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Tuesday, April 5, 2016

Nunca se tem ninguém

Viver sem amor
 É como não ter para onde ir
 Em nenhum lugar
 Encontrar casa ou mundo.

É contemplar o não-acontecer
 O lugar onde tudo já não é
 Onde tudo se transforma
 No recinto
 De onde tudo se mudou.

Sem amor andamos errantes
 De nós mesmos desconhecidos

Descobrimos que nunca se tem ninguém
 Além de nós próprios
 e nem isso se tem.


Ana Hatherly

Wednesday, December 9, 2015

No meu jardim

Pensar é encher-se de tristeza
 e quando penso
 não em ti
 mas em tudo
 sofro

Dantes eu vivia só
 agora vivo rodeada de palavras
 que eu cultivo
 no meu jardim de penas

Eu sigo-as
 e elas seguem-me:
 são o exigente cortejo
 que me persegue

Em toda a parte
 ouço seu imenso clamor

Ana Hatherly

Thursday, May 8, 2014

Uma torrente de palavras

Um rio de escondidas luzes
atravessa a invenção da voz:
avança lentamente
mas de repente
irrompe fulminante
saindo-nos da boca
 No espantoso momento
do agora da fala
é uma torrente enorme
um mar que se abre
na nossa garganta
 Nesse rio
as palavras sobrevoam
as abruptas margens do sentido


 Ana Hatherly in O Pavão Negro - Assírio & Alvim

Tuesday, May 15, 2012

De rastos

Pensar
é como tactear uma sombra
entrar de rastos
numa profusão de escuros


Ana Hatherly in Fibrilações - Quimera - Lisboa 2005