Por isso ele era rei, e alguém
se punha diante da realeza para ter um
pensamento, uma palavra
súbdita: dá-me um nome, uma
baforada
desfere o ceptro contra a minha testa para
eu ver
uma constelação maior que onze varas,
enche de hélio o espaço reservado à minha
glória quando me volto
na escuridão com toda a potência
dos raios, dizia, o torso envolto pelas
ramagens
do fogo,
bate-me na testa e que eu seja a minha
luz, onze
varas de luz para os braços torcidos,
uma camisa aos rasgões brilhantes por
força
da entrada e saída
do ar, porque de ti recebo a soberania e
lanço pela boca
petróleo a arder como no circo dos
prodígios
fazem os reis terríveis,
por isso também eu tenho o poder e o sítio
e o exercício
desta magia: a realeza de uma combustão,
acto, verbo,
e em estado natural os elementos:
madeira, cristal e ouro, e o ar movendo
o poema número a número.
Herberto Helder in Poesia Toda, Lisboa:
Assírio & Alvim, 1996
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