do meio, da mãe ursa, e
achou-a muito fria. Provou da tigelinha mais pequena e achou-a tão deliciosa, que
sem resistir comeu a papa toda do bebé urso.
Depois, acabou por adormecer e só
acordou com os gritos dos ursos que, entretanto, tinham regressado a casa. Ficou
assustadíssima quando viu os três, saltou da cama, correu pelo quarto, escapou-se
pela janela e continuou a correr pela floresta, tão depressa quanto suas pernas
permitiam.
Robert Southey in os três ursos, 1837
Friday, July 12, 2013
Actuações
O ritmo é sincopado, com
tanto de subtil quanto de intensidade dramática, quando os movimentos do corpo
adquirem um estilo coreográfico próprio produzindo o som que tão bem conhecemos
de tantos filmes, de uma determinada época. O resultado do sapateado só poderia
ser surpreendente para quem vê e escuta!
Thursday, July 11, 2013
As escamas sem brilho
mente, na fosforescência da sua nudez. Nos inters-
tícios, uma luz rugosa deixa rolar as
escamas sem
brilho dos peixes mortos.
A tarde é um relâmpago apagado, sem fulgor. São
as vésperas da noite, dizem, mas o espaço volatilizou-se,
as estrelas, móveis, tombaram em cascata no fundo
do poço.
É o vazio do círculo, a sua face excêntrica.
Albano Martins in O Mesmo Nome - Campo das Letras, 1996
Wednesday, July 10, 2013
Tuesday, July 9, 2013
Uma beleza maiúscula
Sempre que penso em ti estás a dançar levemente num clima de canela despenteada, ó aroma
vagaroso, desordem aérea, mas a memória tem pressa, o sangue tem pressa
interna, e antes de pensar tremo, e depois tremo, pelo meio desenvolve-se o pavor de uma beleza maiúscula, o coração
corre entre iluminuras rápidas, é uma criança sucessiva nas pautas da musica,
assim escrevo uma nação simultânea, desapareces na respiração do teu vestido,
entretanto a revelação anuncia-se pelo medo, curvas-te como as aldeias
devoradas pela lua, mais tarde sempre que penso em ti estás com um lenço
escrito nas duas mãos, e a tua velocidade abranda junto aos espelhos,
expandes-te assim lentamente gravada, és uma floresta de silêncios visíveis, sempre
que penso penso sempre ao contrário do fim, estás cada vez mais no princípio de
ti mesma, então vejo que nesse lugar é o meu começo eterno, quando danças é um
corpo rodeando a brancura rodeada ou de novo qualquer coisa criminal entre o
cuidado e o espaço, nas linhas puras da solidão arde a cabeça, arde o vento,
atrás de ti as imagens assassinas da noite - estrelas: subversão da noite,
sempre que penso em ti danço até à ressurreição do tempo.
Herberto Helder in Os animais carníveros
Monday, July 8, 2013
Reveses dum jogo
Os dias confundem-se
alimentando desconfianças
num espaço sem espaço
onde a noção do tempo se diluiu
Espartilhados pela rigidez
há um certo sentimento de colapso
no ar
onde os sonhos se perderam
por aí além
resignados à fatalidade
de intensidade dramática
que só acrescenta
mais desespero às nossas vidas
Sunday, July 7, 2013
Coisas de Verão
Só pelo prazer,
mergulho, vagarosamente, neste mar imenso. Dispenso a exposição ao sol, e a
angústia de pensar de dimensão trágica. Tendo em conta que se tornou difícil
aceitar tanta realidade, e perante um vazio ainda maior, opto por multiplicar
as retrospectivas, porque o caminho também se faz flutuando.
Saturday, July 6, 2013
A semente do fruto
Os navegadores gregos espalharam-nas
pela região mediterrânica, e em Fevereiro e Março as inúmeras árvores
proporcionam-nos um deslumbrante espectáculo, ao mesmo tempo que nos anunciam a
Primavera. Nos meus passeios com o Rico, episódios destes repetem-se inscritos
na natureza do olhar. Para o mês que vem, estarão prontas a colher para a
confecção de doçaria e utilização de óleos e essências. Uma autêntica dádiva
dos deuses e verdadeira fonte de inspiração.
Então Israel, seu pai, disse-lhes:
«Se tem que ser assim, que seja! Coloquem alguns dos melhores produtos da nossa
terra na bagagem e levem-nos como presente ao tal homem: um pouco de bálsamo,
um pouco de mel, algumas especiarias e mirra, algumas nozes de pistache e amêndoas.»
Génesis 43:11
Friday, July 5, 2013
Thursday, July 4, 2013
Uma guerra civil
O poema pode conter:
coisas certas, coisas incorrectas, venenos para
manter fora do alcance
excursões campestres, falhas de memória
uma bicicleta caída junto às primeiras paixões
sombrias
Pode conter Le matin, Le midi, Le soir
audácias típicas de um visionário
uma guerra civil
um disco dos Smiths
correntes marítimas em vez de correntes literárias
José Tolentino de Mendonça in O Viajante Sem Sono, Assírio & Alvim
coisas certas, coisas incorrectas, venenos para
manter fora do alcance
excursões campestres, falhas de memória
uma bicicleta caída junto às primeiras paixões
sombrias
Pode conter Le matin, Le midi, Le soir
audácias típicas de um visionário
uma guerra civil
um disco dos Smiths
correntes marítimas em vez de correntes literárias
José Tolentino de Mendonça in O Viajante Sem Sono, Assírio & Alvim
Wednesday, July 3, 2013
O estado de irrealidade
E de repente chegou a Rainha. Quis jogar críquete com Alice,
e foi uma confusão.
O gato fez cair a Rainha...!
Porém, ao levantar-se... ela gritou que lhe faltavam os
brincos!
- Eu não os tirei! Disse a Alice assustada.
- O meu carrasco vai-te cortar a cabeça - anunciou a Rainha.
- Levem-na para a cela! - gritou furibunda.
Nesse momento Alice voltou ao mundo real...!
Tinha tido um pesadelo?
Olhando em volta descobriu o coelho branco junto a uma árvore
florida.
O coelho afinal existia mesmo!
Lewis Carroll in Alice no País das Maravilhas
Tuesday, July 2, 2013
O cenário
Obediente e submisso, ignorou
realidades e acreditou que a austeridade seria a solução, ultrapassando tudo o
que estava previsto, por mera opção ideológica. De crise em crise, e
insatisfeito com os seus próprios resultados, partiu. Exige-se um pouco de
folga, e uma mudança de rumo que permita que a economia, finalmente, cresça.
Monday, July 1, 2013
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