Sunday, August 3, 2014

O soluço da fala

Retorna
à escuridão
o rosto: entre centelhas, ficasse tão maduro quando
de te tragar
estremecesses, que o animassem
os elementos: um interior: um limite do mundo,
e se afinasse como um galho de marfim
cheio de lume, que fosse um instrumento
de crescer na terra: um golpe
nela, abraço
com a mão coroada,
até á bolsa com alua dentro,
no ovo está o astro, se pelos dedos
nesse rosto
te plantasses todo na riqueza do sono,
soldado a nervos: osso, feixe de fibras
tímpanos, e as faíscas saltando pelas unhas
as deixassem ígneas,
e a veia arpoasse igneamente a massa
muscular, ou
a aorta sorvesse a matéria
tremenda
ao seu abismo, e te encharcasse até ás pálpebras
essa púrpura por válvulas
contra os dentes. nos fundamentos há
vezes
em que és ligeiro ao movimento da água,
ou nas paredes onde os canos se cruzam
como um corpo onde se cruzam órgãos
tubos, um alento das coisas: dos tecidos
do mundo, e por exemplo se a louça e o inox
brilhados de dentro: à mesa
e a madeira respira mais rápida
e uma grande massa orgânica magnifica
cercada de membros
como um homem
essa pinças na cabeça entre as meninges
extraindo uma estrela,
os canais luminosos da cabeça
iluminam-te todo, iluminas-te
quando se arranca a língua e há um soluço da fala,
levantas-te soberbamente
ao rosto, como a vara
do vedor fica acesa
pelas ramas de água, como que salga
o aparelho do corpo
e o torna substancia
alta giratória ou se fulgura a trama
cristalográfica
terrifica da musica se levanta
entre os dedos e cordas
fundido de sangue e ar no escuro:
música
o medo do poder, esta ferida
tão de um nó de músculos estrangulando
uma leveza
o barro violento, a manobra
das vozes. Fechas os olhos e as
coisas não te vêem,
as mãos brilham-te abertas.



Herberto Helder

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