Sunday, August 11, 2013

Mar de Agosto


 Deixa ficar comigo a madrugada,
 para que a luz do Sol me não constranja.
 Numa taça de sombra estilhaçada,
 deita sumo de lua e de laranja.

 Arranja uma pianola, um disco, um posto,
 onde eu ouça o estertor de uma gaivota...
 Crepite, em derredor, o mar de Agosto...
 E o outro cheiro, o teu, à minha volta!

 Depois, podes partir. Só te aconselho
 que acendas, para tudo ser perfeito,
 à cabeceira a luz do teu joelho,
 entre os lençóis o lume do teu peito...

 Podes partir. De nada mais preciso
 para a minha ilusão do Paraíso.


 David Mourão-Ferreira  in Infinito Pessoal ou a Arte de Amar, Guimarães Editores 1963

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