Compreendi hoje, um pouco melhor, o mistério de solidão. A
comunidade tem de estar dispersa, viver na tensão de encontrar-se sem duradouro
encontro, cultivar o poder absoluto de estar só, que só ele é inofensivo; é um
corpo vivo sem jugo; a comunidade é a diáspora.
Por estes dias sentia-me perturbada, dissolvida na água. Sempre
tensa, à procura, em movimento dentro de uma ordem infinita e pré-estabelecida.
O trabalho a realizar quotidianamente é mais forte do que conhecer e escrever;
estou sempre à espera de poder parar, mas a noite é temporária e ponte para um
dia igual. [...]
Maria Gabriela Llansol, Numerosas Linhas - Livro de Horas
III - Assírio & Alvim, 2013
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