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Monday, May 16, 2016

Como se fosse possível aos homens desdobrarem-se

O que era vida irreal, é agora realidade,
o que era vergonha, ninharia e ridículo, é vida agora.
O que toma pé são os sonhos,
o que se agita são as paixões desregradas.
Não há limites nem peias.
Vêem-nos como eu te vejo a ti.
Tenho diante de mim este espectáculo,
como se fosse possível aos homens desdobrarem-se
e tomarem corpo, ideias e paixões.
Eles são aquilo que ocultamente desejavam ser,
são o que não se atreviam a ser.
Sob um mundo de verdade há outro mundo de verdade.
É esse mundo invisível e profundo
que passa a ser o inundo visível.
É esse.
Todo o homem é uma série de fantasmas
e passa a vida a arredá-los.
Chegou a vez dos fantasmas.
As nossas ideias e paixões
é que formam as figuras que actuam na vida.

Raul Brandão in Húmus a outra coisa, fragmento

Tuesday, April 10, 2012

À espera

Não grito de desespero porque nem de desespero sou capaz.
A vida antiga tinha raízes, talvez a vida futura as venha a ter.
A nossa época é horrível porque já não cremos - e não cremos ainda.
O passado desapareceu, do futuro nem alicerces existem.
E aqui estamos nós, sem tecto, entre ruínas, à espera…



Raul Brandão in Memórias - I - prefácio