Friday, July 31, 2015
Thursday, July 30, 2015
Quem diria?
Wednesday, July 29, 2015
Clube das Letras III
«A desejada noite deslizou envolta no repousante silêncio dos homens e dos insectos»
Alexandra Inês in Mel e Propólis
Monday, July 27, 2015
As vagas do mar
Que é que se muda em nós quando mudamos? De idade, de uma condição, às vezes mesmo de um local? Podem manter-se os mesmos valores, ideologia, relação com a vida. e todavia, aí mesmo, alguma coisa pode mudar. É a mudança que se opera no indizível de nós, onde mora a organização disso tudo, ou seja, o equilíbrio disso tudo. Os valores reordenam-se numa outra ordenação, num outro escalonamento, num modo diverso de os perspectivarmos. Os valores podem permanecer, mas não na face que era a sua ou o lugar que era o seu. E com isso em nós a porção de alma que lhes démos. Ou a aceleração do ritmo da nossa excitação. Não se entenderá assim que a mesma obra seja diferente como a arrumação diferente dos móveis de uma sala? Porque uma obra é o que é, mais o modo de a fazermos ser o que nela somos nós. Mas esse modo é o que ela é afinal. Que é que muda em nós quando mudamos? Uma forma diferente de sermos o mesmo. As vagas do mar. Um céu que se descobre. A pele que se enruga. O ângulo do olhar.
Vergílio Ferreira in pensar - bertrand editora - 2004
Sunday, July 26, 2015
Saturday, July 25, 2015
Friday, July 24, 2015
Sem fuga
Nunca ela pensou viver
esse momento ou sequer vir a transmiti-lo a quem quer que fosse. Mas, quando
aquela criança passou a partilhar o mesmo espaço que ela, ocasionalmente, este
parecia redimensionar-se num sentido muito mais amplo. Não sei se seria da transparência
do olhar, da sua voz doce ou da verdade absoluta das palavras que a cativavam e
remetiam, do fim para o princípio, quando um outro menino, em tudo igual a
este, lhe pertencia em exclusivo.
Wednesday, July 22, 2015
Sonho
Extravasou pro meu dia
Encheu minha
vida
E é dele que eu vou viver
Porque sonho não morre.
Adélia Prado
Sunday, July 19, 2015
Saturday, July 18, 2015
Friday, July 17, 2015
Uma nesga de sol
Nunca te esqueci - é este um amor
maior
que atravessa a vida e resiste à cicatriz
do tempo. O que ontem me disseste agora
o ouço, como se nada tivesse interrompido
a magia do instante em que as nossas bocas
se aguardavam na distância de um beijo e
o olhar tocava o corpo antes da mão. Se
hoje vieres por esse livro que deixaste (e
cuja
lombada acariciei todos os dias que durou a
tua
ausência como uma nesga de sol acaricia um
rosto no inverno), encontrarás a sopa a
fumegar
na mesa, e a camisa engomada no cabide, e os
lençóis da cama imaculados, e um corpo pronto
para qualquer aventura - e ainda o cão deitado
à porta, à tua espera, como na véspera de
partires.
Porque os anos não contam para quem assim ama.
Maria do Rosário Pedreira
Thursday, July 16, 2015
Desejo
Não te beijo e tenho ensejo
Para um beijo te roubar
O beijo mata o desejo
E eu quero-te
desejar.
António Aleixo
Wednesday, July 15, 2015
Tuesday, July 14, 2015
Monday, July 13, 2015
Sunday, July 12, 2015
A fractura
A falta de
conhecimento da História e das consequências que daí poderiam advir
demonstravam a incapacidade de despertar de um pesadelo maior. Divididos, faltava-lhes
a compaixão e a abertura que os transformara em intransigentes personagens. O medo
parecia, ainda, ser a única razão que os movia em busca da solução dum problema
do qual teriam lucrado em juros e que, no final, lhes poderia vir a sair caro.
Friday, July 10, 2015
Thursday, July 9, 2015
Pássaro nulo
Pássaro nulo
a configuração da tua ausência
o corpo a preencher-se
em ressalvas de medo
ao meu lado
doìdamente longe
Dir-te-ia do sólido
confronto que imagino
ou do conforto de te poder ter
em figura de estilo
Ana Luisa Amaral
Wednesday, July 8, 2015
Aquele
aquele que o meu
coração ama
partiu às cegas sem
descobrir
as húmidas palavras
que se espalham
à sombra dos
ciprestes
contando os minutos
que faltam
para a vertigem do
corpo onde o aguardo
Alice Vieira
Tuesday, July 7, 2015
Memórias
Poiso na tua memória. Sorris
Nem tocas com a mão para não me
afugentar
Imóvel fico da tua cor
Teresa Rita Lopes in A fímbria da fala
Monday, July 6, 2015
O exercício da magia
Por isso ele era rei, e alguém
se punha diante da realeza para ter um
pensamento, uma palavra
súbdita: dá-me um nome, uma
baforada
desfere o ceptro contra a minha testa para
eu ver
uma constelação maior que onze varas,
enche de hélio o espaço reservado à minha
glória quando me volto
na escuridão com toda a potência
dos raios, dizia, o torso envolto pelas
ramagens
do fogo,
bate-me na testa e que eu seja a minha
luz, onze
varas de luz para os braços torcidos,
uma camisa aos rasgões brilhantes por
força
da entrada e saída
do ar, porque de ti recebo a soberania e
lanço pela boca
petróleo a arder como no circo dos
prodígios
fazem os reis terríveis,
por isso também eu tenho o poder e o sítio
e o exercício
desta magia: a realeza de uma combustão,
acto, verbo,
e em estado natural os elementos:
madeira, cristal e ouro, e o ar movendo
o poema número a número.
Herberto Helder in Poesia Toda, Lisboa:
Assírio & Alvim, 1996
Sunday, July 5, 2015
Momento-chave
Num mundo sem unidade, o voto foi de
esperança e a palavra de ordem NÃO - expressiva e de coragem, sem se deixar intimidar por parte de poderes instalados e com a firmeza do orgulho nacional.
Saturday, July 4, 2015
Wednesday, July 1, 2015
O mar
tanto me faz, doido de nada
ou doido de tudo, no pasto
do vento, os olhos magros
a recusar imagens, uma
palavra eleita pela boca, um
nome impossível de atribuir, já
deus reclamando a posse do
mundo, já eu na rama do
passado, só um fogo pálido
onde o mar se vem aquecer
valter hugo mãe in três minutos antes de a maré encher - quasi 2000
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