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Thursday, February 12, 2015

À espera da noite

Gasto-me à espera da noite
impraticável
fiel
sugo os lábios da noite
invariável caio
nos poços da noite
Gasto-me à espera da noite alheia
amassada de gargalhadas doces e areia

Luiza Neto Jorge in A noite vertebrada

Thursday, February 5, 2015

Livre de amor

Estou à espera da noite contigo
livre de amor e ódio
livre
sem o cordão umbilical da morte
livre da morte
estou
à espera
da noite


Luiza Neto Jorge in A noite vertebrada

Thursday, January 22, 2015

A noite


Só o amor tem uma voz e um gesto mesmo no rosto da ideia
 que me impus da morte.
    És tu tão único como a noite é um astro. 

Luiza Neto Jorge in Difícil Poema de Amor – Poesia - Assírio & Alvim - 2ª edição – 2001

Wednesday, January 7, 2015

Segredo

Não podendo falar para toda a terra
direi um segredo a um só ouvido


Luiza Neto Jorge

Saturday, December 6, 2014

De um só golpe

Sobre a poeira que te cobre o peito deixo o meu cartão de visita o meu
    nome profissão morada telefone.
     Disse-te: Eis-me.
     E decepei-te a cabeça de um só golpe.
     Não queria matar-te. Choro. Eis-me! Eis-me!

Luiza Neto Jorge in Difícil Poema de Amor – Poesia - Assírio & Alvim - 2ª edição – 2001

Wednesday, November 12, 2014

Horas e desoras

Não me desculpo. Se já me cai o cabelo se já não sinto os ombros é
porque o amor é difícil ou a minha cabeça uma pedra escura que carrego
sobre o corpo a horas e desoras ostentando-a como objecto público sagrado
purulento. O odor que as pedras têm quando corpos. O apocalipse de tudo
quando amamos. O nosso sangue em pó tornado entornado.

Luiza Neto Jorge in Difícil Poema de Amor – Poesia - Assírio & Alvim - 2ª edição – 2001

Monday, October 13, 2014

O abandono

     Calo-me.
     Reparei de repente que não estavas aqui. Pus-me a falar a falar. Coisas
de mulher desabitada.

Luiza Neto Jorge in Difícil Poema de Amor – Poesia - Assírio & Alvim - 2ª edição - 2001

Sunday, September 14, 2014

Interrogação

     
Que há? Abrem-se fendas no ar que respiro vejo-lhe o fundo. Tens os olhos vasados. Qual de nós os dois "quero-Te" gritou?

 Luiza Neto Jorge in Difícil Poema de Amor – Poesia - Assírio & Alvim - 2ª edição - 2001

Monday, August 25, 2014

As ruas velocíssimas

Separo-me de ti nos solstícios de verão, diante da mesa do juiz supremo
dos amantes. Para que os juízes me possam julgar, conhecerão primeiro o
amor desonesto infinito feito de marés ambulantes de espinhos nas pálpebras
onde as ruas são os pontos únicos do furor erótico e onde todos os pontos
únicos do amor são ruas estreitíssimas velocíssimas
que se percorrem como um fio de prumo sem oscilação.


Luiza Neto Jorge in Difícil Poema de Amor – Poesia - Assírio & Alvim - 2ª edição - 2001

Tuesday, August 19, 2014

No solstício de um verão

Nunca te conheci - assim explico o teu desaparecimento. Ou antes:
separei-me de ti no solstício de um verão ultrapassado. As mulheres viajavam
pela cidade completamente nuas de corpo e espírito. Os homens mordiam-
-se com cio. Imperturbável pertenceste-me. Assim nos separámos.



 Luiza Neto Jorge in Difícil Poema de Amor – Poesia - Assírio & Alvim - 2ª edição - 2001

Wednesday, July 30, 2014

Que faremos?

Virás
quando houver uma fala indestrutível devolvida à boca dos mais vivos. Então
virás
vivo também. Sempre esperei ver-te ressuscitado. Desiludiste-me.
 E iremos com o plural de nós nos leitos menores onde o riso, onde o
leito do rio é um filho entre os dois. Que farei de teus braços de meus cabelos
benignos que faremos?

Luiza Neto Jorge in Difícil Poema de Amor – Poesia - Assírio & Alvim - 2ª edição - 2001

Tuesday, June 17, 2014

Precipícios


Ontem antes de ontem antes de amanhã antes de hoje antes deste
número-tempo deste número-espaço uma boca feita de lábios alheios beijou.
      Precipício aberto: ele nada revela que tu já não saibas.
      Porque este contágio de precipícios foste tu que mo comunicaste
maléfico como um pássaro sem bico. 

Luiza Neto Jorge in Difícil Poema de Amor – Poesia - Assírio & Alvim - 2ª edição - 2001

Monday, May 5, 2014

A espera

É a altura de escrever sobre a espera. A espera tem unhas de fome, bico
calado, pernas para que as quer. Senta-se de frente e de lado em qualquer
assento. Descai com o sono a cabeça de animal exótico enquanto os olhos se
fixam sobre a ponta do meu pé e principiam um movimento de rotação em
volta de mim em volta de mim de ti.

Luiza Neto Jorge

Monday, April 14, 2014

Não fujas

Deito-me cedo contigo o meu sono é leve para a liberdade acordas-
-me só de pensares nela. As casas e os bichos apoiam-se em ti. Não fujas não
te mexas: vou fixar-te para sempre nessa posição.

Luiza Neto Jorge in Difícil Poema de Amor – Poesia - Assírio & Alvim - 2ª edição - 2001 

Tuesday, March 25, 2014

Enquanto espero

Enquanto penetrantemente te espero a luz coalhou. Os pássaros
coalharam enquanto te espero. O leite enquanto te espero coalhou. Haverá
outro verbo?
Submersa, muito distante de qualquer inferno de um paraíso qualquer existo
eu. Existirão tais palavras?

Luiza Neto Jorge in Difícil Poema de Amor – Poesia - Assírio & Alvim - 2ª edição - 2001