Entrar de
repente pelos olhos adentro e escancarar
as árvores:
mas aquilo que amaste perdura.
Junto da
água morna os animais aguardam o ruído
vegetal da
noite, e as luzes bocejam
a mansidão
das pernas esticadas: o amor
não tem
tempo, e dura no que amaste.
Dura de
repente nos olhos abertos e
a água que
respira no flanco dos animais
bocejando
devagar a chegada da noite e das
redes e os
passos mornos dos caçadores,
e as luzes
escancaradas do silêncio. Dura
esticado nas
árvores, dura mansamente sem
palavras nem
coisas, sem tempo para
aguardar as
mãos do caçador e as redes
mornas
respirando sobre a água: aquilo
que amaste
perdura.
António Franco
Alexandre in Sem palavras nem coisas - Lisboa: iniciativas editoriais,
1974
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