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Tuesday, October 20, 2015

É tempo ainda

Ama-me. É tempo ainda. Interroga-me.
E eu te direi que o nosso tempo é agora.
Esplêndida altivez, vasta ventura
Porque é mais vasto o sonho que elabora
Há tanto tempo sua própria tessitura.

Ama-me. Embora eu te pareça
Demasiado intensa. E de aspereza.
E transitória se tu me repensas.



Hilda Hilst

Thursday, August 27, 2015

Queiram-me assim

As coisas que procuro
 Não têm nome.
 A minha fala de amor
 Não tem segredo.
  
Perguntam-me se quero
 A vida ou a morte.
 E me perguntam sempre
 Coisas duras.

Tive casa e jardim.
 E rosas no canteiro.
 E nunca perguntei
 Ao jardineiro
 O porquê do jasmim
– Sua brancura, o cheiro.

Queiram-me assim.
 Tenho sorrido apenas.
 E o mais certo é sorrir
 Quando se tem amor

 Dentro do peito.

Hilda Hilst

Thursday, September 11, 2014

Passos

Nave
Ave
Moinho
E tudo mais serei
Para que seja leve
Meu passo
Em vosso
Caminho.

Hilda Hilst  in Exercícios - Trovas de muito amor para um amado senhor I

Friday, October 18, 2013

A todos os outonos

Amor chagado, de púrpura, de desejo
Pontilhado. Volto à seiva de cordas
Da guitarra e recheio de sons o teu jazigo.
Volto empoeirada de vestígios, arvoredo de ouro
Do que fomos, gotas de sal na planície do olvido
Para reacender a tua fome.

Amor de sombras de ocasos e de ovelhas.
Volto como quem soma a vida inteira
A todos os outonos. Volto novíssima, incoerente
Cógnita
Como quem vê e escuta o cerne da semente
E da altura de dentro já lhe sabe o nome.

E reverdeço
No rosa de umas tangerinas
E nos azuis de todos os começos.

Hilda Hilst in Do Desejo - Amavisse IX