A poesia de Herberto Helder é
algo que nos transcende. Apesar das suas palavras se caracterizarem pela
obscuridade, há todo um encadeamento, uma musicalidade, um ritmo e um erotismo
na linguagem que, me deslumbram por completo. Não pode haver nada maior. Os
seus livros tiveram edição limitada, e a quem não leu nunca nada, recomendo que
o faça, mas em viva voz. Até o meu rottweiler Rico sabe metade deles de cor! A
notícia da sua morte deixou-me tão abalada que esta tarde dirigi-me à
biblioteca local para trazer um dos seus livros para casa e reler. Como me
pareceu que tivessem mudado de lugar, solicitei a ajuda de um funcionário que
me disse logo desconhecer a personagem e que, a poesia nada lhe dizia!?
Desculpem, mas quando é que este país de pantanas se vai alguma vez virar? Compreendo
que nem todos podemos ter a mesma sensibilidade, que os ordenados são
miseráveis, mas confesso que estranhei uma pessoa trabalhar numa biblioteca sem
se interessar pelo seu conteúdo!? E, então tentei «converter» o jovem, e quase
o obriguei a jurar-me que uma vez em casa iria ao youtube procurar Herberto
Helder, e prometi-lhe que seria impossível que não viesse a sentir qualquer
coisa. Um abalo, um calafrio, uma pedrada ou o que lhe quiserem chamar.
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